domingo, 29 de agosto de 2010

Será o fim da oposição?

DEU NO ESTADO DE MINAS

Cientistas políticos ouvidos pelo Estado de Minas divergem sobre o risco de mexicanização do país diante do atual processo eleitoral, caso se concretize a vitória de Dilma Rousseff

Bertha Maakaroun

O cientista político Bolívar Lamounier admite: é pequena a probabilidade de José Serra (PSDB) inverter a linha de crescimento de Dilma Rousseff (PT), mudando o curso das eleições. Diante da derrota nacional iminente do PSDB e, ao mesmo tempo, a conquista, na maior parte dos estados, de governos da base aliada de Lula, Lamounier, que tem grande proximidade política e ideológica com o PSDB do sociólogo e ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, declara haver um risco de mexicanização do país, no processo eleitoral em andamento. Lamounier se explica: Isso não significaria a eliminação total da competição política e eleitoral, mas uma absorção dela: para dentro da aliança PT-PMDB e para dentro da máquina pública.

Para o sociólogo, um eventual governo Dilma, com ampla maioria na Câmara dos Deputados e no Senado, terá um controle quase total do processo político e das instituições. Lamounier prega em conferências e em artigos o risco do que chama liquidação da oposição nos estados. Lula e o PT nunca tiveram um traço sequer de visão federativa. A pedra no sapato de Lula é evidentemente o estado de São Paulo, por isso ele já avisou que não medirá esforços para impedir a vitória de Geraldo Alckmin. O cientista político acredita que, para a saúde da democracia, é preciso mais oposição. E uma oposição que, em sua avaliação, passa pelo PSDB.

A tese de Lamounier, entretanto, é contestada pelo cientista político e professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Fábio Wanderley Reis, que recupera, historicamente, o que ocorreu no México. O quadro geral no Brasil é totalmente distinto de algo que emergiu de uma revolução armada no México, onde havia um grupo que tomou conta do Estado, fez um partido instrumental e o processo eleitoral foi acomodado dentro de um esquema partidário resultante da revolução, avalia. Reis lembra que as instituições estão em perfeito funcionamento no país, inclusive os partidos políticos e a Justiça Eleitoral.

Depois de classificar a hipótese da mexicanização uma bobagem, além de uma reação histérica, Fábio Wanderley assinala que todo partido político tem um projeto de poder e, nem por isso, a democracia fica ameaçada. O próprio PSDB, tinha um projeto de poder de 20 anos. Se o PSDB podia ter esse projeto, por que o PT não poderia?, indaga, lembrando que em, várias democracias estáveis, houve longa e continuada vitória do Partido Social Democrata, sem que por isso houvesse uma ditadura.

Para o professor, não há motivo para se presumir que o fato de haver hoje um governo bem-sucedido e com apoio popular, daqui a quatro anos, não sofra um refluxo, abrindo a possibilidade para vitórias da oposição. Ele vai além: considera que, para neutralizar a força do PMDB num eventual governo Dilma, seria natural a reaproximação entre o PT e o PSDB. Se é possível falar da composição PT e PSDB, é evidentemente imaginável uma situação em que o PSDB dispute e ganhe em nível estadual e daqui a pouco dispute com chance a Presidência da República, afirma.

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