quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Reflexão do dia - Lula

"Eu sou torneiro mecânico e é a única coisa que eu sei fazer... Não tenho pretensões políticas; não sou filiado a partido político e tenho certeza de que jamais participaria da vida política porque eu não sirvo para político. "


(Lula, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, na entrevista ao Programa Vox Populi da TV Cultura, maio de 1978,- Leôncio Martins Rodrigues, no artigo ‘A via sindical para o poder’)

Diferenças e tendências:: Merval Pereira

DEU EM O GLOBO

Essas diferenças entre os institutos de pesquisa vão ter que ser estudadas quando acabarem as eleições.

O resultado do Ibope/CNI dá Dilma estável com 50% dos votos, enquanto o Datafolha deu a ela 46%, em queda. A única explicação está nos dias em que foram feitas as pesquisas. O Datafolha fez a sua integralmente no dia 27, uma segunda-feira. O Ibope fez a sua nos dias 25 e 26 (sábado e domingo) e 27, mil entrevistas a cada dia. E o Sensus, nos dias 26, 27 e 28 (domingo, segunda e terça).

Embora o Instituto Sensus também mantenha a indicação de vitória de Dilma no primeiro turno, ele capta uma queda da candidata oficial de 3 pontos e uma subida igual de Marina.

As próximas pesquisas até sábado, véspera da eleição, é que mostrarão o que está acontecendo, se Dilma vem realmente caindo, um processo que teve seu início no dia 27 e não foi detectado pelo Ibope, que fez a maior parte de sua pesquisa nos dias 25 e 26, mas foi captado pelo Datafolha e em parte pelo Instituto Sensus.

Tudo indica que a mudança dos ventos é contra Dilma, mas não há indicações seguras de que essa tendência vai se manter, se vai se intensificar o crescimento da candidata do Partido Verde, Marina Silva, ou se as providências da campanha oficial serão suficientes para garantir sua vitória no primeiro turno, estancando esse processo.

A reunião de Dilma com lideranças católicas e evangélicas para tentar desmentir uma posição a favor do aborto, por exemplo, é uma dessas medidas que visam a conter um processo de desgaste nesse setor do eleitorado.

Dilma ontem disse que é contra o aborto e que não defenderá um plebiscito como faz a candidata do PV, Marina Silva e que, mesmo com o PT defendendo uma discussão maior sobre o tema, não proporá nenhuma medida ao Congresso para descriminalizar o aborto.

Mas em maio de 2009, em entrevista à revista Marie Claire, que defende o aborto, a já então candidata não oficial Dilma Rousseff deu a seguinte resposta sobre o assunto: Abortar não é fácil pra mulher alguma.

Duvido que alguém se sinta confortável em fazer um aborto.

Agora, isso não pode ser justificativa para que não haja a legalização.

O aborto é uma questão de saúde pública. Há uma quantidade enorme de mulheres brasileiras que morre porque tenta abortar em condições precárias. Portanto, a informação de que Dilma é a favor do aborto, que sua campanha está tratando como uma calúnia com objetivos eleitorais, tem base em declarações da própria.

Se, em campanha eleitoral, ela mudou de ideia justamente para não chocar esse nicho do eleitorado, é uma questão política que está sendo discutida pela internet e nas igrejas, e está lhe sendo prejudicial. E provocou uma dura declaração de Marina, que afirmou: Não faço discurso de conveniência. A ministra Dilma já disse que era a favor e depois mudou de posição.

Não acho que em temas como esse se deva fazer um discurso uma hora de uma forma e outra hora de outra só para agradar ao eleitor. Boato maldoso com objetivos eleitorais parece ser uma frase atribuída a ela, que garante que não disse: Nem Cristo me tira esta eleição, teria dito Dilma em uma entrevista.

Não há, no entanto, nenhuma gravação com essa frase, e não apareceu nenhum jornalista para garantir que a ouviu da boca de Dilma.

Essas questões que mexem com o voto religioso, mais a corrupção entranhada no Gabinete Civil na gestão de sua indicada e braço-direito, Erenice Guerra, seriam os fatores que estariam corroendo a popularidade de Dilma Rousseff em setores distintos do eleitorado, levando a eleição para o segundo turno.

Por mais otimistas que sejam, os estrategistas do PSDB consideram que a realização do segundo turno deve acontecer, mas por uma diferença bastante apertada.

Dilma deve ter, segundo seus cálculos, entre 47% e 49%, muito devido ao crescimento da candidata do Partido Verde, Marina Silva.

Mas seria preciso que esse movimento na reta final da campanha fosse uma tsunami e não uma simples onda verde, para levá-la para o segundo turno, superando o candidato tucano.

O esforço na reta final parece mais destinado a aumentar a votação de Marina para dar a ela um poder de barganha maior num eventual segundo turno.

Há quem considere a possibilidade de Marina chegar a entre 18% a 20% dos votos válidos no próximo domingo, o que daria ao Partido Verde um poder de barganha excepcional para negociar com Dilma Rousseff ou José Serra.

Para ganhar no segundo turno, o que até o momento parece ser muito difícil, Serra teria que fazer esse grande acordo com o Partido Verde, permitindo que a tese da transversalidade da questão do meio ambiente vigore em seu futuro governo, interferindo em questões como o projeto de desenvolvimento ou a agricultura.

O futuro governo, seja ele qual for, terá um forte componente ecológico saído do compromisso programático tornado viável pela atuação do partido no primeiro turno.

Quem estiver mais disposto a se abrir para essa questão terá mais chance de fazer uma aliança com expressiva parcela do eleitorado.

Fora isso, a candidatura oficial terá mais facilidade para atrair boa parte desses eleitores de Marina, que geralmente são petistas desgostosos com os desmandos do PT no governo, mas que, num confronto direto com o PSDB, tendem a voltar às suas origens.

Há ainda uma questão comum a todas as eleições, segundo o cientista político Alberto Carlos de Almeida, que induz a erro as pesquisas eleitorais: o mais comum, segundo ele, é superestimar o percentual de votos do primeiro colocado, fenômeno que se deve ao erro no ato de votar.

Almeida diz que os eleitores realmente querem votar no candidato que apontam na pesquisa, mas acabam errando e anulando o voto.

Este ano haverá o agravante de que o voto para presidente é o último de seis votos. Esse fato pode levar a uma grande abstenção para o voto de presidente e dar ao PT uma votação surpreendente para deputado estadual, que é o primeiro voto na urna eletrônica.

Segundo Almeida, muitos eleitores de baixa escolaridade do PT irão digitar o número 13 na urna eletrônica no primeiro voto pensando que estão votando para presidente

Pés pelas mãos :: Eliane Cantanhêde

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

BRASÍLIA - A queda de Dilma detectada pelo Datafolha em todas as regiões e faixas não é por acaso.

O escândalo da Casa Civil abalou a fama de boa gerente da candidata e reavivou a lembrança do estilo "mensaleiro" do governo. É inexplicável que Erenice Guerra tenha virado braço direito de Dilma e chefe do principal ministério.

Como pano de fundo, a quebra de sigilo fiscal, os ataques à imprensa e o anúncio de José Dirceu de que Dilma vai implantar o real "projeto político do PT" reabriram velhas desconfianças e fantasmas.

A síntese provavelmente captada pelo eleitor, certa ou errada, é que Dilma encarna um projeto centralizador, frouxo na ética, no qual os agregados vão deitar e rolar.

O papel -ou culpa- de Lula não é desprezível. Desde que a vitória foi dada como certa, ele botou os pés pelas mãos e passou a atrapalhar. Se antes atraía votos, começou a atrair o temor de uma hegemonia sufocante no país.

Ao subir nos palanques raivoso e agressivo, atiçando a militância contra a imprensa e a favor da "extinção" dos adversários, Lula despertou intelectuais, juristas e o ícone dom Paulo, que se sentiram compelidos a chamá-lo à razão.

Podem não ter conseguido, mas conseguiram acender um sinal amarelo na campanha de Dilma, que agora se torna vermelho com a perspectiva de segundo turno.

A oposição, porém, não tem tanto o que comemorar. Marina acelerou, mas não tem gás para chegar em segundo; e Serra tem gás, mas não avança. Ou seja: a vitória de Dilma não parece ameaçada, e o que as pesquisas trazem é uma advertência para ela, para o PT e para Lula: ok, vocês são fortes, mas não são únicos nem podem tudo.

A opinião pública existe, sim, e torce pelo segundo turno como ducha de água fria na fogueira das vaidades e nos excessos de quem se sente dono do país. O Brasil é de todos e não comporta, a esta altura, "pai" ou "mãe" à la Getúlio.

O sonho e o amontoado:: Clóvis Rossi

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

SÃO PAULO - De repente, ouço do cantor e compositor Oswaldo Montenegro, em entrevista para a TV Gazeta, uma frase que, para o meu gosto, é uma síntese quase perfeita para o momento: "Sou do tempo em que a gente sonhava junto; hoje, sonhar junto é cafona".

