domingo, 6 de junho de 2010

Polêmica do dossiê derruba um dos comandantes da campanha de Dilma

DEU EM O GLOBO

Lanzetta tem o nome ligado à contratação de arapongas para espionar Serra; ele nega

Maria Lima e Fábio Fabrini

BRASÍLIA e SÃO PAULO. O agravamento da crise provocada pela suposta montagem de um time de arapongas para produção de dossiês contra o pré-candidato do PSDB, José Serra, provocou ontem a primeira baixa no comando da campanha da précandidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff. Acusado de articular o esquema, o jornalista Luiz Lanzetta, ligado ao ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel e um dos estrategistas da comunicação petista, pediu afastamento. O desfecho tira força do grupo mineiro da campanha do PT, comandado por Pimentel, e fortalece a ala paulista, liderada pelo deputado Antonio Palocci e pelo deputado cassado José Dirceu.

O desligamento de Lanzetta — uma operação para atenuar o desgaste de Pimentel com o episódio — estava sendo preparado desde o início da semana.

Era para acontecer em 30 de junho, quando acabaria o contrato da Lanza Comunicação, empresa de Lanzetta que contratou a maioria dos jornalistas da assessoria de Dilma.

Porém, a publicação de entrevista do delegado aposentado da Polícia Federal Onésimo Sousa à revista “Veja” desta semana precipitou a operação. Onésimo disse que foi convidado para conversa em abril com Pimentel, no restaurante Fritz, em Brasília, mas quem o encontrou foi Lanzetta, que teria proposto a ele montar grupo de espionagem.

Lanzetta estaria suspeitando do deputado Rui Falcão Os alvos seriam Serra e o deputado e ex-delegado da PF Marcelo Itagiba (PSDB-RJ) e a coordenação da campanha petista, por suspeita de vazamento. Lanzetta — um dos responsáveis pela montagem do comitê de comunicação de Dilma, no Lago Sul, em Brasília — suspeitaria do deputado estadual Rui Falcão (PT-SP), coordenador de comunicação da campanha, ligado a Palocci, após o conteúdo de reunião entre seis coordenadores ter vazado à imprensa.

— Primeiro, queriam que a gente identificasse a origem de vazamentos que estavam acontecendo dentro do comitê. Havia a suspeita de que um dos coordenadores da campanha estaria sabotando o trabalho da equipe. Depois, queriam investigações sobre o governador José Serra e o deputado Marcelo Itagiba — afirmou Onésimo à revista, completando: — Era para levantar tudo, inclusive coisas pessoais. O Lanzetta disse que eles precisavam saber tudo o que eles faziam e falavam. Grampos telefônicos...

Segundo revista, serviço custaria R$ 1,6 milhão Lanzetta, segundo Onésimo, estava acompanhado do empresário Benedito de Oliveira Neto, o Bené, e do jornalista Amaury Ribeiro Jr — que investigou esquemas supostamente ilegais ocorridos em privatizações feitas entre 1995 e 2002, na gestão tucana, e prepara um livro.

Onésimo levou ao encontro, segundo o “O Estado de S. Paulo”, o sargento da reserva da Aeronáutica Idalberto Matias de Araújo, conhecido como Dadá, egresso da inteligência da FAB.

O preço do serviço seria de R$ 1,6 milhão, segundo “Veja”, ou R$ 160 mil mensais, a serem pagos sem contrato por Bené. O grupo de espionagem não chegou a ser montado, e os próprios arapongas vazaram o encontro à imprensa.

Procurado pelo GLOBO, Lanzetta, transtornado, negou-se, com palavrões, a dar entrevista.

Em nota, em que anuncia, em caráter unilateral, a rescisão do contrato com a campanha do PT, nega as declarações de Onésimo e dá outra versão para o encontro.

Disse que foi procurado por Onésimo, com um “projeto de trabalho”: monitorar os advesários tucanos. Segundo Lanzetta, o ex-delegado disse que a campanha de Serra estaria produzindo dossiês contra a do PT.

Em entrevista no site da “Folha de S.Paulo”, na tarde de ontem, Lanzetta detalha o encontro e cita o nome do suposto fabricante de dossiês do PSDB: “Eles começaram a falar o que eles têm de serviço. Demonstraram como seguem, como gravam.

Essas coisas todas. Eu comecei a nem prestar mais atenção.

Eles falaram que o Marcelo Itagiba estava fazendo cem dossiês contra a base aliada. Estaria fazendo isso com uma série de ex-agentes da Polícia Federal e da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) no gabinete dele.

Essa informação era o que eles queriam dar e depois se ofereceram para ir atrás disso. Era uma coisa um pouco pirotécnica”.

Na versão de Lanzetta, a proposta foi considerada inaceitável e a reunião, interrompida, sem contatos posteriores com o ex-policial. Ele isenta Dilma e outros coordenadores da campanha de participação no episódio.

Procurado, Amaury não retornou às ligações do GLOBO.

Pimentel confirma versão de apresentada por jornalista Ao GLOBO, Pimentel afirmou que só soube do suposto encontro após a publicação do assunto pela imprensa e confirmou a versão de Lanzetta: — Ele, Lanzetta, disse que foi chamado pelo Onésimo para conversar, que (Onésimo) ofereceu o serviço e ele não aceitou.

Nunca soubemos disso, nunca tivemos nada a ver com isso.

Pimentel assegurou que não conhece e nunca teve contato com Onésimo. Questionado se Lanzetta agiu sozinho, disse: — Totalmente, para ele lá, para a empresa dele. Sei lá o que queria conversar com o cara. O Onésimo o chamou.

Dizendo-se “perplexo, absurdado e indignado” com as denúncias, Pimentel atacou: — É um escândalo. É uma armação completa, uma gigantesca cortina de fumaça. Não sei para que serve, com que objetivo.

É uma calúnia absurda. Tenho 40 anos de militância política.

Nunca me envolvi com esse tipo de gente. Na última vez em que eu falei com a PF, estava preso. Tem 40 anos isso.

Itagiba negou ao GLOBO estar produzindo dossiês, disse que poderá processar Lanzetta e acusou os petistas de inverterem a acusação para se livrarem dela. Ele disse conhecer Onésimo profissionalmente, mas que não mantém contatos com ele.

Afirmou que vai pedir investigações à Procuradoria Geral da República, ao Tribunal Superior Eleitoral e à PF.

— Essas pessoas têm de ser investigadas, para mim são criminosos.

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