segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Ideias próprias :: Moacyr Goes

DEU EM O DIA

Rio - Um homem com ideias próprias e ideais está marcado pela solidão. Pode andar acompanhado, ter pessoas ao seu redor, ser admirado ou odiado, mas terá como companheira irremediável a solidão.

Formular um pensamento singular exige a coragem para se distanciar da multidão e dos fatos, ver na distância que permite um olhar crítico, analítico e por natureza, solitário. E se os ideais são de natureza generosa, a volta ao convívio com o mundo se faz inevitável.

É preciso mudá-lo acreditando que a ação individual é a forca motriz das transformações. Mas nunca se volta da mesma forma que se parte. Mudar sem perder aquilo que se constitui como valor fundamental, é o que cria coerência, retidão. Só os homens solitários são admiráveis, constituindo-se como referências. Seguir um homem eu entendo, é seguir uma ideia, mas uma multidão, é abjeto.

É o que me vem à cabeça sempre que vejo Gabeira andando pelos hospitais, trens, escolas e estradas. Munido de sua antiga ideia de mudar o mundo, ele vai, sem lenço e sem documento, caminhando contra o vento do pragmatismo e da sordidez da política. Um homem sem ambições de posses materiais, livre de acordos para usufruto pessoal. O Rio de Janeiro já tem do que se orgulhar nessas eleições.

Isso não é pouco, numa realidade impregnada de ações turvas e silêncios cúmplices. Tempos sombrios! Parei minha atividade de artista para ajudá-lo nesse momento. Depois da eleição, independente do resultado, que acredito vitorioso, volto pro meu canto. Sei que terei uma bela historia para contar aos meus filhos. História parecida com as que ouvi de meu pai.


Diretor de teatro e cineasta
(Publicado em 1/8/2010)

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