DEU NO PITACOS
O Brasil está poluído de pitonisas. Todo jornal que se preza tem no mínimo uma (ou um) pitonisa de plantão. Em coomum, todos já decretaram a vitória de Dilma e, como isto fosse pouco, já deram de barato quem será eleito governador em vários estados, já no primeiro turno.
Se as pesquisas deste fim de semana forem desfavoráveis a José Serra, pontificam as pitonisas, o ex-governador de São Paulo deveria ligar para Dilma e parabenizá-la pela conquista do Planalto.
Segundo os que nasceram com o dom da premonição, já estão eleitos Jacques Wagner na Bahia, Eduardo Campos em Pernambuco, Sérgio Cabral, no Rio de Janeiro e, claro, Geraldo Alckmin em São Paulo. Mais uma pesquisa e decretam também a unção de Hélio Costa para governador de Minas, já no primeiro turno.
São Paulo
Vejamos o caso de São Paulo. Uma coisa é achar que Geraldo Alckmin é o favorito. Outra coisa é dizer que já pode se considerar eleito por ter 54% das intenções de voto.
A política na disputa eleitoral está substituída pelas pesquisas. O horário eleitoral gratuito é um desperdício. O comparecimento dos brasileiros às urnas é mero cumprimento de formalidades.
Fernando Barros, em sua coluna “Alckmin na maciota”, na Folha de São Paulo, praticamente decretou a vitória do ex-governador de São Paulo, sobre Mercadante, “uma barbada”. Do alto da sua “sapiência política”, o colunista insinua que tudo seria diferente se o candidato do PT fosse Ciro Gomes.
Em que base da realidade se baseou para concluir que, com Ciro, a disputa pelo governo do Estado seria mais acirrada? É possível até que acontecesse o contrário. A vitória de Alckmin poderia ser mais fácil. As chances de uma candidatura Ciro cair no ridículo seriam imensas. Sem falar que ela poderia não empolgar os militantes petistas e seus eleitores históricos.
Não morremos de amores por Mercadante. Achamos que sua campanha é equivocada, ao pendurar-se na popularidade de Lula e fazer disto a sua única arma eleitoral. Erra ao destilar raiva na TV contra as diversas gestões de governos tucanos. Vende um mundo cão, como se São Paulo fosse o reino da morte, da miséria, da falta de educação, um caos completo. Em lugar de reconhecer os acertos, fazer críticas pertinentes e diferenciar suas propostas para o porvir, ataca sistematicamente governos tucanos, sucessivamente bem sucedidos e bem avaliados pelos paulistas.
Outra coisa é considerá-lo cachorro morto e ignorar que o PT é um partido com densidade eleitoral em São Paulo. É o segundo partido mais forte no Estado. Subestimá-lo pode trazer danos sérios à campanha estadual e também à luta de Serra para chegar à Brasília.
Alckmin não cai nessa
É possível que Geraldo repita o feito de Serra e se eleja no primeiro turno. É óbvio que essa situação não está dada. Não se pode excluir a hipótese de um endurecimento da disputa pelo governo do Estado. Um segundo turno não está descartado de antemão.
O que vale para a eleição presidencial, também vale para as disputas estaduais. Nada substitui o eleitor. São inúmeros os exemplos de viradas em eleições municipais e estaduais. É impossível assegurar que não existirá troca da poleposition na corrida presidencial, no primeiro ou no segundo turno.
Este negócio de decretar a vitória de alguém antes da hora não serve sequer aos favoritos. Com toda sua experiência, Alckmin não entra nessa, pois conhece de perto o estrago que pode fazer o clima do “já ganhou”. Em eleição, quem calça salto alto corre o risco de levar um tremendo tombo. Nas eleições municipais em 2008, em São Paulo, Marta Suplicy esteve à frente de Kassab nas pesquisas, até mesmo das realizadas na véspera da eleição do primeiro turno. Quando foram abertas as urnas, Kassab teve mais voto do que a petista, já no primeiro turno! Daí em diante, o segundo turno foi uma barbada que nenhuma pitonisa apontou em suas premonições. Resultado: Kassab levou a taça ao se eleger com uma grande folga.
