quinta-feira, 15 de julho de 2010

Lula se desculpa e desafia lei de novo

DEU EM O GLOBO

Como no dia anterior, o presidente Lula voltou ontem a fazer campanha para a candidata do PT, Dilma Rousseff, em evento oficial, desafiando a Justiça Eleitoral. Ao discursar no fim da reunião da Cúpula Brasil/União Europeia, no Itamaraty, ele chegou a se desculpar por ter elogiado Dilma no lançamento do edital para a construção do Trem de Alta Velocidade, anteontem, no CCBB, sede provisória do governo federal. Mas, em seguida, disse que tinha a "obrigação moral" de fazer um "reconhecimento histórico" de que Dilma foi responsável por "todo o trabalho para que a gente pudesse publicar o edital do trem-bala". Desta vez, a menção a Dilma foi feita diante do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Ricardo Lewandowski, um dos convidados para o evento. Os adversários reagiram. José Serra disse que Dilma "não consegue andar sobre as próprias pernas"; Marina disse que o respeito à lei deve "vir do alto".

Desculpa e reincidência

Lula volta a exaltar Dilma ao se explicar sobre elogio à candidata em evento oficial

Luiza Damé, Adriana Vasconcelos e Gerson Camarotti

Depois de ter exaltado sua ex-ministra e candidata à Presidência, Dilma Rousseff (PT), em evento oficial sobre o trem-bala, desafiando a Justiça Eleitoral, o presidente Lula ontem repetiu o gesto, desta vez na frente de autoridades estrangeiras e até do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Ricardo Lewandowski. Ao se desculpar por ter citado Dilma no evento oficial da véspera, Lula foi ainda mais enfático nos elogios durante entrevista no Itamaraty, ao final da reunião da Cúpula Brasil/União Europeia.

- Não tenho por hábito desafiar nem o mais humilde dos brasileiros, quanto mais desafiar uma legislação que nós mesmos criamos no Congresso Nacional. Possivelmente eu tenha cometido uma falha, mas acho que era preciso que a gente não tratasse a citação de fatos históricos como aproveitamento de questão eleitoral. Fiquei quase que na obrigação moral de dizer que quem tinha começado a trabalhar a questão do trem-bala, começar o projeto e a discutir tinha sido a companheira Dilma - disse ele ontem, referindo-se ao evento da véspera, realizado no CCBB, sede provisória da Presidência.

- O dado concreto é que vocês, como jornalistas, sabem que foi ela (Dilma) que começou, que trabalhou, que organizou e fez todo o trabalho para que a gente pudesse publicar o edital do trem-bala - disse Lula, que completou:

- Se eu cometi um erro político, eu peço desculpas, mas a intenção era apenas fazer um reconhecimento histórico a quem trabalhou para concluir uma coisa.

O presidente já foi multado seis vezes por fazer campanha eleitoral para Dilma fora do período legal. Agora, pela legislação, a campanha já começou, mas não pode ser feita em eventos oficiais de governos.

PSDB estuda se entra com ação

Ao final da entrevista, Lewandowski evitou avaliar o comportamento do presidente. Argumentou que, se houver alguma representação, o TSE vai julgar:

- Vamos examinar esse caso quando chegar ao TSE. Tudo depende do contexto e das provas que integram o processo. O TSE não age, reage. Quando houver alguma impugnação, algum processo em relação a esse pronunciamento, examinaremos essas declarações dentro do contexto em que foram pronunciados.

Os tucanos rejeitaram a desculpa de Lula. Para o deputado Jutahy Júnior (PSDB-BA), "muita gente já perdeu o mandato" por ações semelhantes à de Lula, anteontem, na cerimônia do CCBB.

- A lei eleitoral é claríssima quando estabelece que nenhum candidato pode chegar nem perto de um evento financiado com recursos públicos. Muito menos alguém pedir votos em uma cerimônia dessas. É um crime gravíssimo - afirmou Jutahy.

O PSDB estava em dúvida, até o início da noite, se ingressaria com nova ação na Justiça Eleitoral contra o presidente. Havia a expectativa de que o Ministério Público Eleitoral tome essa iniciativa, até porque estaria caracterizado crime de abuso do poder político, o mesmo que justificou a cassação de governadores.

Já o PT defendeu Lula:

- Existe exagero de interpretação da Justiça Eleitoral quando ele cita Dilma num discurso. Qual o problema? Ele não falou nenhuma mentira - reagiu o líder do governo, Cândido Vaccarezza (PT-SP).

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