domingo, 22 de agosto de 2010

De caixa alta

DEU EM O GLOBO

Lucros dos 3 maiores bancos do país somam R$ 167 bi na era Lula, alta de 420% sobre gestão FH

Patrícia Duarte e Regina Alvarez

BRASÍLIA - A exuberância do setor financeiro, evidenciada nos recentes balanços divulgados, ganha contornos mais visíveis quando analisado o desempenho das instituições nos últimos 15 anos. Dados da consultoria Economática, levantados a pedido do GLOBO, revelam que o lucro líquido dos três maiores grupos do país Banco do Brasil (BB), Itaú Unibanco e Bradesco, que respondem hoje por quase 80% do mercado saltou quase 420% entre os oito anos do governo Fernando Henrique Cardoso (19952002) e os sete anos e meio da gestão Luiz Inácio Lula da Silva (2003-1osemestre de 2010). Os ganhos dessas instituições somaram R$ 167,471 bilhões desde 2003, contra R$ 32,262 bilhões no governo anterior. Os valores estão corrigidos pelo IPCA.

Segundo especialistas, os bancos conseguiram quintuplicar seus ganhos, sobretudo com a explosão do mercado de crédito, aos juros, comparativamente à média mundial, elevados, a cobrança de tarifas e o forte movimento de concentração bancária.

A aceleração do crescimento econômico e a maior bancarização complementam o cenário.

O cenário macroeconômico no governo Lula é o melhor possível. O nível de renda e emprego melhorou muito e vimos uma explosão no mercado de crédito e de capitais. Os bancos foram procíclicos diz o economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Rubens Sardenberg.

Na época de FH, os bancos ganharam muito dinheiro com as operações no mercado financeiro, beneficiados pelas taxas básicas de juros que chegaram ao teto histórico de 45% ao ano. Naquele momento, o Brasil ainda era bastante vulnerável às crises internacionais, que levavam o governo a subir a Selic para estancar a perda de recursos externos. Como trata-se da taxa que serve de base para remunerar os títulos públicos, os bancos não precisavam se esforçar muito para garantir resultados: bastava aplicar os recursos na ciranda financeira.

Além disso, conta muito para o salto de ganhos do primeira escalão do sistema financeiro entre as gestões tucana e petista o fato de FH ter herdado de seus antecessores o BB praticamente falido, devido à má gestão de operações, sobretudo na área rural. Tanto que em 1996 a estatal passou por um processo de capitalização, com o Tesouro injetando quase R$ 10 bilhões.

Itaú Unibanco ganha R$ 67 bi; BB, R$ 50 bi

Não por menos, entre 1995 e 2002 o BB registra prejuízo de R$ 16,310 bilhões.

De 2003 para cá, a estatal já lucrou R$ 50,298 bilhões, pouco mais do que o Bradesco. O Itaú Unibanco lidera os ganhos na era Lula, com R$ 67,120 bilhões. Considerando que as instituições estavam separadas até novembro de 2008, a maior contribuição à liderança veio do Itaú.

O governo FH iniciou o processo de profissionalização do Banco do Brasil lembra o professor da FGVSP Domingos Pandeló Júnior.

Já na era Lula, com a redução dos níveis da Selic (chegou ao piso de 8,75%), os bancos passaram a emprestar mais ao setor produtivo e às pessoas, já que os ganhos com Tesouraria não eram tão atraentes. Segundo a Febraban, as receitas com essas operações respondiam por 42,5% do total do setor em 2002 e, no ano passado, essa fatia caiu para 28,8%.

Os bancos, de 2003 para cá, também passaram a cobrar mais tarifas. Ao todo, as receitas com cobrança de serviços tarifas bancárias, de fundos de investimentos, de seguros etc.

saltaram 83% entre as eras FH e Lula, somando R$ 258,7 bilhões só entre 2003 e junho passado, segundo a Economática.

No caso do Bradesco, as receitas com serviços cresceram 130% no período, somando R$ 76,1 bilhões.

A concessão de crédito também ajudou muito, ainda mais com as elevadas taxas de juros que os bancos ainda cobram dos consumidores. Em média, para pessoas físicas, estão em 40,40% ao ano, mas ultrapassam 100% em alguns casos, como o cheque especial.

Na época de FH, os juros chegaram a encostar em 200%.

As operações de empréstimos dos bancos analisados tiveram expansão de quase 170% entre os dois governos, totalizando R$ 3,575 trilhões, valor também corrigido pela inflação.

Destaque para o Itaú Unibanco, com um salto de 200% no período. Na era Lula, o estoque de crédito no setor financeiro saltou quase 300%, chegando a R$ 1,529 trilhão; já no governo FH, a expansão não passou de 110%.

O excelente resultado do setor agrada a Lula. Recentemente, ele disse que fica feliz que os bancos estejam ganhando porque, caso contrário, poderiam ter de receber recursos do Estado em épocas de crise, como o americano Lehman Brothers.

Aposta inclui crédito de longo prazo

Hoje, com a contínua consolidação do setor e o amadurecimento da economia, a tendência é que os bancos continuem buscando fontes de receitas em áreas ainda pouco desenvolvidas em relação ao potencial de consumidores no Brasil, como seguros, cartões de crédito e débito, previdência privada e mercado de capitais. O crédito de longo prazo (como financiamentos imobiliário e de veículos) também será determinante.

Vamos entrar nessa nova fase porque os juros estão menores e há uma formalização maior na economia, com muito mais pessoas bancarizadas afirmou ao GLOBO um alto executivo de um grande banco brasileiro.

Segundo o Bradesco, diversos fatores contribuíram para os seus resultados nesse período. O PIB cresceu 20% entre 1994 e 2002. Se as expectativas do banco se confirmarem, de 2003 a 2010 deve registrar crescimento de 37%, prevê o banco.

Outro aspecto destacado é o da mobilidade social, com 30 milhões de brasileiros migrando das classe D e E para a C nos seis últimos anos.

Também teve aumento significativo a base de clientes do banco, o que reflete nos resultados. Em 1994, eram 5,4 milhões de clientes, contra os 21,9 atuais.

Procurados, Banco do Brasil e Itaú não comentaram o assunto.

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