Vale para as eleições brasileiras. A frieza que as cerca reflete, acho, a falta de sonhos coletivos e o predomínio do individualismo. Essa história de "pai" ou de "mãe", por exemplo, é típica de relação patriarcal, de cima para baixo, bem longe do "somos todos iguais/ braços dados ou não" daquela canção de Geraldo Vandré.Foi um dos hinos da resistência à ditadura.

Por falar em ditadura, nunca esqueci de uma frase que os espanhóis usavam muito, nos anos posteriores à morte de Francisco Franco Bahamonde, o ditador que ganhou a guerra civil (1936/39) e que ficou no poder até morrer, em 1975: "Contra Franco, vivíamos melhor", dizia-se.

Viviam melhor, apesar das perseguições, apesar da ditadura, porque sonhavam juntos e era facilmente discernível quem era mocinho, quem era bandido, conforme o lado que se escolhesse.

As centrais sindicais espanholas que sonhavam junto com socialistas e comunistas, entre outros, lideravam ontem uma greve geral contra as reformas impostas pelos socialistas, que estão no governo e já não sonham, rendem-se ao pesadelo imposto pelos mercados.

Lembrei de Vandré por causa da entrevista que a Globo News anunciava na semana passada e cuja exibição acabei perdendo.

Fui buscar na internet e encontrei uma frase que remete ao início. Questionado sobre em que país vive, Vandré responde:

"Eu até me atreveria a dizer que quem não vive no Brasil é a maioria dos brasileiros. A quase totalidade dos brasileiros não vive mais no Brasil. Vive num amontoado".

A quinta reinvenção de Lula:: Elio Gaspari

DEU EM O GLOBO

Dentro de três meses começará um novo espetáculo político: a reinvenção de Lula. O retirante tornou-se operário, inventou-se como sindicalista, reinventou-se como dirigente político e chegou ao apogeu da metamorfose ambulante como presidente da República.

A partir do ano que vem, precisará reinventar-se. Se a sua candidata prevalecer, será o primeiro presidente que, tendo apontado o sucessor, prosseguiu na vida pública com um projeto político pessoal. Descobrirá que pedestal não tem escada para descida.

Se lhe foi difícil chegar lá em cima, terá trabalho para descer.

Por um breve período passará pela câmara de descompressão de São Bernardo, vendo os jogos do Corinthians, comendo a chuleta do Gigio e jogando conversa fora. Logo, logo, seja qual for o resultado da eleição, será candidato a presidente em 2014. Sem AeroLula, voltando a carregar sua própria mala (como fazia obsessivamente quando viajava ao exterior), reencontrando-se com as maçanetas (porta abre sozinha para os presidentes). Essa é a parte fácil.

A parte difícil será encontrar o ponto de convergência entre o que ele pensa que é e aquilo que realmente passará a ser. Uma das construções está na sua cabeça. A outra, na dos outros.

Nas reinvenções anteriores, Lula superou obstáculos difíceis e até mesmo certezas de que tentava o impossível.

Esse será seu novo espetáculo.

Não terá mais dezenas de jornalistas acompanhando-o. Muito menos cercadinhos para mantê-los à distância.

Durante toda a sua carreira como oposicionista, Lula teve uma relação privilegiada e até mesmo cúmplice com as plateias. Quem ia ouvi-lo estava ao seu lado ou, pelo menos, dispunhase a entendê-lo. Em oito anos de Presidência, habituou-se a uma forma peculiar de diálogo, permitida pelo cargo. Ele monologa, e a contradita vem depois. Na oposição, quando dizia que Napoleão foi à China ou que Oswaldo Cruz descobriu a vacina da febre amarela, dava-se pouca importância ao absurdo. Na Presidência, quando disse isso, não teve resposta imediata de um interlocutor que corrigisse a bobagem.

Na busca de uma agenda internacional, Lula pretende fazer um roadshow com Dilma Rousseff, mas não se sabe o que fará se o eleito for outro. Nosso Guia andará pelo mundo com duas bolas de ferro. A do companheiro Ahmadinejad mostrou seu peso na indelicadeza da delegação israelense ao boicotar o discurso do chanceler Celso Amorim na última Assembleia Geral da ONU. O estrategista que se meteu no rolo do Oriente Médio, apresentando-se como mais um interlocutor na busca do diálogo, mutilou sua capacidade de conversar direito com uma das pontas do problema. A bola de ferro dos camaradas Castro coloca-o na dependência de uma improvável abertura política em Cuba.

Lula sonha com o que chama de uma frente de esquerda. Em 2003, quando entrou no Planalto, essa possibilidade existia, mas o que seria uma frente de esquerda hoje? Que esquerda quer se meter com o Ereniçário, versão decadente do aparelho construído por José Dirceu, que hoje está sub judice no Supremo Tribunal Federal? No jogo de esquerda-direita, o que Nosso Guia conseguiu foi rearticular a direita paleolítica. Como esse bolsão de militância tem tudo, menos votos, Lula tirou partido da fúria de seus adversários.

Daí a chamar de esquerda uma coligação que em São Paulo tem no palhaço Tiririca o puxador de votos de sua legenda para deputado federal, vai boa distância. Nunca é demais lembrar que fenômenos como Enéas e o rinoceronte Cacareco não estavam coligados com outros partidos.

Dá pena pensar na possibilidade de alguns candidatos petistas virem a dever suas cadeiras na Câmara aos votos do deputado Tiririca.

Uma vitória de Dilma Rousseff significará o início da experiência do lulato. Terá que inventar um sistema de mando ao modo Pinheiro Machado: nem tanto que digam que ela faz o que eu digo, nem tão pouco que achem que não me ouve. Pode-se arriscar a previsão do ponto de onde sairá uma faísca num eventual governo de Dilma: dos interesses de bons amigos na Anac e na Infraero.

Em tese, Lula faria o mesmo que fez Fernando Henrique Cardoso. Aluga um belo prédio e vai organizar seminários.

Afinal, acha que fez isso no Instituto da Cidadania. Entre ele e o tucano há enormes diferenças. Um saiu do governo para não mais voltar. Ele, não. Ademais, o príncipe da sociologia é capaz de passar duas horas trancado, lendo, ou ouvindo. Lula não gosta de fazer qualquer das duas coisas por mais de 15 minutos. FH tem fama de vaidoso, mas o Padre Eterno deu-lhe suficiente paciência para abrandar o egocentrismo. Nisso, foi malvado com Nosso Guia e com o pavão, a quem deu aqueles pés medonhos.


Elio Gaspari é jornalista

Do alto do salto:: Dora Kramer

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Em 2006 o presidente Luiz Inácio da Silva errou ao faltar ao debate da TV Globo. João Santana, o conselheiro de marketing presidencial, logo depois da reeleição atribuiu a isso - mais que ao escândalo dos aloprados - a insuficiência de votos para a vitória no primeiro turno.

Agora Lula errou ao ter pesado a mão além dos limites do aceitável até para personalidades que tradicionalmente estiveram ao lado dele e que estão acima de qualquer querela partidária. D. Paulo Evaristo Arns, por exemplo, o primeiro signatário do manifesto em defesa da democracia, simbolicamente lido no Largo de São Francisco (SP) por Hélio Bicudo.

Lula achou que era preciso uma reação forte para tentar neutralizar os possíveis efeitos das notícias sobre as negociatas de Erenice Guerra e companhia a partir da Casa Civil.

Acabou exagerando na visão do público que se sensibiliza com roubalheiras e dando a ele, o público, a impressão de que ele, Lula, estava se achando o dono do mundo e da vontade alheia.

Comprou uma briga inglória e deu margem à manifestação de contrariedade de muita gente que estava politicamente inerte. Por vários motivos, entre eles ausência de entusiasmo em relação à candidatura de José Serra.

O resultado apareceu nos índices da candidata Dilma Rousseff. Haveria outra forma de o presidente administrar o problema que surgiu a 15 dias da eleição?

Seria muito arriscado fazer como de outras vezes e ignorar a história cabeludíssima. Mas era preciso, ao mesmo tempo, construir alguma justificativa para se contrapor aos fatos tão eloquentes.

O presidente convocou a culpada de sempre, a imprensa, e caprichou no contra-ataque. Esperto, não deu nomes a esses nem àqueles. Protestou genericamente contra entidades conspiratórias (ao molde das "forças ocultas", de Jânio Quadros) e achou que assim apagaria as evidências.

Uma pessoa menos autoconfiante, ou em crise menos aguda de exacerbação da autoconfiança, teria tomado as providências, demissões, pedido de investigações, condenação dos atos e daria por entregues os "lamentáveis fatos à polícia".

