quarta-feira, 28 de julho de 2010

À procura dos seus próprios eleitores:: Rosângela Bittar

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Um bom desafio para este momento da campanha eleitoral se coloca para o candidato do PSDB à Presidência, José Serra, a partir de algumas demonstrações da última pesquisa de intenção de voto do Datafolha. Seu enfrentamento não parece ser um enigma, mas se fosse fácil os marqueteiros já teriam, certamente, encontrado a fórmula. Trata-se da conquista, ou a reconquista, do eleitorado que há quatro anos votou em Geraldo Alckmin (PSDB), o candidato da oposição ao presidente Lula (PT), no primeiro turno da eleição de 2006.

Além de estar no exercício do cargo, Lula então nem precisava dispender o esforço atual para transferir prestígio, popularidade e carisma a outro, no caso a candidata do PT em 2010, Dilma Rousseff.

O desafio se arma na leitura de análises comparativas feitas entre a campanha da oposição, hoje, e a campanha da oposição, há quatro anos atrás. Estudo do sociólogo Antonio Lavareda, da MCI, feito sobre os resultados da pesquisa do Datafolha divulgada no último fim de semana, compara as intenções de voto em José Serra, hoje, antes da campanha pela TV, e em Geraldo Alckmin, em 2006, ao fim da votação em primeiro turno. O que se evidencia desse trabalho é que não está com Serra, ainda, a totalidade do eleitorado que votou no principal candidato de oposição a Lula, em 2006. Uma das reflexões da análise é que esse eleitor é possível, há espaço para a oposição crescer, sobretudo em São Paulo.

No exercício em questão, Lavareda desconta os eleitores indecisos, os votos em branco e os nulos, para encontrar os números a serem comparados. Assim, Serra tem hoje 43% das intenções de voto, Dilma 42% e Marina Silva (PV) 12%.

Serra se encontra, antes de ser iniciada a propaganda de TV, no mesmo patamar em que Geraldo Alckmin terminou o primeiro turno contra Lula, em 2006. Ele recebeu arredondados 42%, um ponto abaixo do que a oposição tem hoje antes da campanha de TV.

Os votos, esses números também evidenciam, ainda podem se movimentar muito. O levantamento do Datafolha permite um cruzamento, feito por Lavareda neste estudo, entre as intenções de voto em cada candidato e as declarações dos que votariam ou não votariam no candidato indicado pelo presidente Lula.

São 19% os eleitores de Serra que dizem que o apoio de Lula levaria à escolha desse candidato indicado, com certeza. Esses 19% dos 37% que manifestam intenção de voto em Serra, resultam em 7 pontos percentuais, que Serra pode manter ou perder para sua adversária Dilma Rousseff, a candidata de Lula. Há, também, 6% dos 36% que manifestaram intenção de voto em Dilma que, no contraponto, dizem que não votariam em candidato apoiado pelo presidente Lula. Isto representa 2 pontos percentuais que a candidata do PT pode manter ou perder ao longo da campanha para seu adversário, quando seu nome ficar por todos conhecido como a candidata de Lula.

Outro exercício que os resultados permitem fazer, movimentando os números, é de uma comparação mais abrangente da oposição com ela mesma. Já foi constatado que Serra está, hoje, em um patamar praticamente igual ao de Alckmin no fim do primeiro turno de 2006, e Dilma tem 7 pontos abaixo do que Lula recebeu no primeiro turno de 2006.

Dilma pode ampliar, teoricamente, seu eleitorado, para atingir os patamares de Lula, enquanto Serra, que já está no tamanho de Alckmin, tem o desafio de crescer, e a pesquisa lhe aponta os espaços.

A pesquisa Datafolha permite que sejam feitas comparações, no detalhe do estudo, em todo o país. Em alguns colégios eleitorais, Serra já ultrapassou a votação de Alckmin, mas em outros há como avançar.

Em Minas Gerais, por exemplo, Serra está com 44% antes da propaganda da TV, enquanto Alckmin teve 41% depois da TV, no fim do primeiro turno. No Rio, Serra já está 8 pontos acima do que Alckmin teve no primeiro turno de 2006, o Datafolha lhe dá, alí, 37%, enquanto Alckmin teve 29%. No Paraná, está empatado com o que Alckmin teve no primeiro turno, 53%.

A análise sob o ângulo regional mostra que Serra, no Nordeste, está 9 pontos acima do que Alckmin teve em 2006; no Sudeste tem um ponto acima; no Sul, porém, está 3 pontos abaixo, e no Norte e Centro Oeste Serra está com 5 pontos abaixo do que Alckmin teve no fim do primeiro turno em 2006.

O espaço para reconquista dos eleitores da oposição de 2006 é evidente no Sul, no Norte e Centro Oeste mas existe, sobretudo, em São Paulo.

Tirando das análises os votos em branco, nulos e os indecisos, Serra tem 50 pontos em São Paulo, hoje. Alckmin teve 54% ao fim do primeiro turno de 2006. Seriam, portanto, 4 pontos a conquistar em uma campanha no Estado.

Um ponto de reflexão para os formuladores da campanha é a questão, que vem sendo transformada em cláusula pétrea das eleições de 2010, de que Minas e Rio serão o fiel da balança nesta disputa. Os dois colégios têm milhares de eleitores, é verdade, quase 20% do eleitorado nacional somados. Mas não dá para ignorar que São Paulo tem 23% do eleitorado, o maior do país, e Serra ainda está 4 pontos abaixo do que esteve Alckmin em 2006. Justamente o lugar onde Serra é mais conhecido, tem mais prestígio e onde a diferença que pode fazer a sua biografia, como quer fixar na percepção do eleitorado, bem como os resultados de seu trabalho como formulador de políticas e administrador, podem ser melhor medidos pelos eleitores.

Talvez esteja aí, nesse eleitorado que adere à capacidade de formulação e gestão do candidato, tanto como ministro da Saúde quanto como prefeito e governador de São Paulo, a força que o fez resistente. E impediu que sua candidatura implodisse, sob o efeito do descomunal esforço de um presidente mais que popular, destemido para transgredir repetidas vezes a legislação eleitoral, de uma máquina federal azeitada partidariamente, dos mais que numerosos palanques e forças regionais, e um governo aprovado por igual número de admiradores.


Rosângela Bittar é chefe da Redação, em Brasília. Escreve às quartas-feiras

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