quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Candidata não é bibelô:: Clóvis Rossi

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

SÃO PAULO - É totalmente despropositada a queixa do presidente Lula a respeito do tratamento dado à sua candidata, Dilma Rousseff, no "Jornal Nacional".

Primeiro, porque o comportamento de William Bonner e Fátima Bernardes foi, de fato, duro, mas respeitoso. Como tem que ser.

A queixa parece refletir o desejo do presidente de que todo o mundo estenda a Dilma um tapete vermelho. Não dá.

Mas nem é esse o despropósito principal. A queixa de Lula tem um substrato machista. Ao dizer que candidata mulher deve merecer "um pouco mais de gentileza", está indiretamente assumindo o preconceito machista que diz que mulher -candidata ou não- é animicamente mais fraca que homem e, portanto, não pode enfrentar questões duras.

Bobagem. Se eleita, os problemas que Dilma terá que enfrentar não olharão para o fato de ser mulher. Serão duros como serão se o eleito for homem. Simples assim.

O desagradável nesse machismo subliminar é que parte de quem teve a ousadia e a coragem de escolher uma mulher para candidatar-se à sua sucessão -o que demonstra que o presidente não é intrinsecamente machista.

Por mera coincidência, está em alta uma onda de pesquisas que procuram demonstrar que há um importante vínculo entre a segurança das mulheres e a dos Estados. Onde as relações homem/mulher são baseadas no domínio e na iniquidade, o padrão afeta o Estado e sua segurança.

A Estratégia Nacional de Segurança do presidente Obama chega a dizer que "a experiência mostra que países são mais pacíficos e prósperos quando as mulheres recebem plenos direitos e oportunidades iguais".

O ponto, pois, é que mulheres, candidatas ou não, não precisam de mais gentileza e, sim, de mais direitos e oportunidades.

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