Não teria achado que pode tudo contra todos e se arriscado a, de novo, produzir um indesejado segundo turno. Que, aliás, se acontecer, fará o PT encerrar a primeira etapa da eleição na condição de vencedor, mas com jeito de derrotado.

Parado no ar. Os argumentos dos ministros do Supremo fazem sentido. A exigência de dois documentos para votar restringe mesmo o acesso às urnas. Mas, como o Congresso aprova algo assim, como o PT apoia (depois alega inconstitucionalidade) e Lula sanciona?

Falta de atenção institucional. No caso do presidente, falta de Casa Civil profissional e competente.

Uma ou outra. Não dá para o PSDB ao mesmo tempo defender a liberdade de expressão e pedir censura para pesquisas de intenção de votos, como fez o tucano Beto Richa no Paraná com o Datafolha.

Há "democratas" - no sentido adjetivo, não de nome próprio do partido - que justificam o pedido de interdição de pesquisas dizendo que elas muitas vezes são usadas indevidamente e que influenciam o eleitor.

Pois é, a liberdade é assim, irrestrita: por isso também dá margem a deformações, causa desconforto e contraria.

Para resolução de insatisfações como essa da divulgação de pesquisas às vésperas das eleições e até mesmo da dupla jornada de alguns institutos que trabalham para campanhas, a solução é via Congresso.

Quem tiver força política e argumentos convincentes que tente aprovar alguma regulação legal.

Ocorre que políticos não fazem isso porque nem sempre é uma questão de princípio, mas de circunstância. Têm receio de que amanhã ou depois possam ser favorecidos por aquilo que criticam hoje.

Só não dá para querer resolver os problemas na base da censura. É mais fácil, mas custa caríssimo.

Sopa de chuchu sem sal :: Villas-Bôas Corrêa

DEU NO JORNAL DO BRASIL

Não sei se alguém já tentou fazer o prato mais insosso que conseguiu imaginar. Mas é o que imagino de mais parecido com a campanha eleitoral, com a vitória virtualmente assegurada do presidente Lula, que deve ser reeleito com o pseudônimo de Dilma Rousseff. A oposição não conseguiu inscrever um candidato com as mínimas possibilidades de vitória. No vácuo da campanha sem mote do tucano José Serra, que repetiu como papagaio ensinado a lista de milagres que realizaria quando eleito, e a verde Marina Silva, que pregou a urgência da defesa do meio ambiente. E ficamos por aí.

A verdade é que a campanha não era mais para valer, uma brincadeira do faz de conta para fugir dos temas ausentes, taticamente escondidos no ridículo do programa de propaganda eleitoral, com o patusco blá-blá-blá de candidatos que não diziam coisa com coisa e pior quando tentavam propor soluções para a crise da desmoralização do Legislativo e a orgia de gastos do Executivo.

Mas não havia como consertar o pau que nasceu torto. A campanha fugiu sempre, no blá-blá-blá dos candidatos dos temas que a desafiavam e para os quais nem governo nem oposição têm propostas claras e viáveis.

A bagunça que se instalou no Legislativo, com o avanço ao cofre da Viúva para o mais descarado saque que transformou o mandato de senador e de deputado copiados pelas assembleias estaduais e câmaras municipais num dos melhores empregos do mundo, só tem paralelo na distribuição de sinecuras aos seus cupinchas nos dois mandatos do presidente Lula, o viajante que correu o mundo na cabala para o reconhecimento como o líder mais popular do planeta.

Ninguém na campanha apresentou uma proposta para enxugar o monstrengo do ministério que inchou até a obesidade mórbida, a reclamar dieta severa, a pão e laranja.

E o que se propôs para moralizar Brasília, a capital construída pelo presidente Juscelino Kubitscheck e inaugurada antes de estar pronta em 21 de abril de 1960, um canteiro de obras no lamaçal do planalto? Dos 350 mil habitantes, nela se espremem mais de 3 milhões. Em vez do Distrito Federal, sede dos três poderes, é uma cidade com governador, assembleia legislativa, câmara municipal invadidas pelos rorizes, com os espetáculos da distribuição de pacotes de propinas escondidas nas meias, nas cuecas.

No terceiro mandato de Lula-Dilma não há uma gaveta de escrivaninha para tais aborrecimentos. Mas, certamente, continuaremos a construir milhares de casas populares, a distribuir cestas básicas que garantem as três refeições diárias dos pobres e demais itens da rotina de trabalho do presidente Lula. A malha rodoviária em pandarecos depois dos temporais deste ano continuam à espera de reparos. Não se pode fazer tudo ao mesmo tempo.

Depois, ninguém é de ferro. O presidente precisa viajar, conhecer o mundo para ser conhecido. E, reconheça, nenhum presidente na história viajou mais do que o presidente Lula. A presidente Dilma Rousseff parece mais sossegada.

Os servidores do Palácio do Planalto vão estranhar muito.

Uma democracia sem adjetivos vai às urnas: Maria Inês Nassif

DEU NO VALOR ECONÔMICO

"Hegel observa em uma de suas obras que todos os fatos e personagens de grande importância na história do mundo ocorrem, por assim dizer, duas vezes. E esqueceu-se de acrescentar: a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa." Esta é uma das mais repetidas afirmações do filósofo alemão Karl Marx, que abre "O 18 Brumário", talvez porque a realidade sempre se confronte com formas de farsas saudosas de tragédias.

O clima criado nestas eleições foi uma farsa inspirada na tragédia de 1964. Chegou-se ao grotesco. A guerra eleitoral ressuscitou de um passado que merece ser deixado para trás teses paranoicas de implantação de uma república sindicalista ou do comunismo totalitário, e acusou e pintou de tintas fortes supostos algozes da democracia. É uma situação irreal, pois o cenário dessa batalha é uma campanha eleitoral onde todas as instituições democráticas estão a postos e operantes: partidos legalmente constituídos apresentam seus candidatos aos eleitores e pedem seus votos; o acesso ao eleitor é democraticamente garantido por leis estáveis; uma Justiça que bate a cabeça, mas julga, mantém-se como poder independente; um governo eleito e reeleito pelo voto direto governa; o Congresso faz leis; a polícia investiga, criminosos vão para a cadeia. O país tem um presidente que, a despeito da alta popularidade, rejeitou artifícios constitucionais comuns no continente para concorrer a um terceiro mandato, afastando os exemplos de Hugo Chávez, da Venezuela, e Álvaro Uribe, da Colômbia. A oposição fala o que quer - e raras vezes na história falou tantos desaforos contra autoridades elevadas ao poder pelo voto popular. Aliás, não disse um centésimo deles a militares eleitos por Colégios Eleitorais, na ditadura militar.

Enfrentar a candidata de um presidente com 79,4% de aprovação, segundo o CNT/Sensus divulgado ontem, não é uma tarefa fácil, mas a disputa democrática em nenhum momento deve usar de qualquer meio para chegar a um fim. A mobilização de setores conservadores, a ida à caserna com discursos de "denúncia" de supostos atentados à democracia, o insuflamento do clima de Guerra Fria 20 anos depois da queda do Muro de Berlim, o terror à mobilidade social - tudo isso traz do passado o que o Brasil não gostaria de recriar para o seu futuro. Os velhos medos conservadores não cabem no novo mundo. Nem no Brasil de 2010. E são eles que estão sendo chamados às urnas, na impossibilidade de interlocução com setores que fogem ao controle da política tradicional.

Esse clima tirou do eleitor oportunidades preciosas. Como, por exemplo, a de ouvir do candidato do PSDB, José Serra, algum projeto coerente de Brasil para um eventual governo tucano. A campanha de Serra voltou ao período pré-governos FHC, onde as promessas surgiam do nada e visavam atingir um público sem discernimento. As campanhas eleitorais pós-Collor - que deram dois governos a Fernando Henrique Cardoso e dois a Luiz Inácio Lula da Silva - introduziram no linguajar de campanha a promessa responsável, que tinha que vir com a devida prova de que o Orçamento permitiria seu cumprimento. Serra vai asfaltar a Transamazônica, aumentar o salário mínimo para R$ 600 e dar 10% de aumento para os aposentados no ano que vem - e vai prometer o que mais vier à cabeça com o fim de suplantar o apelo popular de Dilma Rousseff (PT), a candidata que vem com o carimbo de Lula.

Dilma, por sua vez, ao se colocar na defensiva e grudar a sua imagem no governo de Lula, deixou de dizer muito. "Estamos no meio de uma guerra cambial internacional", constatou o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Os EUA e a China protagonizam a guerra. "Quando dois elefantes deste porte lutam, os espectadores podem ser pisoteados", alerta Martin Wolf, do Financial Times, no artigo "Guerras cambiais e demanda fraca", publicado no Valor de ontem. O eleitor vai para as urnas sem saber o que a candidata favorita da disputa fará para desarmar a armadilha cambial, como ela vê a política de juros de Lula e como conduziria a política monetária, antes que as patas dos elefantes repousem num país que vive o seu maior período de estabilidade, e gostaria de aproveitá-lo para vencer a desigualdade e a pobreza.

