segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Comediante não perde o humor nem ao protestar

DEU EM O GLOBO

Ato contra censura durante período eleitoral arranca risadas do público em passeata na Avenida Atlântica

Chico Otávio

Era para ser um ato de protesto indignado.

A seriedade, porém, não durou mais do que sete minutos, tempo suficiente para que os comediantes ouvissem quietos atendendo a um veemente xiii, silêncio! a leitura do manifesto contra a proibição imposta ao humor no período eleitoral. Em seguida, um dos líderes do movimento, Fábio Porchat, do grupo Comédia em Pé, pegou o megafone e puxou as primeiras palavras de ordem: Um, dois, três... Quatro, cinco, seis... Sete, oito, nove... Dez, onze, doze...

Comediante jamais perde a piada, mesmo quando se sente acuado. Enquanto caminhavam ontem pela Avenida Atlântica, do Hotel Copacabana Palace ao Leme, no protesto batizado de Humor Sem Censura, e que reuniu cerca de 500 pessoas, Marcelo Madureira, Sabrina Sato, Bruno Mazzeo, Hélio de la Peña, Marcius Melhem e outros manifestantes fizeram um show de improvisação para pedir o fim do que classificam de censura da Justiça Eleitoral ao humor político.

Humorista unido, jamais será comido bradaram os comediantes, seguidos por uma legião de tietes que disparavam fotografias.

A manifestação, durante a qual foi lançado um abaixo-assinado, exigia a revogação de uma norma do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que proíbe, desde 1997, a veiculação, por rádio ou TV, de entrevistas ou montagens que degradem ou ridicularizem candidatos, partidos políticos ou coligações: Se é assim, a Justiça tem de proibir também o maior programa de comédia em exibição no Brasil, que é o horário eleitoral gratuito. É tudo muito engraçado. Se eles têm direito de fazer o seu humor, por que não podemos fazer o nosso também? indagou um inconformado Sérgio Mallandro.

Alguns metros de caminhada à frente, alguém denunciou: Iu, iu, iu... Tiririca nos traiu! A frase, repetida em coro, denunciava que Tiririca, candidato a deputado federal em São Paulo, havia traído a classe ao se debandar para o outro lado. A certa altura, a ausência de repressão foi notada: Cadê a polícia? Em uníssimo, os manifestantes passaram a cobrar: Queremos apanhar. Depois, imitaram o grito das torcidas de futebol, recheado por um sonoro palavrão, para expulsar da passeata cabos eleitorais que insistiam em infiltrar bandeiras de partidos políticos.

Naquele momento, o ato se aproximava da Avenida Princesa Isabel, inspirando Marcelo Madureira, da turma do Casseta, a fazer um convite coletivo: Vamos à Cicciolina? referindose ao inferninho perto dali.

O ato terminou em pizza na Fiorentina, tradicional restaurante do Leme, mas Fábio Porchat está convencido de que a iniciativa vai render frutos. O manifesto, que colherá assinaturas até o fim de setembro, será entregue ao presidente da Fundação Nacional das Artes (Funarte), Sérgio Mamberti, para convencer o governo federal a propor mudanças nas normas e derrubar o veto ao humor nas eleições.

Vamos fazer o mesmo caminho da campanha pela Ficha Limpa. A lei é inconstitucional. Quem está sendo censurado não é o humorista, mas a sociedade lamentou. E, desta vez, era sério.

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