sábado, 3 de julho de 2010

Vices e suas histórias :: Villas-Bôas Corrêa

DEU NO JORNAL DO BRASIL

O gaiato ineditismo da escolha do até então desconhecido deputado federal Indio da Costa, dos Democratas do Rio de Janeiro, para vice da chapa do candidato da oposição, o tucano José Serra, ex-governador de São Paulo, não é apenas mais uma evidência da crise que desqualifica o Congresso e respinga nos partidos mas o flagrante do baixo nível regime democrático, que parece apostar com as duas décadas da ditadura militar dos cinco generais presidentes a taça da galhofa.

Muitas histórias de traições e mutretas de vices venho colecionando nos meus 60 anos de exercício como repórter político. E, para não ir mais longe, vamos recuar até a eleição de Getulio Vargas, no retorno triunfal da eleição para o mandato de 31 de janeiro de 1954. Getulio resistiu aos apelos do movimento queremista, que foi perturbá-lo no seu retiro solitário no pampa gaúcho, em São Borja.

Enquanto Danton Coelho articulava a aliança com Adhemar de Barros, governador de São Paulo e impedido de deixar o governo pelo risco de entregá-lo ao vice Noveli Junior, genro do presidente Dutra e seu desafeto, que investigaria o que não podia ser apurado. O acordo com Adhemar, com a entrega do vice, resultou na chapa vitoriosa Getulio-Café Filho. A implacável oposição da UDN com a sua equipe de grandes oradores, desaguou no crime da Rua Tonelero, com a morte do major Rubem Vaz e o ferimento de Lacerda. O vice morre de inveja do presidente. E trai com a cara mais cínica. Café Filho entendeu-se com Carlos Lacerda e propôs a renúncia dupla que Getulio não podia aceitar e o levou ao suicídio.

Na campanha de Jânio Quadros, Milton Campos foi o candidato indicado pela UDN para vice o mais completo homem público que conheci, na síntese de Carlos Castello Branco. Pois Jânio traiu Milton Campos na manobra do Jan-Jan. Um caso perfeito de dupla traição: Jânio traiu Milton Campos e Jango Goulart, candidato a vice, que traiu o marechal Teixeira Lott, companheiro de chapa.

Como repórter de O Estado de S. Paulo, cobri grande parte da campanha de Jânio. Depois de giro por Minas, o DC-3 da Varig pousou em Belo Horizonte para o desembarque de vários passageiros. Estava eu conversando com Milton quando Jânio se aproximou para a despedida. O sereno Milton Campos comunicou ao seu companheiro de chapa que não o acompanharia na próxima viagem ao Rio Grande do Sul. E justificou: A minha eleição não tem a menor importância. Importante é a sua a presidente. E não quero constrangê-lo no seu entendimento com o deputado Fernando Ferrari.

Jânio traiu Milton Campos. Elegeu-se e garantiu a eleição de Jango Goulart, com os resultados conhecidos. E a campanha política do candidato a vice de José Serra, o deputado Indio da Costa, vai animar o baile do voto.

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