Do debate eleitoral, também escapou o que pensa Marina Silva (PV), que cresceu nos últimos dias de campanha e tende a se consolidar como uma nova e bem-vinda liderança no cenário nacional. Para não ser acusada de candidata de uma nota só, engrossou o seu programa com vários outros temas, mas sem conseguir vencer a contradição de ser uma candidata que veio da esquerda e se encontrou no centro com outras pessoas - pessoas de bem, que se diga. Um programa bem intencionado não revela, todavia, uma proposta que transcenda a ideia central da sustentabilidade.

Vamos para as urnas no domingo. Faltou informação relevante para a decisão do voto, sobraram boatos e vitupérios. Ainda assim, vamos votar num país governado por um presidente eleito pelo voto popular, com um Congresso funcionando e uma Justiça atuante. Nosso voto será direto e secreto. Os eleitos serão empossados. Os derrotados à Presidência farão oposição; os vencedores serão legítimos governantes. Assim é a democracia. Que o bom senso dos atores políticos não a levem de novo para dentro dos quartéis. Deixem o país fora disso. O voto direto e secreto tem que ser capaz de resolver as diferenças políticas entre os brasileiros.


Maria Inês Nassif é repórter especial de Política. Escreve às quintas-feiras

Pesquisa eleitoral e 'opinião pública' – Editorial/ O Globo

Mesmo que a candidata Dilma Rousseff ganhe a eleição no primeiro turno, como confirmado pela pesquisa Ibope/CNI divulgada na manhã de ontem, a sinalização dada por sondagens anteriores de que a fatura poderá não ser liquidada no domingo merece uma reflexão sobre a democracia brasileira.

E ela deve ser feita à luz dos recentes arroubos do presidente Lula, cabo eleitoral-chefe da candidata, em relação à imprensa profissional e ao que ele entende sobre opinião pública.

Parece claro que, mais uma vez, como em 2006, quando os aloprados petistas assustaram eleitores, a questão moral surge como fantasma para o candidato oficial. Em 2006, era Lula em busca da reeleição. Agora, Dilma é atingida, em alguma medida, por estilhaços da implosão de sua ex-braço direito Erenice Guerra junto com uma casamata de lobby edificada na Casa Civil. Se a comprovada invasão criminosa de arquivos fiscais de tucanos e cidadãos comuns na Receita, área da máquina pública em que se abrigam aparelhos sindicalistas ligados ao PT, parece não ter sido compreendida pela população, o uso da Casa Civil para a venda de facilidades a empresários teve, pelo menos num primeiro momento, algum impacto no eleitorado.

Mesmo que o prejuízo para a candidata Dilma seja absorvido até domingo, fica a conclusão que mesmo o presidente mais popular da História republicana do Brasil não pode tudo, felizmente.

É preocupante que na esteira da campanha eleitoral, em que Lula se joga por inteiro, sem maiores cuidados com limites institucionais e leis, surja a ideia inaceitável de que o apoio popular dá sinal verde ao poderoso de turno.

De visível contaminação chavista, esta percepção do poder do homem público de alta popularidade é perigoso e crasso equívoco.

Sem respeito à Carta e instituições, resvala-se para a barbárie, o regime da lei do mais forte nas ruas. Se assim fosse, teríamos de nos curvar a Hitler e Mussolini apenas porque chegaram ao poder nos braços do povo.

Há no Brasil de hoje, além de instituições que dão mostras de solidez Poder Judiciário, Ministério Público, por exemplo , uma classe média em fase de expansão que serve de suporte para estas mesmas instituições.

Arroubos como o do presidente ao se declarar dono da opinião pública rendem dividendos negativos. A opinião pública não tem donos, ela se forma à medida que se informa e das mais diversas maneiras, inclusive pela imprensa profissional, cujo coração é a credibilidade construída, em alguns casos, em mais de um século de atuação. É por isso que o discurso ameaçador da estabilidade, capaz de projetar nuvens negras no futuro, é logo rejeitado pelas faixas mais instruídas e de renda mais elevada da população.

Alvejar a imprensa independente, defender o radicalismo da época de resistência à ditadura não é discurso de fácil trânsito junto às classes médias. Elas sabem que Dilma não é a mulher de Lula, querem tranquilidade e crescimento econômico para continuar a ascender na escala social. Portanto, não importa se vença Dilma, Serra ou Marina, a sociedade está madura para rejeitar salvadores da pátria, hipnotizadores de rebanhos sem opinião própria. O clima de bem-estar econômico se revela cabo eleitoral poderoso.

Mas daí a se projetar um Brasil dominado pelo cesarismo, vai grande distância.

A “onda verde”, com seus limites, em lugar da “onda vermelha” :: Jarbas de Holanda

1) Os dados da pesquisa Datafolha divulgada ontem recriaram uma possibilidade concreta de 2º turno na disputa presidencial. Que será reforçada, ou atenuada, pelos de outro grande levantamento das tendências eleitorais que está sendo processado, o do Ibope. E que acentuou a importância do debate dos presidenciáveis amanhã à noite na Globo. O Datafolha constatou que as denúncias de escândalos em órgãos federais (a partir das relativas à violação pela Receita do sigilo fiscal de muitos contribuintes, entre os quais familiares do candidato oposicionista José Serra e outras pessoas ligadas ao PSDB, seguidas e agravadas pelas de abusivo tráfico de influência na Casa Civil, bem como pelas reações do governo contra a imprensa com o propósito de abafá-las ou desacreditá-las) que tudo isso terminou sensibilizando parcelas expressivas do eleitorado. Com efeitos enfim traduzidos numa queda de 3%, para 46% , das intenções de voto de Dilma Rousseff, sobretudo no Sul e n Sudeste mas também nas demais regiões, e numa redução a 2% da vantagem dos votos válidos dela sobre os da soma dos adversários. E com dois outros indicadores preocupantes para o Palácio do Planalto e sua candidata – a queda maior, de 5%, se deu no contingente de eleitores que ganham entre 2 e 5 salários mínimos, que constituem 33% da população, e o crescimento do índice de rejeição dela de 21% para 27%.

2) A pesquisa constatou também que essa queda não se deveu a uma elevação do índice do principal adversário de Dilma, José Serra, mantido em 28%, mas teve como beneficiária direta a candidatura de Marina Silva. Que seguiu se fortalecendo, atingindo agora os 14% (quatro pontos além dos 10% que tinha no início de setembro). Seu crescimento resulta da atração de indecisos e de eleitores próximos do PT, que se inclinavam a votar em Dilma. E é sobretudo numa aposta no adensamento desses eleitores, afetados pela repercussão dos escândalos, que se baseia o empenho de Marina e seus apoiadores por uma “onda verde” no final da campanha, que a leve a uma disputa final com Dilma Rousseff. Empenho estimulado pela ultrapassagem de Serra por ela já conseguida no Rio de Janeiro e em Brasília e por avanço de seu baixo índice anterior em São Paulo, em Porto Alegre e em capitais das regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste, em especial em Salvador.

3) Mas sobram poucos dias para que a campanha de Marina – de um lado, dependente de débil estrutura partidária e destituída de palanques estaduais; de outro, contando só com a metade dos 28% de intenção de votos bem estabilizados do candidato tucano – logre dar a essa “onda” dimensão verdadeiramente nacional e viabilizar o objetivo eleitoral que passou a propor-se. Em face de tais obstáculos e limites, o provável é que à persistência do crescimento da candidatura dela, se chegar a empurrá-la para perto dos 20% (o que era impensável até há pouco), consiga forçar o 2º turno entre Dilma e Serra.

4) Esse crescimento está tendo já, porém, uma consequência política importante: o “risco” que ele gera de um 2º turno coloca o presidente Lula e a campanha de Dilma na defensiva. O receio da concretização de uma “onda verde” em torno de Marina interrompe, pelo menos no Centro-Sul do país, a “onda vermelha” que o PT começava a desencadear (e se intensificaria esta semana), em sintonia com diretivas e metas expostas a militantes do partido duas semanas atrás em Salvador por José Dirceu, e sentindo-se respaldado pela retórica radical usada por Lula contra a mídia e todos aqueles identificados como “inimigos do governo”, em especial candidatos oposicionistas aos governos de estados e ao Senado.