Viradas e viradas
Dá para acreditar que Geddel Vieira, com todo o tempo de TV do PMDB e com a quantidade de prefeitos que tem na Bahia, terá, ao final do primeiro turno, apenas 10% dos votos, como indicam as pesquisas atuais? É bom lembrar que há menos de dois anos, ele conseguiu virar o jogo na disputa da prefeitura de Salvador. Seu candidato, João Henrique, estava em terceiro lugar, antes do horário televisivo, foi para o segundo turno e derrotou o candidato que tinha a máquina do Estado e o apoio do governador, o petista Jacques Wagner.
Quantas e quantas vezes Maluf nadou, nadou e, ao final, morreu na praia? Em 1990, nas eleições para governador, ele não se elegeu no primeiro turno por um fio. No segundo foi derrotado pelo então quercista Fleury. O mesmo Maluf esteve à frente de Luiza Erundina, nas eleições para a capital do Estado. Na reta final, a então petista foi vitoriosa.
Hélio Costa, em Minas Gerais, tem uma história idêntica de liderar as pesquisas até a undécima hora, para em seguida quebrar a cara e perder a eleição. Quem garante que agora ele está livre deste risco?
Estragos reais
Os exemplos são inúmeros. O que é comum a todos eles é que, como diria o Barão Itararé, “cada eleição é uma eleição”. Traçar regras absolutas merece, com louvor, o substantivo estupidez.
O grave não é a proliferação das pitonisas, até porque elas seriam apenas figuras folclóricas, que cairiam no ridículo quando as urnas fossem abertas, ou mesmo quando a próxima pesquisa fosse divulgada.
O problema é que suas adivinhações são divulgadas pelos meios de comunicação como verdades absolutas. Influenciam parcelas do eleitorado menos conscientizadas. Arrefecem o ânimo da militância.
Um dos grandes estragos está no financiamento das campanhas. São poucos os que jogam dinheiro em quem está irremediavelmente por baixo. Quanto menos pontos percentuais nas intenções de votos, menos o caixa da campanha é irrigado. Isso é válido para empresas e grandes doadores. As posições podem ser trocadas, mas quem garante, se os “especialistas” já decretaram quem vence e quem perde, antes que o processo eleitoral sequer esquente?
Desmentido
Poucos são aqueles que pesquisam as posições das “pitonisas”, confrontando o que diziam há semanas ou meses com o que pontificam agora. Sem citar o nome, um membro paulistano dessa espécie garantia em abril que Dilma havia atingido o teto da transferência de votos de Lula para ela, quando Serra conservava a vantagem superior a 7 pontos percentuais. Agora, esse mesmo analista garante que a fatura já está resolvida.
No final de 2009, uma figura proeminente de determinado instituto de pesquisa, numa entrevista, assegurou que os levantamentos indicavam que agora o país vivia uma era tucana e que era praticamente certa a vitória de José Serra, que já era o favorito para obter a indicação do PSDB. Há dias, ele afirmou o contrário.
Como apontou Dora Kramer, se o quadro virar, sem pruridos, os adivinhos arranjarão um fator qualquer para explicar a nova realidade, talvez a propaganda eleitoral gratuita, os debates, ou, quem sabe, a direção das nuvens. Sem rubor, continuarão a reivindicar para si o papel de “especialistas”.
O exercício da adivinhação é livre. A ele pode se dedicar quem quiser. Apesar do estrago que causam, as pitonisas têm contra si a história.
Os eleitores, a quem essa gente pretende reduzir a coadjuvantes, teimam em ter desígnios que a razão das pitonisas desconhece.
