domingo, 8 de agosto de 2010

Normalidade e anestesia:: Clóvis Rossi

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

SÃO PAULO - Eu me senti, no debate de quinta-feira, exatamente como o menino da "charge" de Jean, no dia seguinte nesta Folha. Aquela em que um garotinho pergunta, sentado no sofá diante de uma televisão que mostra três dos quatro debatedores: "Mãe, posso sair do castigo?".

Suspeito que muita gente se sentiu do mesmo modo, a julgar por e-mail do deputado Chico Alencar (PSOL-RJ): "Sem a serena contundência de Plínio, o debate seria entediante. Quem assistia iria para São Paulo x Internacional rapidinho", escreveu.

Confesso, Chico, que eu tive que usar toda a minha consciência cívica e profissional para não trocar a Band do debate pela Globo da Libertadores. Pelos números do Ibope, nem a "serena contundência" de Plínio evitou que todas as torcidas de todos os times brasileiros migrassem para o futebol ou qualquer outro programa.

Mas o tédio do debate é o típico caso de copo meio cheio, meio vazio. Meio cheio pelo seguinte: o Brasil entrou definitivamente na normalidade institucional, em que eleição a cada quatro anos é uma característica do calendário tão segura e tão inevitável quanto a Semana Santa ou o 7 de Setembro.

Não é mais o momento de refundar a República. Normalidade leva quase sempre ao tédio, tanto que há certo consenso de que ele só foi quebrado por quem, como Plínio, quer sim refundar a República.

O lado vazio do copo aparece no fato de que se está confundindo normalidade institucional com a solução de todos os problemas, o que é absolutamente falso.

A desigualdade continua obscena, a educação continua uma vergonha, a saúde é um drama cotidiano, a segurança pública não dá segurança e por aí vai.

Um país que é a sétima ou oitava economia do mundo e apenas o 75º em desenvolvimento humano não pode ser considerado normal.

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