quarta-feira, 30 de junho de 2010

Um novo amigo: Berlusconi fala em volta de Lula, que nega

DEU EM O GLOBO

Presidente descarta sugestão de voltar em 2014 e também a intenção de ter cargo na ONU

Flávio Freire

SÃO PAULO. Conhecido tanto pelas declarações quanto pelo comportamento polêmicos, o primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, manteve o estilo ontem em São Paulo. Em uma palestra para 500 empresários, Berlusconi tentou elogiar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva por sua “afinidade com as mulheres” e sugeriu que ele se preparava para voltar à Presidência, no futuro.

— O presidente Lula hoje tem 62 anos. Agora ele vai descansar quatro anos, obrigatoriamente.
Daqui a quatro anos, terá 66 anos e vai poder trabalhar mais oito anos, para o bem do Brasil, para aí chegar na idade de 74 anos jovem e cheio de energia como eu — disse Berlusconi.

Lula rechaçou a sugestão de Berlusconi de que ele gostaria de voltar ao cargo: — Um político mau-caráter prefere que sua oposição ganhe, para poder voltar em quatro anos. Eu ofereço o que eu tenho de melhor, e (a candidata) vai fazer um belíssimo governo e poderá pleitear o cargo mais uma vez. Eu me contentarei em ser cabo eleitoral duas vezes — disse Lula, descontraído.

O premiê italiano destacou a popularidade de Lula e se comparou neste ponto ao colega brasileiro.

— O povo brasileiro sentirá a falta do presidente Lula (quando deixar o cargo). Ele tem o maior índice de popularidade em uma democracia. Ninguém alcança sua popularidade. Gostaria de acompanhá-lo, minha aprovação alcança os 63% de popularidade em toda a Europa — disse.

Lula retribuiu os elogios destacando a proximidade histórica do Brasil com a Itália.

— A diferença entre nós são só o idioma e o passaporte — disse o presidente.

Diante da plateia que lotava o auditório da Fiesp, Berlusconi misturou dois assuntos (mulheres e futebol) para dizer que tinha muito afinidade com o presidente.

— Eu disse para o presidente Lula que sempre tive muita simpatia pelo futebol brasileiro e pelas mulheres.

Ele me disse: “Berlusconi, não me comprometa, sou casado há 35 anos”. Eu achei que o Lula estava dizendo uma coisa, mas pensando em outra quando disse isso — disse Berlusconi, que arrancou gargalhada dos convidados, enquanto Lula ria meio sem graça diante de uma intérprete que traduzia o discurso do primeiroministro italiano.

Berlusconi também aproveitou para fazer média com o futebol brasileiro. Disse que hoje pelo menos 11 importantes jogadores atuam no futebol italiano, e elogiou a atuação de Kaká, que jogou no Milan, time que pertence ao primeiro-ministro.

Também no encontro, Lula descartou a intenção de ocupar um cargo na Organização das Nações Unidas (ONU) ou em qualquer instituição em que possa trabalhar como líder de países em desenvolvimento. Ao comentar artigo publicado no “Financial Times”, informando que Lula teria interesse em liderar uma frente de apoio a países de América do Sul e África, o presidente explicou: — Se o jornal entendeu que, quando falo de trabalhar por outros países, eu estou falando em cargos, é um equívoco. O que eu tenho interesse é em dedicar o meu tempo para visitar países da América do Sul e da África, para trocar experiências de coisas bem-sucedidas no Brasil — explicou o presidente brasileiro.

Diante da especulação sobre o assunto, o presidente foi taxativo: — O Brasil não quer ter ingerência sobre nenhum país — disse Lula, para quem um cargo na ONU, por exemplo, não pode ser exercido por um político que tenha tido tanta importância no cenário mundial. — Nesses cargos, tem que ter um bom burocrata que conheça seu limite.

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