5) Os sinais, progressivos, de que as denúncias dos escândalos passavam a sensibilizar também as classes C e D impuseram rapidamente a troca de respostas agressivas do presidente e de sua candidata, por manifestações de reverência à liberdade de imprensa, em favor de “apuração rigorosa de irregularidades que tenham sido cometidas” (que antes eram factóides) e com recomendação de “discursos moderados nos palanques”. Uma das ações da “onda vermelha” – o encontro realizado em São Paulo por pelegos sindicais e representantes do MST contra o “golpismo da mídia” – teve logo evidenciado seu caráter antidemocrático, chavista, e se esgotou em si mesmo. Numa mudança de postura indicada por marqueteiros mas positiva política e institucionalmente, como a adotada por Dilma ao afirmar dias atrás que “a única censura a ser feita à mídia é a do controle automático da televisão”. O papel desempenhado por Marina Silva para a melhoria do clima político é mais uma contribuição da campanha dela ao pluralismo democrático.

É jornalista

MPE ajuiza ação contra Dilma por uso da máquina

DEU EM O GLOBO

BRASÍLIA. A vice-procuradora eleitoral, Sandra Cureau, decidiu representar contra a candidata do PT, Dilma Rousseff, e a ministra da Secretaria de Política para as Mulheres, Nilcéa Freire, acusando-as de uso da máquina pública para fazer propaganda eleitoral subliminar em favor da candidata petista em material distribuído pela secretaria. Na representação junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Sandra Cureau afirma que o uso da máquina pública se deu por meio de distribuição de cartilhas, cartazes e principalmente o livro Mais mulheres no poder, uma questão de democracia, que defende o voto em mulheres.

Ela pede que o TSE aplique multa às duas.

O material foi distribuído para partidos políticos, parlamentares e candidatos nos estados; no dia 15 de julho, depois que a prática foi denunciada pela imprensa, a secretária interrompeu a distribuição. Na ação, Sandra Cureau afirma ainda que os autores alegam que o objetivo das publicações foi o de defender o voto em mulheres, mas que não há na publicação qualquer referência a Marina Silva, do PV, candidata que disputa a eleição com Dilma.

Na PF, ex-assessor da Casa Civil fica calado

DEU EM O GLOBO

Sônia Castro, mãe de Vinícius, também não responde às perguntas

Jailton de Carvalho

BRASÍLIA. Depois de adiarem por dois dias a data do interrogatório, Vinícius Castro, ex-assessor da Casa Civil, e a mãe dele, Sônia Castro, compareceram ontem à Polícia Federal para prestar depoimento, mas se recusaram a responder as perguntas do delegado Roberval Vicalvi, encarregado do inquérito. Vinícius é um dos suspeitos de tráfico de influência no governo, em associação com Israel e Saulo Guerra, filhos da ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra.

Saulo Guerra é dono da Capital Consultoria e Assessoria, empresa acusada de tráfico de influência na Casa Civil, na qual Israel costumava atuar.

Sônia Castro é uma das sócias da empresa. Segundo o advogado Emiliano Aguiar, Vinicius Castro e a mãe se valeram do direito de permanecer calados e só devem falar sobre as acusações que pesam contra eles no final das investigações.

Castro foi afastado da Casa Civil depois da descoberta de que ele e Israel estariam por trás da Capital Consultoria, empresa que teria sido contratada para intermediar negócios da Master Top Airlines (MTA) na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e nos Correios. Os irmãos também são acusados pelo empresário Rubnei Quícoli de cobrar uma propina de R$ 5 milhões para intermediar a aprovação de um projeto da empresa EDRB, de Campinas (SP), junto ao BNDES

Filhos de Erenice só vão depor depois da eleição

DEU EM O GLOBO

Ex-diretor de Operações dos Correios vai ser ouvido pela PF amanhã

BRASÍLIA. A Polícia Federal também está tendo dificuldades de conhecer as explicações dos irmãos Israel Guerra e Saulo Guerra, filhos da ex-ministra Erenice Guerra, sobre o escândalo. Só ontem, depois de várias tentativas, o delegado Roberval Vicalvi conseguiu marcar os depoimentos dos dois irmãos para terça-feira, depois das eleições.

Os depoimentos foram marcados a partir de uma conversa entre o delegado e o advogado de Israel e Saulo.

O advogado disse à PF que os dois irmãos estão viajando e que só retornam a Brasília no sábado. O delegado decidiu, então, que eles seriam interrogados na terçafeira.

No início da semana, a PF chegou a cogitar a possibilidade de pedir autorização à Justiça para que os dois fossem levados a força para depor.

Amanhã, a PF deverá ouvir o ex-diretor de Operações dos Correios Marco Antônio Oliveira, também acusado de envolvimento com Israel e Vinícius Castro na intermediação de negócios entre empresas privadas e o governo. Demitido por Erenice dos Correios, Oliveira foi o primeiro a fazer denúncias à imprensa sobre as supostas irregularidades dos negócios do filho da ex-ministra.

Aécio já fala em buscar apoio de Marina

DEU EM O GLOBO

Ex-governador se oferece a Serra para negociar aliança com verde no 2º turno

Adriana Vasconcelos
Enviada especial

BELO HORIZONTE e BARUERI (SP). Para o ex-governador mineiro Aécio Neves, o principal desafio do PSDB, num eventual segundo turno da disputa presidencial, será garantir o apoio da candidata do PV, Marina Silva.

Aécio considera fundamental que, com esse objetivo, o partido faça um ajuste na campanha do candidato tucano, José Serra, aproximando o discurso do partido do sentimento dos eleitores do PV.

Desde já, ele se põe à disposição da cúpula tucana para ajudar na definição dessa estratégia.

Serra e Aécio deverão ter hoje uma reunião no Rio, antes do último debate entre os presidenciáveis, na TV Globo.

Aécio: é natural uma aproximação com PV

Aécio foi cauteloso, ao falar sobre um eventual apoio de Marina à Serra no segundo turno, até para não melindrar a candidata verde. Assim como o tucano, ela está crescendo nas pesquisas e ainda crê que possa chegar ao segundo turno. O ex-governador mineiro, porém, frisou que considera natural uma aproximação de PSDB e PV num eventual segundo turno.

Vejo algumas afinidades que podem nos aproximar ou aproximar os eleitores da Marina, se ela, eventualmente, não chegar ao segundo turno. Respeito muito a Marina e tenho me referido a ela como uma postulante ainda a também estar no segundo turno. Mas, acreditando que Serra tem mais condições, precisamos de um discurso que nos aproxime do sentimento dos eleitores da Marina.

Aqui em Minas isso acontecerá com muita naturalidade, até porque grande parte do PV em Minas está conosco e participa do nosso governo.

Diante da perspectiva de que várias disputas estaduais sejam decididas em primeiro turno, como em Minas, Aécio diz considerar que isso possibilitará que as principais estrelas tucanas possam se dedicar à campanha nacional do PSDB, num eventual segundo turno: Acredito muito no segundo turno. A partir do momento que várias situações regionais estiverem resolvidas, e espero que entre elas esteja Minas Gerais, teremos uma disponibilidade maior para estar no dia a dia da campanha nacional, inclusive, discutindo politicamente qual a linha deve ser tomada.

Não só eu, como vários outros líderes regionais. Desde já, me coloco inteiramente à disposição para essa segunda etapa.

Aécio avalia que, ao final do primeiro turno, será inevitável que o PSDB faça uma análise de seus erros e acertos, até para fazer as correções de rumo na campanha de Serra num possível segundo turno: É natural que no segundo turno se faça uma análise dos acertos e equívocos da campanha para iniciar uma nova fase.

Estou otimista, e já disse ao Serra, e vamos nos unir todos para permitir que o Brasil tenha um governo diferente, que, de forma mais clara, respeite a democracia e as nossas instituições

Serra: segundo turno será mais fácil

Serra disse ontem em Barueri, na Região Metropolitana de São Paulo, que a campanha no segundo turno será mais fácil porque líderes, como Aécio, poderão se empenhar mais na disputa: Ele vindo para campanha, fica mais fácil, porque o Aécio esteve na campanha dele, cada um esteve em sua campanha, em seu lugar. Não estou dizendo que está na hora de entrar nem de não entrar. Estou apenas dizendo que, no momento que você não tem mais eleições estaduais, há tem outra dinâmica disse o candidato tucano, após o comício

Colaborou: Adauri Antunes Barbosa

Ibope e Datafolha divergem sobre Dilma

DEU EM O GLOBO

Dilma fica estável no Ibope, enquanto no Datafolha ela teve queda; consultas foram feitas em períodos diferentes

André de Souza

BRASÍLIA. A incógnita sobre a realização de um segundo turno se mantém, após a divulgação ontem de nova pesquisa Ibope.

Enquanto levantamento do Datafolha, divulgado segunda-feira, apontava queda da candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff o que aumentava as chances de um segundo turno , o Ibope indica que a petista venceria no primeiro turno.

