domingo, 18 de julho de 2010

O eleitor volátil e a propaganda :: Márcia Cavallari Nunes e Silvia Cervellini

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Análise de resultados de uma série de três pesquisas mostra que mulheres e jovens tendem a oscilar mais ao manifestar sua intenção de voto

O Ibope Inteligência realizou e divulgou três pesquisas nacionais sobre a sucessão presidencial em um intervalo de menos de um mês. Constatamos um empate total entre os dois principais candidatos, Dilma Rousseff e José Serra, na primeira e na última pesquisa, enquanto a rodada do meio do período apontava vantagem estatisticamente significativa para a candidata do PT.

É conhecida a imagem usada pelos especialistas para descrever o significado dos resultados das pesquisas eleitorais, como "um retrato do momento". Por trás dessa metáfora do retrato existe um fenômeno muito real e importante conhecido na ciência política como "volatilidade" do voto ou do eleitor. A volatilidade é mais presente em períodos pré-campanha eleitoral, e, quanto maior ela for, maior a dificuldade para precisar os resultados finais de uma eleição.

A volatilidade, porém, não é homogeneamente distribuída em todo o eleitorado. Em cada sociedade, por conta de fatores culturais, históricos e políticos, alguns segmentos sociais apresentam um grau maior de volatilidade, ou seja, uma variabilidade acima da média nas intenções de voto. Além disso, o contexto de cada disputa eleitoral e até mesmo os diferentes momentos de uma campanha podem resultar em diferentes segmentos com maior volatilidade.

No Brasil, considerando as últimas eleições para presidente e para governador, temos observado sistematicamente uma volatilidade acima da média entre os eleitores mais jovens, que muitas vezes estão votando pela primeira vez. Ao mesmo tempo, as eleitoras brasileiras tendem a demorar mais para decidir o seu voto e, quando os homens já apresentam uma tendência mais estável, ainda observamos oscilações significativas entre as mulheres.

Essa maior volatilidade de jovens e mulheres pode ser confirmada nos resultados dessas três pesquisas recentes do Ibope Inteligência. Entre as mulheres a intenção de votar em Dilma cresceu de 33% para 37% entre a rodada do início de junho e a do meio do mês. Em seguida, a intenção de voto para Serra subiu 4 pontos porcentuais (de 37% para 41%) na rodada do final do mês, em detrimento de Dilma, cuja intenção de voto entre as eleitoras é hoje 3 pontos porcentuais inferior à registrada na pesquisa anterior. Já entre os homens, os porcentuais sofrem oscilações residuais.

O mesmo movimento é verificado entre os eleitores mais jovens, entre 16 e 24 anos, segmento no qual a intenção de voto de Dilma Rousseff subiu 6 pontos (de 34% para 40%) entre a pesquisa realizada no começo de junho e a do meio do mês e caiu 4 pontos (de 40% para 36%) entre esta e a última pesquisa. Ao mesmo tempo, aumentou em 7 pontos a intenção de voto de José Serra nesta parcela do eleitorado, atingindo 44% no final de junho.

Muitos fatores podem ter favorecido essas movimentações do eleitorado nesse período de praticamente 30 dias, mas a maior curiosidade refere-se ao impacto das propagandas partidárias veiculadas desde maio. Tivemos os programas e as inserções do PT na primeira quinzena de maio, depois a comunicação do DEM e por último o programa e as inserções do PSDB na segunda quinzena de junho.

Segundo estimativas do Ibope Mídia, a exposição do eleitorado brasileiro foi equivalente para a propaganda partidária do PT e do DEM e o alcance das inserções (comerciais ao longo da programação durante vários dias) foi quatro vezes maior do que o do programa (veiculado um dia só). Por outro lado, o alcance do programa eleitoral do PSDB foi cerca de 10% maior do que o do PT.

Em duas pesquisas perguntamos se "nas duas últimas semanas" o entrevistado tinha assistido/ouvido comerciais ou programas em que aparecia algum dos candidatos a presidente. O crescimento da exposição declarada às propagandas de José Serra entre início e final de junho foi significativamente maior entre mulheres, eleitores com nível superior, eleitores com renda familiar de até um salário mínimo, eleitores das regiões Norte/Centro-Oeste e Sudeste.

Desses cinco segmentos do eleitorado mais impactados pela propaganda do PSDB, três correspondem aos que identificamos como mais voláteis. Pode-se concluir, portanto, que, para as mulheres, eleitores com nível superior e eleitores do Sudeste, as propagandas partidárias provocaram movimentos relevantes, provavelmente potencializados pela volatilidade desses segmentos no contexto da disputa entre Dilma Rousseff e José Serra.


Diretora Executiva e Diretora de Atendimento e Planejamento do Ibope, respectivamente.

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