terça-feira, 17 de agosto de 2010

Ahmadinejad diz que pedido de Lula é inútil

DEU EM O GLOBO

Em rejeição à oferta brasileira de asilo, o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, disse que a iraniana Sakineh Ashtiani, condenada à morte, não será enviada ao Brasil. Para ele, não "há necessidade de criar mais confusão para Lula". A Embaixada do Irã questiona se o asilo a Sakineh não faria do Brasil um lugar de criminosos internacionais.

Sem saída para Sakineh Ashtiani

Ahmadinejad rompe silêncio, rejeita asilo e diz não querer criar problemas para Lula

BRASÍLIA e TEERÃ - O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, rompeu o silêncio e entrou em cena ontem para colocar um ponto final no caso de Sakineh Mohammadi Ashtiani a iraniana condenada à morte por adultério e pelo suposto assassinato de seu marido. Após uma semana de intenso vaivém diplomático acerca da proposta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de dar asilo à prisioneira, no primeiro pronunciamento público sobre o caso, Ahmadinejad afirmou que não vê necessidade de enviar a condenada ao Brasil.

Há um juiz e, no fim das contas, os juízes são independentes. Conversei com chefe do Judiciário e o Judiciário também não concorda com a proposta do Brasil afirmou Ahmadinejad, em entrevista à estatal Press TV. Acho que não há necessidade de criar mais confusão para o presidente Lula levando-a ao Brasil sentenciou o líder iraniano.

Esquivando-se de polêmicas, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, evitou comentar as declarações.

Mas, o assessor da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, disse acreditar que ainda há espaço para negociação.

Se nós acreditássemos que não ia adiantar, não estaríamos insistindo afirmou Garcia. Essa não é uma questão jurídica, filosófica, teológica, essa é uma questão política, portanto tem que ser tratada pelo governo do Irã como política.

De Teerã, a decisão ecoou em Brasília.

Num comunicado, a embaixada do Irã afirmou que não aceitará nenhuma forma de interferência de outros países em seus assuntos internos.

A embaixada disse considerar a oferta brasileira como um pedido de um país amigo, baseado nos sentimentos puramente humanitários e no espírito do presidente Lula mas insinuou também que há quem tente tirar proveito da condenação de Sakineh para obter benefícios eleitorais.

Infelizmente, alguns grupos de pessoas dentro do Brasil, aproveitando a situação e desconsiderando o interesse nacional de seu país, utilizam esse assunto como um instrumento para reforçarem suas forças políticas e obterem melhor aproveitamento na campanha eleitoral, acusa o texto.

Ahmadinejad é ditador, diz ministro

Na semana passada, o embaixador iraniano em Brasília, Mohsen Shaterzadeh, havia negado que o Brasil fizera uma proposta formal de asilo à mulher.

Desde então, tanto o Itamaraty quanto a diplomacia iraniana têm evitado confrontos e declarações sobre o caso. O texto do comunicado, no entanto, não hesitou em questionar se a concessão de asilo a Sakineh não poderia estimular novos crimes no Irã.

Será que esse ato não promoverá e não encorajará criminosos? Será que a sociedade brasileira e o Brasil têm que ter, no futuro, um lugar dos criminosos de outros países em seu território?, questiona a embaixada.

A pena de Sakineh inicialmente condenada à morte por apedrejamento está suspensa, por enquanto, e muitos acreditam que a Justiça do Irã não deve se pronunciar até o fim do Ramadã. Apesar da negativa oficial de Teerã, o ministro dos Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, disse que o governo brasileiro segue negociando para que ela venha ao país.

O governo Lula está pressionando diplomaticamente o governo iraniano para que permita que ela venha para o Brasil. E se esse ditador (Ahmadinejad) tiver um mínimo de bomsenso, deveria permitir que ela venha morar no Brasil e seja salva afirmou o ministro à Agência Brasil.

Além do Brasil, os apelos insistentes pela vida da mulher se espalharam pela Europa. A porta-voz da Chancelaria francesa, Christine Fages, garantiu que vários países do continente estão estudando todos os meios para impedir a execução.

Presa na cadeia iraniana de Tabriz há quatro anos, a mulher, de 43 anos, mãe de dois filhos, teria sido torturada e obrigada a confessar os crimes de adultério e assassinato numa entrevista na TV estatal iraniana na semana passada.

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