A pesquisa Ibope, encomendada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), mostra Dilma em situação estável, com 50% das intenções de voto. José Serra (PSDB) perdeu um ponto e tem 27%, enquanto Marina Silva (PV) subiu um ponto e está com 13%. Os outros candidatos somam 1%. Votos em branco e nulos somam 4% e indecisos, 4%. A margem de erro é de dois pontos percentuais. Levando-se em conta só os votos válidos, Dilma tem 55% das intenções de voto; Serra, 30%; e Marina, 14%.

Anteontem, o Datafolha divulgou pesquisa em que a petista caiu três pontos, mas ainda liderava a disputa com 46% das intenções de voto, contra 27% do tucano e 13% de Marina. Nos votos válidos (sem nulos, em branco e indecisos), Dilma somou 51%, contra 49% dos demais candidatos. A vantagem de Dilma sobre os seus adversários caiu de sete para dois pontos percentuais em uma semana, segundo a pesquisa Datafolha, realizada segunda-feira.

Já Sensus mostra queda de Dilma

O Ibope apurou o índice de rejeição dos candidatos. Serra é rejeitado por 34% dos eleitores, enquanto 28% disseram que não votariam em Marina de jeito algum e 27% disseram o mesmo sobre Dilma. Numa simulação de segundo turno, Dilma derrotaria Serra por 55% a 32%.

O Ibope ouviu 3.010 pessoas, em 191 municípios entre os dias 25 e 27 de setembro. A pesquisa está registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com o número 33162/2010.

Já uma pesquisa Sensus divulgada ontem, encomendada pela Confederação Nacional dos Transportes (CNT), aponta uma queda de três pontos percentuais de Dilma confirmando a tendência apontada pelo Datafolha.

Ainda assim, o levantamento da CNT/Sensus aponta vitória de Dilma no primeiro turno, com 47,5% das intenções. Serra aparece com 25,6%, e Marina, com 11,6%.

Os demais candidatos juntos somam 2,1%. Em branco e nulos são 3,6%, e indecisos, 9,5%. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais para mais ou para menos.

Dilma interrompe queda

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

A candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, estancou a tendência de perda de votos dos últimos 20 dias e mantém seu favoritismo. Segundo pesquisa nacional Datafolha feita ontem e anteontem, Dilma oscilou positivamente um ponto e tem 52% em votos válidos. José Serra (PSDB) variou um ponto para baixo e ficou com 31%,mesmo movimento de Marina Silva (PV), que passou de 16% para 15%.

Dilma para de cair, tem 4 pontos a mais que soma dos rivais e 2º turno é incerto

Candidata do PT tem 52% dos votos válidos, contra 48% de todos os demais presidenciáveis, aponta Datafolha

Serra oscila 1 ponto para baixo e Marina mantém índices; petista mostra recuperação em alguns dos estratos e regiões

Fernando Canzian

DE SÃO PAULO - A candidata à Presidência da República Dilma Rousseff (PT) conseguiu estancar a tendência de perda de intenções de voto dos últimos 20 dias e mantém seu favoritismo na atual disputa eleitoral.

Segundo pesquisa nacional do Datafolha, encomendada pela Folha e pela Rede Globo e realizada ontem e anteontem com 13.195 eleitores, Dilma oscilou positivamente um ponto em relação ao último levantamento e tem 52% dos votos válidos na projeção para o primeiro turno.

Seu principal adversário, José Serra (PSDB), oscilou um ponto para baixo e tem hoje 31% dos votos válidos. Marina Silva (PT) também variou negativamente um ponto, e está com 15%.

A soma dos adversários de Dilma é de 48% dos válidos. Ela precisa de 50% mais um voto para vencer domingo.

Como a margem de erro do levantamento é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos, é impossível afirmar com segurança que não haverá segundo turno.

Considerando essa margem, Dilma pode, em seus limites, vencer com cerca de 54% dos votos válidos ou ter de enfrentar outra rodada eleitoral em 31 de outubro.

No último levantamento do Datafolha, realizado na segunda-feira, Dilma havia perdido apoio ou oscilado negativamente em todos os estratos da população.

Essa queda parece ter estancado. Dilma chegou a se recuperar no Sul, entre os eleitores de 35 a 59 anos e entre os que ganham entre dois e cinco salários mínimos (R$ 1.020 e R$ 2.550) -faixa em que tinha perdido mais votos no levantamento anterior.

A petista também oscilou positivamente, dentro da margem de erro, em vários estratos da população, como entre eleitores com ensino fundamental e do Sudeste.

MOVIMENTOS

"Ao menos momentaneamente, Dilma parou sua tendência de perda de votos", afirma o diretor-geral do Datafolha, Mauro Paulino.

Antes da divulgação da quebra de sigilo fiscal de tucanos e da demissão da ex-braço direito de Dilma na Casa Civil, a ex-ministra Erenice Guerra, a petista chegou a ter 57% dos votos válidos.

Duas semanas depois dos escândalos, Dilma caiu para 51%, perdendo nacionalmente cerca de 6 milhões de votos no período. Agora, a candidata oscila positivamente para 52%.

Na simulação de segundo turno, a petista oscilou positivamente um ponto. Passou de 52% para 53%. O tucano manteve seus 39%.

Sobre o conhecimento do número dos candidatos, 55% acertam os algarismos e 40% admitem desconhecê-los.

No caso de Marina, apenas 39% citam corretamente o seu número. No de Dilma, 64%; e no de Serra, 53%.

Aécio marca reunião com Serra e diz que tucano tem sido 'um leão' na reta final

Deu na Folha.com

Paulo Peixoto

DE BELO HORIZONTE- O ex-governador Aécio Neves (PSDB), candidato ao Senado por Minas Gerais, disse nesta quarta que o presidenciável tucano José Serra "tem sido um leão nessa reta final da campanha".

Em campanha ontem pela cidade de Nova Lima (região metropolitana de Belo Horizonte), Aécio disse ter conversado com Serra no começo da tarde --"até porque não se fala com Serra muito cedo"-- e acertaram uma reunião para antes do debate da TV Globo, no Rio, o último da campanha, caso não haja segundo turno.

O mineiro disse que Serra também está otimista com relação à passagem para o próximo turno e que ele está "se desdobrando" por isso.

"Vou estar no Rio acompanhando esse momento final da campanha, e há um sentimento generalizado no Brasil, tenho falado com outras lideranças, com outros candidatos a governo de outros Estados, de que essa curva, essa onda final, pode realmente nos levar ao segundo turno", disse.

Ele disse que outro turno possibilitará que o país conheça "de forma mais profunda e mais clara", o perfil, a história e os verdadeiros compromissos de cada candidato.

"No segundo turno não dá para nenhum candidato se esconder dos debates, dos grandes temas nacionais. E acredito que aí o nosso companheiro Serra pode levar uma boa vantagem", disse.

Se ganhar no 1º turno, Dilma terá pouco ganho político, diz FHC

Deu na Folha.com

DA REUTERS

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) avalia que uma eventual vitória da petista Dilma Rousseff já no primeiro turno da eleição presidencial pode não lhe trazer os ganhos políticos que normalmente vêm com um resultado desse tipo.

Para FHC, isso se daria porque a eleição de Dilma no próximo domingo seria mais uma vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva do que dela mesma. Além disso, argumentou, o escândalo envolvendo Erenice Guerra, que era secretária-executiva da Casa Civil quando Dilma era ministra da pasta, também cobrará seu preço.

O ex-presidente fez questão de ressaltar, porém, que acredita que a eleição terá um segundo turno entre Dilma e o candidato de seu partido, José Serra.

"Em condições normais, a vitória no primeiro turno dá muita força política ao novo presidente e torna seu apoio político no Congresso mais fácil", disse FHC.

"No caso da Dilma é um pouco diferente, pois os votos não são dela, mas do Lula. Não sei se a vitória compensará o desgaste ocorrido com os últimos escândalos, especialmente o da Erenice, tão próxima dela", acrescentou.

Segundo as pesquisas de intenção de voto, existe a possibilidade de Dilma liquidar a eleição presidencial já no domingo.

O ex-presidente admitiu, no entanto, que o quadro projetado por ele para o caso de uma hipotética vitória da petista no primeiro turno pode mudar dependendo do desempenho dela à frente do governo.

"Tudo dependerá de Dilma exibir qualidades de negociadora que até hoje não demonstrou. Veremos."

Eleito presidente em 1994 e reeleito quatro anos depois, FHC venceu as duas eleições no primeiro turno. Ambas as vezes tendo Lula como principal oponente

Idade de aposentadoria pode mudar, diz Serra

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Em discurso para servidores públicos, tucano afirmou que questão previdenciária precisa ser reformulada, mas sem mexer na remuneração

Daiene Cardoso

O candidato do PSDB à Presidência, José Seria, afirmou ontem, para um público formado por servidores, que numa eventual reforma da Previdência seria mais favorável a uma mudança no critério de idade mínima do que a uma alteração no valor do pagamento das aposentadorias.

