domingo, 1 de agosto de 2010

Vamos ao que interessa? :: Eliane Cantanhêde

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

BRASÍLIA - Até agora, o que se vê, lê e ouve é Dilma e o PT dizendo que José Serra deslizou para a direita e vai ter "um fim melancólico", e José Serra chamando Dilma e o PT de "trogloditas de direita" por apoiarem o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad.

Um candidato chama o outro de feio, de chato, de bobo, de direitista, numa profusão de adjetivos pejorativos. E nós com isso?

Enquanto eles ficam nesse rame-rame, o Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) divulga relatório colocando o Brasil no terceiro pior nível de desigualdade de renda do mundo, melancolicamente empatado com o Equador. Aliás, dos 15 países com maior concentração de renda, dez são da América Latina.

Enquanto os candidatos trocam adjetivos e quebram a cabeça com estratégias mirabolantes e pegadinhas espertas, fica-se sabendo que o Brasil tem uma nota anual de 4,6 no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) e que muito dificilmente vai atingir a meta de chegar à nota 6 em 2021.

E, enquanto eles pensam em cabelo, maquiagem, empostação de voz e qual a próxima maldade contra o adversário, vem a informação de que 8 milhões de eleitores são analfabetos e 19 milhões declararam saber ler e escrever, mas nunca pisaram numa sala de aula.

A pior situação é no Nordeste, mas é chocante por toda a parte. Dê um pulo ali na escolinha de Sobradinho dos Melo, a meia hora do centro da capital da República, e pergunte quantos pais e mães sabem ler e escrever...

Quando o dado do analfabetismo saiu do TSE e inundou o país de vergonha, o que se perguntou é se o analfabeto (um a cada cinco eleitores) tem discernimento para votar. Mas a pergunta é outra: como os candidatos e candidatas pretendem tornar o país mais justo e quitar essa dívida com os cidadãos?

A resposta não comporta adjetivos e sim compromisso.

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