segunda-feira, 5 de julho de 2010

Lula encontra ditador no último giro pela África

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Em sua última viagem a países africanos antes de deixar o Palácio do Planalto, o presidente Lula terá hoje encontro com o ditador da Guiné Equatorial.

Obiang Nguema Mbasogo, há 31 anos no poder, é acusado de enriquecimento e crimes contra os direitos humanos, relata a enviada Ana Flor. A capital do país é vigiada por tanques.


Lula se reúne com ditador africano para selar acordos

Presidente da Guiné Equatorial reivindica entrada do país na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa

Diálogo com Mbasogo sofre críticas; Itamaraty afirma que há "chances de o Brasil influenciar" positivamente o país

Ana Flor
ENVIADA ESPECIAL À GUINÉ EQUATORIAL
Em visita oficial à Guiné Equatorial, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva passa a manhã de hoje reunido com o ditador Obiang Nguema Mbasogo.

O objetivo é negociar a entrada do país na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e acordos de comércio -em especial de produtos industrializados.

Ontem, ao chegar ao país, Lula foi recebido pelo presidente na porta do avião e por dezenas de pessoas com bandeirinhas do Brasil e da Guiné Equatorial e camisetas com estampa de ambos os presidentes, lado a lado.

A Guiné Equatorial é uma república com eleições a cada sete anos -o presidente pode se reeleger quantas vezes quiser. Independente da Espanha desde 1968, foi por um golpe que Mbasogo tomou o poder do país em 1979.

Desde então, é acusado de reprimir e matar opositores e manter o poder com violência. Pelas ruas da capital Malabo circulam policiais armados com fuzis AK-47 e tanques de guerra. Desde os anos 1990, quando descobriu petróleo, o país tem um dos maiores PIBs da África, mas os índices de desenvolvimento humano, alfabetismo e expectativa de vida não acompanharam.

O país ainda sofre com doenças tropicais, como malária e febre tifoide.

Mbasogo, entretanto, é considerado um dos mandatários mais ricos do mundo.

INTEGRAÇÃO

Segundo um diplomata brasileiro que acompanha a missão, a opção do Brasil é "por integrar, não isolar", como agem outros países. Já os empresários afirmam que o Brasil não deve fechar as portas do comércio bilateral. Segundo o diretor do Departamento de Promoção Comercial do Itamaraty, Norton Rapesta, "há mais chances de o Brasil influenciar" positivamente o país com uma relação próxima. O apoio de Lula à entrada do país na CPLP é questionado. Apesar das duas principais línguas oficiais serem o espanhol e o francês, a Guiné reivindica o posto por ter o português como predominante em uma de suas ilhas.

Lula deixou ontem Cabo Verde, onde conversou com o presidente e o primeiro-ministro do país para que a Petrobras faça a prospecção de petróleo nas ilhas. Disse que, ao voltar ao Brasil, irá conversar com a direção da estatal para que inicie conversas com o país africano.

Lula segue hoje para o Quênia. Amanhã viaja para a Tanzânia e depois vai à Zâmbia. O giro africano termina na África do Sul.


A convite do Planalto, a repórter Ana Flor viajou de Cabo Verde à Guiné Equatorial numa aeronave da Força Aérea Brasileira

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