sexta-feira, 2 de julho de 2010

O jogo da sucessão ainda não está jogado

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Nas eleições de 2002 e 2006, apesar de as condições objetivas serem favoráveis a Lula, não houve uma lavada

Se imperasse o determinismo econômico, era de esperar que Dilma estivesse a ponto de liquidar a fatura

Vinicius Mota
Secretário de redação

Ao final de 2010, a atividade econômica ao longo do segundo mandato de Lula terá crescido, em média, perto de 4,5%ao ano, cifra que cai para 4%, considerados os oito anos. Desde a ditadura militar -no quarto de século até 1980, o Brasil cresceu 7,5% ao ano- não se registra resultado tão positivo. Quanto menor a renda, mais depressa ela cresce, o que diminui a desigualdade de salários.

A recente Pesquisa de Orçamentos Familiares, do IBGE, mostrou que a pobreza é menor que se imaginava. Há uma geração não se vê taxa de desemprego, em torno de 7%, tão baixa. A popularidade do presidente da República bateu novo recorde de alta.

Se imperasse o determinismo econômico em eleição, era de esperar que a candidata da situação estivesse a ponto de liquidar a fatura no primeiro turno.Mas, a 94 dias do pleito, Dilma Rousseff continua empatada com José Serra.

As eleições de 2002 e de 2006 mostraram a dificuldade de ocorrerem lavadas na eleição presidencial brasileira.

Nos dois pleitos- em ambos as chamadas condições objetivas favoreciam Lula-, o tucano derrotado teve pouco menos de 40% dos votos válidos no segundo turno. Serra é competitivo porque mantém frente de 11 pontos percentuais no Sudeste, na hipótese de segundo turno contra Dilma. Em 2006, Lula bateu Geraldo Alckmin por 14 pontos na região.

Serra também supera o desempenho de Alckmin no Nordeste. Tem 35% (39%, desprezadas intenções de voto em branco, nulo e indecisos), contra 54% (ou 61%, fazendo a mesma subtração) da petista.

No 2º turno de 2006, o candidato tucano obteve apenas 23 de cada 100 votos válidos nordestinos. É muito mais difícil explicar o fenômeno sociológico que sustenta uma divisão quase ao meio do eleitorado brasileiro.

Circulou, faz pouco tempo, a tese de que os petistas souberam cativar um certo conservadorismo das classes populares que iam ganhando poder de consumo -e isso teria desequilibrado a balança o suficiente para reeleger Lula.

Não terá, contudo, esse ganho de status recente operado uma certa "sudestização" de todo o eleitorado brasileiro?

Quando as necessidades mais básicas da maioria das famílias deixam aos poucos de ser um tema central, não terá a disputa eleitoral mudado de parâmetros? Aspectos como os valores (culturais, morais, sociais) não passariam a ter mais relevo?

Não sabemos. Sabemos apenas que o jogo que vai definir o sucessor de Lula, apesar da impressionante maré favorável da economia, não está jogado.

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