O Brasil está poluído de pitonisas. Todo jornal que se preza tem no mínimo uma (ou um) pitonisa de plantão. Em coomum, todos já decretaram a vitória de Dilma e, como isto fosse pouco, já deram de barato quem será eleito governador em vários estados, já no primeiro turno.
Se as pesquisas deste fim de semana forem desfavoráveis a José Serra, pontificam as pitonisas, o ex-governador de São Paulo deveria ligar para Dilma e parabenizá-la pela conquista do Planalto.
Segundo os que nasceram com o dom da premonição, já estão eleitos Jacques Wagner na Bahia, Eduardo Campos em Pernambuco, Sérgio Cabral, no Rio de Janeiro e, claro, Geraldo Alckmin em São Paulo. Mais uma pesquisa e decretam também a unção de Hélio Costa para governador de Minas, já no primeiro turno.
São Paulo
Vejamos o caso de São Paulo. Uma coisa é achar que Geraldo Alckmin é o favorito. Outra coisa é dizer que já pode se considerar eleito por ter 54% das intenções de voto.
A política na disputa eleitoral está substituída pelas pesquisas. O horário eleitoral gratuito é um desperdício. O comparecimento dos brasileiros às urnas é mero cumprimento de formalidades.
Fernando Barros, em sua coluna “Alckmin na maciota”, na Folha de São Paulo, praticamente decretou a vitória do ex-governador de São Paulo, sobre Mercadante, “uma barbada”. Do alto da sua “sapiência política”, o colunista insinua que tudo seria diferente se o candidato do PT fosse Ciro Gomes.
Em que base da realidade se baseou para concluir que, com Ciro, a disputa pelo governo do Estado seria mais acirrada? É possível até que acontecesse o contrário. A vitória de Alckmin poderia ser mais fácil. As chances de uma candidatura Ciro cair no ridículo seriam imensas. Sem falar que ela poderia não empolgar os militantes petistas e seus eleitores históricos.
Não morremos de amores por Mercadante. Achamos que sua campanha é equivocada, ao pendurar-se na popularidade de Lula e fazer disto a sua única arma eleitoral. Erra ao destilar raiva na TV contra as diversas gestões de governos tucanos. Vende um mundo cão, como se São Paulo fosse o reino da morte, da miséria, da falta de educação, um caos completo. Em lugar de reconhecer os acertos, fazer críticas pertinentes e diferenciar suas propostas para o porvir, ataca sistematicamente governos tucanos, sucessivamente bem sucedidos e bem avaliados pelos paulistas.
Outra coisa é considerá-lo cachorro morto e ignorar que o PT é um partido com densidade eleitoral em São Paulo. É o segundo partido mais forte no Estado. Subestimá-lo pode trazer danos sérios à campanha estadual e também à luta de Serra para chegar à Brasília.
Alckmin não cai nessa
É possível que Geraldo repita o feito de Serra e se eleja no primeiro turno. É óbvio que essa situação não está dada. Não se pode excluir a hipótese de um endurecimento da disputa pelo governo do Estado. Um segundo turno não está descartado de antemão.
O que vale para a eleição presidencial, também vale para as disputas estaduais. Nada substitui o eleitor. São inúmeros os exemplos de viradas em eleições municipais e estaduais. É impossível assegurar que não existirá troca da poleposition na corrida presidencial, no primeiro ou no segundo turno.
Este negócio de decretar a vitória de alguém antes da hora não serve sequer aos favoritos. Com toda sua experiência, Alckmin não entra nessa, pois conhece de perto o estrago que pode fazer o clima do “já ganhou”. Em eleição, quem calça salto alto corre o risco de levar um tremendo tombo. Nas eleições municipais em 2008, em São Paulo, Marta Suplicy esteve à frente de Kassab nas pesquisas, até mesmo das realizadas na véspera da eleição do primeiro turno. Quando foram abertas as urnas, Kassab teve mais voto do que a petista, já no primeiro turno! Daí em diante, o segundo turno foi uma barbada que nenhuma pitonisa apontou em suas premonições. Resultado: Kassab levou a taça ao se eleger com uma grande folga.
