quinta-feira, 29 de julho de 2010

As eleições presidenciais e a evolução do sistema partidário brasileiro

DEU EM O GLOBO

Márcio Grijó Vilarouca

Desde 1994, a disputa pela Presidência vem assumindo um formato bipartidário, por meio da alternância entre o PSDB e o PT. Ao mesmo tempo, é possível verificarmos a concentração da representação em cinco partidos - PMDB, PSDB, PT, DEM e PP - nos diversos tipos de pleitos. Na Câmara e no Senado, estes partidos respondem em média por 71,2% e 81,2% das cadeiras, respectivamente. Mesmo nos pleitos majoritários, esta constatação se mantém, dado que estes partidos detêm 80% dos governos estaduais e 68% das prefeituras. Mas as trajetórias eleitorais de cada um deles são bastante diferentes ao longo do período.

O PT é um caso desviante em relação aos outros, devido à sua peculiar forma de organização partidária e aos nexos que logrou construir com parcelas da sociedade civil. Estes ativos lhe possibilitaram a construção de um rótulo partidário e ideológico que serve de atalho para o eleitor, ao diminuir os custos de obtenção de informação sobre seu desempenho futuro. Nos diversos pleitos, o partido seguiu uma reta ascendente até a vitória de Lula em 2002, com um pequeno e quase imperceptível refluxo em 2006, provavelmente consequência do escândalo de corrupção em 2005.

O PSDB, por sua vez, aumentou sua bancada no Congresso quando venceu a Presidência, em 1994 e 1998, sofrendo declínio em 2002, com a vitória de Lula, mas mantendo-a quase no mesmo patamar na eleição seguinte. Nos pleitos estaduais e municipais, o partido manteve sua representação num patamar estável entre 1998 e 2006. Esta estabilidade no seu desempenho eleitoral, entretanto, contrasta com sua fraca capacidade de firmar uma imagem frente ao eleitorado, fato comprovável pelo baixo nível de identificação partidária que atrai para si. Há uma deficiência séria na construção da imagem partidária, provavelmente devido à insistência exagerada em evocar a ideia tecnocrática de competência, um termo retórico de vagos dividendos.

Pois bem, o DEM seguiu trajetória parcialmente diferente de seu principal parceiro, apresentando sistemático declínio eleitoral nos diversos pleitos, com a notável exceção de sua capacidade de ser rentável na disputa pelas cadeiras do Senado. No período mencionado, o desempenho gráfico do DEM pode ser descrito como uma curva "V" invertida com pico em 1998, e com o ponto mais baixo da trajetória em 2006. Estar fora do poder tem tido um efeito deletério na sua capacidade de reprodução eleitoral, evidência plausível de uma estratégia de sobrevivência muito dependente da patronagem. Também impressiona o declínio contínuo do PP, que em tese disputaria o mesmo espaço do espectro ideológico com o DEM. Por sua vez, o PMDB apresentava declínio substancial em sua força eleitoral até 2002, em todos os pleitos, mas foi bem-sucedido ao reverter esta tendência em 2006, fato que pode parcialmente ser creditado à sua "participação" no primeiro mandato do governo Lula. A rentabilidade da associação ao governo ajuda a explicar a quase unânime adesão do partido à candidata do PT.

Assim, resta claro que os já consolidados PSDB e PT se enfrentam numa disputa acirrada com lastro em vice-candidaturas de partidos com ativos políticos muito diferenciados, dado as tendências de longo prazo esboçadas. No entanto, a aposta mais sensível é a dos partidos mais à direita no espectro político, o DEM e o PP, que terão sua sorte muito influenciada pelo resultado das próximas eleições presidenciais. Já o PMDB estará, por certo, no próximo governo, qualquer que seja.


Márcio Grijó Vilarouca é cientista político

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