"Toda questão previdenciária eu quero refazer no Brasil de maneira realista, que funcione. Eu prefiro mexer muito mais na idade do que na remuneração", afirmou o candidato, no Fórum Nacional Permanente de Carreiras Típicas do Estado (Fonacate), no Sindicato dos Fiscais de Renda de São Paulo. "Essa é uma questão importante, mas é algo que temos de examinar com abertura para fazer uma coisa séria."

Serra se disse favorável à aposentadoria integral para servidores públicos. "E também não precisa se aposentar com quarenta e poucos anos, como ocorre em alguns casos", argumentou. Durante seu discurso, o tucano defendeu a profissionalização do Estado e a valorização do funcionalismo público."O Estado tem de ser forte e ágil, não pode ser também um Estado obeso em função do aumento político-partidário."

Reforma tributária. No evento, o candidato do PSDB se disse contrário a uma reforma constitucional no sistema tributário do País e defendeu mudanças pontuais em alguns setores. Ele também criticou a proposta de reforma tributária apresentada" recentemente pelo governo federal, a qual classificou como "um cataclismo nuclear fiscal".

"(A proposta de reforma tributária do governo) virou um mostrengo que iria destruir o Brasil", atacou.

Na última aparição gratuita, Serra pede voto ao telespectador

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Até ontem, marqueteiros da campanha tucana estudavam possibilidade de encerrar o programa em ritmo de samba

Julia Duailibi / SÃO PAULO, Ana Paula Scinocca / BRASÍLIA

Na tentativa de conseguir um lugar no segundo turno da eleição presidencial, o candidato do PSDB, José Serra, fará um chamado ao eleitor em seu último programa na TV, que será exibido hoje. O tucano gravou um pronunciamento falando direto ao telespectador. Nele, comenta sobre a campanha, pede voto e diz acreditar que a eleição se definirá em duas etapas. Termina com a frase: "Até domingo."

Os marqueteiros de Serra também estudavam ontem encerrar o programa ao som de um animado samba. A campanha detém os direitos de Brasil Pandeiro, composição de Assis Valente, da década de 40, que faz elogios ao brasileiro. Ao ritmo do samba, queriam imprimir uma mensagem otimista e animada. A decisão ainda não estava tomada, uma vez que o filme seria montado e finalizado entre ontem e hoje.

Desde ontem, porém, já era certo que o programa será dividido em quatro partes principais. A primeira delas mostrará a biografia de Serra, receita que foi usada durante todo o programa eleitoral na TV com o objetivo de contrapor a trajetória administrativa do tucano à da adversária Dilma Rousseff (PT).

As imagens mostrarão Serra como ministro do Planejamento, ministro da Saúde, prefeito e governador de São Paulo. Também está previsto um clipe com a família, mostrando imagens dele com os filhos, com a mulher e com os netos. O segundo clipe será o de imagens do Brasil e de brasileiros por todo País ao som de Brasil Pandeiro.

Debate. No confronto da Rede Globo, hoje, no Rio, a campanha tucana pretende manter a mesma estratégia do debate anterior, na Rede Record. A avaliação foi de que Serra se saiu muito bem ao manter um tom propositivo e não atacar Dilma, diferentemente do que havia feito na RedeTV!. Os grupos de eleitores monitorados pela campanha mostram que cai a avaliação positiva de Serra toda vez que ele é agressivo em relação à rival.

A equipe de Serra considera que o debate desta noite tem chances de ser o propositivo de todos. São cerca de 20 temas que podem vir a ser explorados, dependendo de sorteio.

Marina: Dilma mudou posição sobre aborto

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Evangélica, candidata do PV acusa petista de fazer discurso de conveniência para vencer as eleições

Felipe Werneck / RIO

Defensora de um plebiscito nacional sobre a questão do aborto, a candidata do PV à Presidência, Marina Silva, afirmou ontem que a presidenciável do PT, Dilma Rousseff, "já disse que era favorável depois mudou de posição". "Eu não faço discurso de conveniência", disse Marina, em rápida entrevista durante corpo a corpo na lotada Central do Brasil, no Rio.

Evangélica, a candidata do PV afirmou que sua posição "tem sido coerente" com aquilo que acredita. "Não acho que em temas como esse se deva fazer um discurso uma hora de uma forma e uma hora de outra só para agradar o eleitor", acrescentou. Para ela, o importante é "discutir com transparência".

500 anos. "A onda verde não para de crescer. Se Deus quiser vamos ter um segundo turno com duas mulheres", disse Marina. "A sociedade brasileira está sinalizando que quer uma mulher na Presidência depois de 500 anos de história. É justo que tenhamos duas mulheres com tempo igual para debater o Brasil."

A candidata verde afirmou não ter "alianças incoerentes" e disse que não foi "para o vale-tudo eleitoral e nem para o promessômetro".

Sobre a estratégia para o debate de hoje, na TV Globo, Marina declarou que vai manter a mesma "atitude de coerência" do anterior, na Record.

Marina chegou à Central do Brasil de mãos dadas com o candidato do PV ao governo do Rio, Fernando Gabeira. Ela concedeu entrevista de dez minutos, percorreu a estação em mais dez minutos e deixou o local.

Durante o corpo a corpo no meio da multidão que voltava do trabalho para casa, o vidro lateral de uma banca de jornal foi quebrado, na entrada da Central. Um assessor da candidata se prontificou a pagar o prejuízo para o dono da banca.

Polêmica do aborto faz Dilma se explicar a líderes cristãos

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
Preocupada com a perda de votos entre cristãos por causa de polêmica sobre o aborto, a candidata à Presidência Dilma Rousseff (PT) reuniu padres e pastores para dizer que nunca defendeu a interrupção da gravidez. Dilma disse que a confusão é "vilania" de quem está perdendo a eleição. A polêmica é alimentada por declarações dadas por Dilma em outras ocasiões. Marina Silva (PV) afirmou que a petista "já disse que era favorável e depois mudou". 0 bispo Edir Macedo disse que o "jogo do diabo" a difusão de texto que atribuía a Dilma declaração de que "nem mesmo Cristo lhe tiraria a vitória.

Polêmica do aborto leva Dilma a igrejas

Empenhada em não perder votos do eleitorado cristão, candidata do PT à Presidência reúne padres e pastores, em Brasília

Vera Rosa / BRASÍLIA

Preocupada com a perda de votos entre cristãos, atribuída por sua campanha à polêmica sobre o aborto, a candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, reuniu ontem padres e pastores, em Brasília, para negar já ter defendido a interrupção da gravidez.

Celso Junior/AE

Reunião. Dilma entre líderes católicos e evangélicos: ofensiva com mensagem de Lula na TV

A polêmica é alimentada por declarações dadas por Dilma em outras ocasiões, antes da reta final da campanha (veja frases ao lado). Na tarde de ontem, porém, a petista disse que é contrária até mesmo a um plebiscito sobre o tema, como prega a candidata do PV, Marina Silva. "Plebiscito divide o País e vai todo mundo perder, seja qual for o resultado", insistiu a candidata.

Diante de 27 líderes de denominações cristãs - católicas e evangélicas -, Dilma desmentiu categoricamente que algum dia tenha afirmado que "nem Jesus Cristo" tiraria a vitória dela no primeiro turno, marcado para domingo. "Lamento que estejam usando o nome de Cristo para isso", repudiou. "É mais uma tentativa do submundo da política de mentir a meu respeito."

"Vilania". Mesmo sem citar o nome do adversário do PSDB, José Serra, Dilma fez referências indiretas a ele. A expressão "submundo da política" também foi usada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em comercial veiculado ontem na TV. Na mensagem, Lula pede aos eleitores que não se deixem levar por rumores contra Dilma.

Dilma afirmou que seu principal oponente tenta construir "um clima de ódio" no País. Não foi só: definiu a notícia de que defende o aborto como "uma vilania" de quem está perdendo a eleição. "Vamos apostar no clima de amor e na esperança para vencer o ódio e o medo", resumiu, dando o tom de seu último programa na TV, hoje à noite.

Há um mês, a candidata divulgou manifesto batizado de Carta ao Povo de Deus, no qual pedia "oração" e "voto" para ter a oportunidade de continuar o projeto de Lula. Pontuado por expressões de fé, o documento dizia que cabe ao Congresso Nacional a função básica de encontrar o "ponto de equilíbrio" nas posições que envolvem valores éticos, como aborto e uniões entre pessoas do mesmo sexo.

No encontro de ontem, Dilma foi além: garantiu que, se for eleita presidente, não enviará ao Congresso qualquer projeto de lei com o objetivo de ampliar a cobertura do Estado para casos de aborto. "Do jeito que está, está pacificado", comentou. "Eu, pessoalmente, sou contra o aborto e considero a questão como de saúde pública."

