DEU NA FOLHA DE S. PAULO
À medida que se difundiu para fora do "entourage" presidencial e para fora do PT, o crescimento de Dilma foi tendencialmente menor
À medida que se difundiu para fora do "entourage" presidencial e para fora do PT, o crescimento de Dilma foi tendencialmente menor
Para os adeptos da dialética estatística, as eleições são um livro aberto, repleto de grandes números: 73% sabem que Dilma é a candidata de Lula, com 80% de aprovação; 50% votariam na candidata do presidente, 70% dos quais votariam nela se a eleição fosse hoje.
Mas as eleições não são hoje. E a estatística não é dialética. Se bastasse ser reconhecida por 73% do eleitorado como candidata de Lula, que tem 80% de aprovação, Dilma deveria ter hoje 58% das intenções de voto. Mas não tem.
Dados recentes da pesquisa Ibope, publicados no jornal "O Estado de S. Paulo" (26/6/10), mostram que o apoio de Lula explicaria mais de 80% dos 40% de preferência por Dilma, de um total de 48% do eleitorado que diz votar no candidato de Lula. Mas uma parte desses fiéis lulistas (11% do eleitorado total) não prefere votar em Dilma.
Isso nos deixa com 37 pontos percentuais (p.p.) (48% -11%), uma boa estimativa da transferência real de Lula. Dilma colhe 3 p.p. adicionais no Ibope e, no Datafolha de 2 de julho, 2 p.p., atribuíveis a erro estatístico.
E tudo o que seu mentor logrou, em quase oito anos de governo e dois anos de campanha aberta e diuturna, foi dividir o eleitorado em dois blocos equivalentes e excludentes, 48% que querem votar em quem ele mandar e 47% que não querem.
E, por iniciativa do próprio Lula, seu eleitorado está polarizado com o eleitorado não lulista, já ocupado política e eleitoralmente pelas candidaturas de Marina e, especialmente, de Serra.
Mais grave é o fato de que o eleitorado lulista está em queda, de 53% que preferiam votar no candidato de Lula em março, para 48% em junho, perda de 5 pontos.
À contrapelo da opinião corrente, a curva do reconhecimento de Dilma como candidata oficial (mais 20 p.p. entre março e junho) é inversamente proporcional à da inclinação para votar na candidatura oficial (menos 5 p.p. no mesmo período) que, por sua vez, é inversamente proporcional ao crescimento das intenções de voto na candidata (mais 7 pontos percentuais).
Enquanto se difundiu a partir do próprio Lula e seus acólitos, o aumento do reconhecimento de Dilma como candidata oficial beirou os 100%. À medida que se difundiu para fora do "entourage" presidencial e para fora do PT, o crescimento foi tendencialmente menor.
À medida que seu reconhecimento alcança taxa muito elevada na sociedade, o nível de adesão à sua candidatura cai, pois passa a competir, cada vez mais, com os adversários e os que os apoiam.
Se a queda de 53% a 48% -na inclinação para seguir o que Lula mandar- se repetir nos próximos três meses, persistindo também os 11 p.p. que dizem votar em quem Lula apoiar, mas de fato não preferem Dilma, a transferência real de Lula se reduzirá a 32 p.p. do eleitorado da petista, que, para crescer, dependerá de seus próprios méritos e talentos.
Tarefa demasiado árdua.
Seu espaço para crescer está virtualmente esgotado e eu não me surpreenderia se ela andasse... para trás. A bênção do lulismo transforma-se em maldição. A síntese dialética só poderá vir das urnas...
José Augusto Guilhon Albuquerque, 69, é professor titular de Ciência Política e Relações Internacionais da USP.
Mas as eleições não são hoje. E a estatística não é dialética. Se bastasse ser reconhecida por 73% do eleitorado como candidata de Lula, que tem 80% de aprovação, Dilma deveria ter hoje 58% das intenções de voto. Mas não tem.
Dados recentes da pesquisa Ibope, publicados no jornal "O Estado de S. Paulo" (26/6/10), mostram que o apoio de Lula explicaria mais de 80% dos 40% de preferência por Dilma, de um total de 48% do eleitorado que diz votar no candidato de Lula. Mas uma parte desses fiéis lulistas (11% do eleitorado total) não prefere votar em Dilma.
Isso nos deixa com 37 pontos percentuais (p.p.) (48% -11%), uma boa estimativa da transferência real de Lula. Dilma colhe 3 p.p. adicionais no Ibope e, no Datafolha de 2 de julho, 2 p.p., atribuíveis a erro estatístico.
E tudo o que seu mentor logrou, em quase oito anos de governo e dois anos de campanha aberta e diuturna, foi dividir o eleitorado em dois blocos equivalentes e excludentes, 48% que querem votar em quem ele mandar e 47% que não querem.
E, por iniciativa do próprio Lula, seu eleitorado está polarizado com o eleitorado não lulista, já ocupado política e eleitoralmente pelas candidaturas de Marina e, especialmente, de Serra.
Mais grave é o fato de que o eleitorado lulista está em queda, de 53% que preferiam votar no candidato de Lula em março, para 48% em junho, perda de 5 pontos.
À contrapelo da opinião corrente, a curva do reconhecimento de Dilma como candidata oficial (mais 20 p.p. entre março e junho) é inversamente proporcional à da inclinação para votar na candidatura oficial (menos 5 p.p. no mesmo período) que, por sua vez, é inversamente proporcional ao crescimento das intenções de voto na candidata (mais 7 pontos percentuais).
Enquanto se difundiu a partir do próprio Lula e seus acólitos, o aumento do reconhecimento de Dilma como candidata oficial beirou os 100%. À medida que se difundiu para fora do "entourage" presidencial e para fora do PT, o crescimento foi tendencialmente menor.
À medida que seu reconhecimento alcança taxa muito elevada na sociedade, o nível de adesão à sua candidatura cai, pois passa a competir, cada vez mais, com os adversários e os que os apoiam.
Se a queda de 53% a 48% -na inclinação para seguir o que Lula mandar- se repetir nos próximos três meses, persistindo também os 11 p.p. que dizem votar em quem Lula apoiar, mas de fato não preferem Dilma, a transferência real de Lula se reduzirá a 32 p.p. do eleitorado da petista, que, para crescer, dependerá de seus próprios méritos e talentos.
Tarefa demasiado árdua.
Seu espaço para crescer está virtualmente esgotado e eu não me surpreenderia se ela andasse... para trás. A bênção do lulismo transforma-se em maldição. A síntese dialética só poderá vir das urnas...
José Augusto Guilhon Albuquerque, 69, é professor titular de Ciência Política e Relações Internacionais da USP.
Excelente artigo, vou reproduzir em meu blog.
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