Viradas e viradas
Dá para acreditar que Geddel Vieira, com todo o tempo de TV do PMDB e com a quantidade de prefeitos que tem na Bahia, terá, ao final do primeiro turno, apenas 10% dos votos, como indicam as pesquisas atuais? É bom lembrar que há menos de dois anos, ele conseguiu virar o jogo na disputa da prefeitura de Salvador. Seu candidato, João Henrique, estava em terceiro lugar, antes do horário televisivo, foi para o segundo turno e derrotou o candidato que tinha a máquina do Estado e o apoio do governador, o petista Jacques Wagner.
Quantas e quantas vezes Maluf nadou, nadou e, ao final, morreu na praia? Em 1990, nas eleições para governador, ele não se elegeu no primeiro turno por um fio. No segundo foi derrotado pelo então quercista Fleury. O mesmo Maluf esteve à frente de Luiza Erundina, nas eleições para a capital do Estado. Na reta final, a então petista foi vitoriosa.
Hélio Costa, em Minas Gerais, tem uma história idêntica de liderar as pesquisas até a undécima hora, para em seguida quebrar a cara e perder a eleição. Quem garante que agora ele está livre deste risco?
Estragos reais
Os exemplos são inúmeros. O que é comum a todos eles é que, como diria o Barão Itararé, “cada eleição é uma eleição”. Traçar regras absolutas merece, com louvor, o substantivo estupidez.
O grave não é a proliferação das pitonisas, até porque elas seriam apenas figuras folclóricas, que cairiam no ridículo quando as urnas fossem abertas, ou mesmo quando a próxima pesquisa fosse divulgada.
O problema é que suas adivinhações são divulgadas pelos meios de comunicação como verdades absolutas. Influenciam parcelas do eleitorado menos conscientizadas. Arrefecem o ânimo da militância.
Um dos grandes estragos está no financiamento das campanhas. São poucos os que jogam dinheiro em quem está irremediavelmente por baixo. Quanto menos pontos percentuais nas intenções de votos, menos o caixa da campanha é irrigado. Isso é válido para empresas e grandes doadores. As posições podem ser trocadas, mas quem garante, se os “especialistas” já decretaram quem vence e quem perde, antes que o processo eleitoral sequer esquente?
Desmentido
Poucos são aqueles que pesquisam as posições das “pitonisas”, confrontando o que diziam há semanas ou meses com o que pontificam agora. Sem citar o nome, um membro paulistano dessa espécie garantia em abril que Dilma havia atingido o teto da transferência de votos de Lula para ela, quando Serra conservava a vantagem superior a 7 pontos percentuais. Agora, esse mesmo analista garante que a fatura já está resolvida.
No final de 2009, uma figura proeminente de determinado instituto de pesquisa, numa entrevista, assegurou que os levantamentos indicavam que agora o país vivia uma era tucana e que era praticamente certa a vitória de José Serra, que já era o favorito para obter a indicação do PSDB. Há dias, ele afirmou o contrário.
Como apontou Dora Kramer, se o quadro virar, sem pruridos, os adivinhos arranjarão um fator qualquer para explicar a nova realidade, talvez a propaganda eleitoral gratuita, os debates, ou, quem sabe, a direção das nuvens. Sem rubor, continuarão a reivindicar para si o papel de “especialistas”.
O exercício da adivinhação é livre. A ele pode se dedicar quem quiser. Apesar do estrago que causam, as pitonisas têm contra si a história.
Os eleitores, a quem essa gente pretende reduzir a coadjuvantes, teimam em ter desígnios que a razão das pitonisas desconhece.
Cada dia ele fala de um amiguinho novo! Agora é o Sarney!
ResponderExcluirhttp://www.youtube.com/watch?v=0WkBLtuaFrw