terça-feira, 27 de julho de 2010

'Fazemos filantropia com o Paraguai'

DEU EM O GLOBO

Serra critica acordo do governo Lula com país vizinho e diz que dinheiro devia ser investido no Nordeste

Silvia Amorim

SÃO PAULO. Para uma plateia de cerca de 500 empresários, em São Paulo, o candidato a presidente José Serra (PSDB) defendeu ontem que o governo federal deixe de fazer filantropia com países vizinhos, como Paraguai e Bolívia, e destine o dinheiro a investimentos em áreas carentes do Nordeste. O tucano criticou o acordo fechado entre o presidente Lula e o presidente paraguaio, Fernando Lugo, para ampliar a remuneração do vizinho na comercialização de energia da hidrelétrica de Itaipu.

Estamos fazendo, sem dúvida, filantropia com o Paraguai, a Bolívia. Só me pergunto por que não em Sergipe, no Piauí, no Maranhão? Tem muitos lugares para se fazer coisas criticou o tucano, no último almoço-debate da série com os três principais presidenciáveis organizado pelo Grupo de Líderes Empresariais (Lide), que representa 43% do PIB privado do país

Brasil desperdiça tempo com o Oriente Médio, diz Serra Ao criticar diretamente a candidata Dilma Rousseff (PT), Serra disse ao empresariado que, se a adversária for eleita, as invasões de terra pelo MST vão crescer.

O MST é um movimento de acumulação de forças revolucionário.

O Stédile declarou apoio a Dilma. E por quê? Isso está dito.

Porque, com ela, vão poder fazer mais invasões, mais agitação disse, referindo-se ao líder do movimento João Pedro Stédile.

Em relação ao Paraguai, Serra criticou especificamente o acordo pelo qual o Brasil vai aumentar em 15% a remuneração pela energia do Paraguai em Itaipu binacional.

Perguntado após o evento, sobre que tipo de relação teria com o Paraguai, Serra disse que seria a melhor possível, mas baseada em lances políticos mais construtivos.

Creio que há outros lances políticos mais construtivos e adequados na relação Brasil-Paraguai, que são de cooperação, financiamentos, mais do que abrir um precedente de quebra de tratado que, no futuro, pode trazer problemas.

No mês passado, Lula pediu agilidade ao Senado na aprovação do acordo feito com Lugo, que revê os termos dos repasses de arrecadação da hidrelétrica.

As críticas de Serra em relação à política externa de Lula não ficaram restritas a esse caso.

Em um pronunciamento de quase uma hora e meia, o candidato disse o Brasil desperdiça tempo com o Oriente Médio enquanto deveria se concentrar na América do Sul. Serra disse que é inegável que o governo brasileiro tem simpatia pelo presidente da Venezuela, Hugo Chávez, a quem acusou de abrigar guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).

Essa crise na Venezuela e Colômbia, é inegável e indiscutível que o Brasil sempre teve mais simpatia pelo Chávez. Isso é óbvio. É inegável que o Chávez abriga as Farc. É inegável que, se o Brasil tivesse gasto o tempo que gastou no Oriente Médio com a América do Sul, poderia ter evitado situações como essas que estão acontecendo agora.

Tucano volta a dizer que Dilma é despreparada Sem citar o nome de Lula, Serra também condenou a postura do Brasil no caso dos presos políticos em Cuba, sendo aplaudido.

O Brasil tem que estar à frente da questão dos direitos humanos. É amigo de Cuba? Muito bem. Então usa essa amizade para libertar os presos cubanos. Não deixa isso para a Espanha cutucou.

O tucano também não poupou artilharia contra a atual política econômica. Serra disse que Lula conduz um tripé maligno na economia.

O problema que nós temos adiante é o tripé maligno da economia brasileira afirmou, explicandose: Tem um tripé bom e outro ruim. O bom é o clássico da política econômica, feito basicamente pelo Armínio Fraga quando entrou no Banco Central, que é o tripé da flexibilidade cambial, da responsabilidade fiscal e das metas de inflação.

Eu acho que esse é um tripé importante a ser preservado e ser melhor administrado. Mas tem um outro tripé, muito perverso, que são três campeonatos mundiais: o maior juro real do mundo, a maior carga tributária do mundo em desenvolvimento e um dos últimos em investimento governamental.

O presidenciável voltou a dizer que Dilma Rousseff é mal preparada para ser presidente.

Ao criticar a alta carga tributária no Brasil a maior do mundo em desenvolvimento ele afirmou: Outro dia, a Dilma disse que isso era muito bom, que o Brasil era apenas intermediário.

Mas a assessoria dela deixou de informá-la que a gente deve comparar o Brasil com países em desenvolvimento equivalente. Não posso comparar o Brasil com a Suécia.

O empate técnico entre Dilma e Serra na pesquisa Datafolha divulgada neste fim de semana reforçou entre os tucanos a necessidade de pôr em prática, o quanto antes, o discurso de que o eleitor não deve optar pelo desconhecido, numa clara referência à experiência reduzida da petista na área pública.

Sérgio Guerra: horário eleitoral será divisor de águas Após encontro com Serra, o presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), disse que o horário eleitoral gratuito no rádio e na TV será um divisor de água na disputa acirrada entre os dois. Guerra disse que o partido vai reforçar durante as propagandas políticas a ideia de que o eleitor não conhece Dilma, e que votar nela é lançar o país num processo de continuidade, e não de avanço.

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