segunda-feira, 23 de agosto de 2010

De saldo alto Dilma estuda aperto econômico

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Candidata discute com Lula e com auxiliares medidas na área fiscal para adotar no início de eventual gestão

Dilma Rousseff (PT) já discute com auxiliares próximos e com o presidente Lula medidas econômicas duras, sobretudo na área fiscal, para adotar no início de um eventual governo.
Uma medida seria reduzir a política de reajuste salarial para o funcionalismo.

Também se considera diminuir um pouco a meta de inflação, que hoje é de 4,5%, para a casa dos 4%.

A avaliação que o ajuste não precisará ter a intensidade do adotado por Lula em 2003, porque a situação econômica é bem melhor.

Mas é necessário dar ao mercado sinais de que a eventual gestão Dilma reduzirá o ritmo de gastos dos últimos dois anos.


Dilma quer ajuste fiscal no início de eventual governo

Ideia é repetir a estratégia do presidente Lula quando ele assumiu em 2003

Avaliação da petista é que as novas medidas poderão ter intensidade menor por causa da situação econômica

Kennedy Alencar e Valdo Cruz

DE BRASÍLIA - A candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, já discute com auxiliares e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva medidas econômicas duras, sobretudo na área fiscal, para adotar no início de um eventual governo.

Segundo a Folha apurou, a intenção é repetir a estratégia do começo do governo Lula, em 2003, quando o novo presidente fez ajuste fiscal e monetário mais duro que o esperado pelo mercado.

A avaliação de Dilma e auxiliares é que esse ajuste não precisará ter a intensidade do adotado por Lula, porque ela herdará situação econômica melhor. No entanto, serão necessárias medidas para dar sinais mais concretos ao mercado de que a eventual gestão Dilma reduzirá o ritmo de gastos dos últimos dois anos do governo Lula.

As medidas em análise se concentram na área fiscal, mas há também estudo sobre a área monetária. A Folha apurou que uma medida será reduzir drasticamente a política de reajuste salarial para o funcionalismo público.

Isso não significa que não haja reajustes, mas que, sobretudo no primeiro ano do eventual governo, eles sejam mais parcimoniosos.

Neste ano, Lula cedeu a um reajuste para o conjunto das aposentadorias maior do que o previsto inicialmente. Dilma deverá ter posição mais austera nesse assunto.

META

Será feita uma execução do Orçamento da União mais dura a fim de cumprir a meta atual de superavit primário, de 3,3% do PIB ao ano.

Com a hipótese concreta de vitória no primeiro turno, apontada pela última pesquisa Datafolha, Dilma deixará claro que manterá o tripé da atual política econômica: câmbio flutuante, meta de inflação e superavit primário. Mas vai enfatizar cada vez mais em declarações públicas que não haverá descontrole das contas públicas.

A intenção é frisar principalmente o aspecto fiscal, no qual o governo petista tem sido criticado recentemente.

Dilma tem discutido o tema com Lula e principalmente com o seu coordenador de campanha e ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci Filho e com o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa.

"TRAVESSIA DURA"

Quando Lula foi eleito pela primeira vez, em 2002, Palocci defendeu uma "travessia dura". Hoje, Lula e Palocci avaliam que parte dos êxitos econômicos dos dois governos petistas se deve a esse aperto de cintos em 2003 e 2004. Palocci defende a mesma estratégia para Dilma. Informado das discussões, Lula concorda com a estratégia, segundo a Folha apurou.

Além das medidas específicas de ajuste fiscal, há um estudo de mudança na política de metas de inflação. Seria uma alteração para dar ao país uma meta mais baixa.

Ou seja, uma redução do centro da meta de inflação para que o país passe, na segunda metade de seu eventual mandato, a conviver com taxas menores de reajuste de preços. Hoje, o centro da meta de inflação é de 4,5%, com variação de dois pontos percentuais para cima e para baixo.

A ideia é estipular uma meta para 2012 na casa dos 4%, para sinalizar que o próximo governo batalhará por uma inflação menor, hoje considerada alta para padrões mundiais. Em 2009, ela foi de 4,31%, pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), o indicador oficial da meta. Neste ano, deverá ficar em torno de 5%.

A adoção de medidas econômicas duras não significará cortar recursos dos principais programas sociais e das obras prioritárias do PAC. Além disso, auxiliares dizem que ela investirá paulatinamente em saúde, educação e segurança pública.

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