Em discurso sob medida para agradar aos cristãos, Dilma afirmou que é "a favor da vida" e pregou a liberdade de credo. Disse, ainda, que é católica. Em 2007, durante sabatina do jornal Folha de S. Paulo, ela disse ter ficado muito tempo "meio descrente". Questionada se acreditava em Deus, a então ministra da Casa Civil desviou do assunto. "Eu me equilibro nessa questão. Será que há? Será que não há?"

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) não enviou representantes para a reunião com Dilma, mas d. Luiz Demétrio Valentini mandou uma carta intitulada Nas mãos dos eleitores, na qual diz que esta campanha "não vai deixar saudades para ninguém". No texto, d. Valentini assinala que é preciso "depurar" versões da mídia sobre as candidaturas - para ele no mínimo "tendenciosas" - e "sacudir" o clima de "acusações e calúnias perversas". Mas não cita Dilma. Para o deputado e bispo Manoel Ferreira (PR-RJ), presidente da Assembleia de Deus do Ministério Madureira, católicos e evangélicos têm agora uma missão, a três dias das eleições : "desconstruir" a imagem de que Dilma é a favor do aborto. "Um pingo de fermento pode azedar uma massa inteira", comparou.

O que Dilma já disse

"Duvido que alguém se sinta confortável em fazer um aborto. Agora, isso não pode ser justificativa para que não haja a legalização. O aborto é uma questão de saúde pública. Há uma quantidade enorme de mulheres brasileiras que morre porque tenta abortar em condições precárias. Se a gente tratar o assunto de forma séria e respeitosa, evitará toda sorte
de preconceitos. Essa é uma questão grave que causa muitos mal-entendidos."
(À revista Marie Claire, edição 217, abril de 2009)

"O que nós defendemos é o cumprimento estrito da lei, que prevê casos em que o aborto deve ser feito e provido pelo Estado." (Em 22 de junho de 2010, em entrevista reproduzida pela Agência Estado)

"Não se deve tratar a questão como religiosa, mas de saúde pública. " (idem)

"Se houver conflito entre as legislações quem tem de fazer essa solução é a Justiça. A lei é clara e tem de ser cumprida."
(No debate Folha/UOL, em 18 de agosto de 2010)

"Lembro também minha expectativa de que cabe ao Congresso Nacional a função básica de encontrar o ponto de equilíbrio nas posições que envolvem valores éticos fundamentais, muitas vezes contraditórios, como aborto (...)." (Na "Carta Aberta aos Povo de Deus", em 24 de agosto de 2010)

PT enfrenta oposição na Igreja por causa do tema

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Nas dioceses do Estado de São Paulo, padres e bispos pregam boicote ao partido, "que pretende descriminalizar o aborto"

Malu Delgado

Oriundo das antigas comunidades eclesiais de base (CEBs) e da articulação de padres defensores da teologia da libertação, o PT enfrenta, nesta eleição presidencial, embate explícito com segmentos da Igreja Católica.

Em 42 dioceses da chamada Regional Sul 1, que engloba basicamente o Estado de São Paulo, bispos e padres recomendam abertamente o voto contra o PT e seus candidatos afirmando que o partido pretende "descriminalizar o aborto no País".

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), na prática, não desautoriza bispos que passaram a recomendar o voto anti-PT. Porém, oficialmente, a entidade afirma que nunca indica ou pede votos a partidos e candidatos, e apenas destaca o papel de governantes e valores morais que devem pautar a escolha.

"A CNBB mantém a tradição de apresentar princípios éticos, morais e cristãos fundamentais para ajudar os eleitores no discernimento do seu voto visando à consolidação da democracia entre nós", diz nota divulgada dia 16, por meio da qual a entidade conclama católicos a "eleger pessoas com respeito incondicional à vida, à família, à liberdade religiosa e à dignidade humana".

Pedido. Questionado pelo Estado se bispos da Regional Sul solicitam que católicos não votem em Dilma, o bispo de Lorena e vice-presidente da regional, d. Benedito Beni dos Santos, foi categórico. "A meu ver, este é o pedido que os bispos membros do Conselho Episcopal Pastoral do Regional Sul 1 da CNBB e os membros da Comissão pela Defesa da Vida da mesma regional fazem aos católicos de suas dioceses, aos homens e mulheres de boa vontade e reta consciência", disse, em resposta por e-mail.

De acordo com d. Beni, não existe divisão na CNBB, apesar de a direção nacional da entidade evitar a adesão ou a crítica aberta a qualquer candidato. "Todos os bispos do Brasil são unânimes na defesa da vida e, portanto, contrários à descriminalização e à legalização do aborto." Segundo ele, "a escolha dos meios para colocar em prática esse princípio da doutrina da Igreja depende de cada bispo".

O que dá embasamento ao discurso dos bispos é um documento de 41 páginas intitulado Contextualização da defesa da vida no Brasil: como foi planejada a introdução da cultura da morte no País, assinado pela Comissão de Defesa da Vida de Guarulhos, Taubaté e da Regional Sul 1.

Para os bispos, a defesa da descriminalização do aborto ficou clara em congressos e encontros do PT. O documento conclui que o governo Lula tomou várias atitudes que corroboram a revisão do Código Penal para facilitar a realização do aborto.

A casa vazia :: Graziela Melo


A casa vazia
O cão na porta
A água na cuia
A farinha no prato
O cachimbo na boca
E a boca torta.

O sol na soleira
O menino na esteira
A vontade morta.

O solão bebeu a água
Matou a árvore
Lambeu o xique-xique
Torrou a terra
Tangeu os homens
Tangeu as mulheres
Matou as cabras
Soprou as estrelas
Comeu a lua
Secou a noite...

Eeeiiita solão danado
Na solidão do homem!!!!!!

Rio de Janeiro, 2002

(do livro Crônicas, contos e poemas, pág. 99 - Fundação Astrojildo Pereira - Brasília, 2008

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Reflexão do dia – Luiz Werneck Vianna

Entre os intelectuais, o movimento do modernismo traz à cena a presença da nossa paisagem social e física, em uma ida ao povo que vai amadurecer na obra, entre tantos, de um Mario de Andrade, Tarsila, Anita Malfatti, Di Cavalcante, talvez sobretudo em Villalobos. Embora tênue, há comunicação entre esses mundos, que o decurso do tempo prometia incrementar. Astrojildo Pereira, o líder dos comunistas, frequenta os tenentes, frequentados também por intelectuais modernistas, alguns deles, poucos anos mais tarde, como Oswald de Andrade e Pagu, terão fortes ligações com os comunistas.


(Luiz Werneck Vianna, no artigo ‘A caveira de burro e a democracia’, Valor Econômico, 27/9/2010)

Mudança de vento:: Merval Pereira

DEU EM O GLOBO

As atitudes erráticas do presidente Lula nesses últimos dias de campanha eleitoral denotam que os estrategistas da candidata Dilma Rousseff estão tentando digerir as informações contraditórias que chegam com as últimas pesquisas, mostrando uma perda contínua de votos em 15 dias. Ao mesmo tempo em que recuou nos seus ataques à imprensa em determinado momento, diante da constatação de que o clima de animosidade por ele deflagrado estava provocando reações negativas em setores da sociedade, o presidente retornou ao início da campanha, quando valorizar o passado de guerrilheira de Dilma era importante para garantir o apoio da esquerda do partido à neófita política escolhida para ser a "laranja" eleitoral de Lula.

Se os ataques aos meios de comunicação para tentar desqualificar as denúncias que provocaram a demissão da chefe do Gabinete Civil Erenice Guerra produziram inicialmente efeito negativo no eleitorado mais escolarizado e de maior renda, esse efeito hoje já se espalha por todos os setores da sociedade, segundo a mais recente pesquisa do Datafolha, demonstrando que as questões morais e a radicalização política afetam diretamente o setor do eleitorado mais preocupado com o equilíbrio institucional do país.

O elogio da radicalização política que Lula fez no comício de segunda-feira em São Paulo, exaltando o lado guerrilheiro de sua candidata, também incomoda essa classe média, especialmente a ascendente.

O objetivo imediato do presidente parece ser conter uma debandada de parte do eleitorado de esquerda que, desiludido com mais uma leva de escândalos envolvendo a gestão do PT, e mais uma vez no Gabinete Civil no Palácio do Planalto, estaria engrossando as fileiras da candidata verde Marina Silva.

É interessante constatar como a questão moral, que parece nunca atingir o presidente Lula diretamente, alcança inapelavelmente o PT nas últimas campanhas eleitorais.

Em 2006, quase que Lula não encontra ambiente político para se recandidatar por conta do mensalão. No auge do caso, em 2005, a popularidade do presidente caiu vertiginosamente, e as repercussões chegaram até a campanha no ano seguinte.

O caso dos "aloprados" veio apenas relembrar o escândalo do mensalão na reta final da campanha de 2006, provocando a ida da disputa para o segundo turno. Mais uma vez Lula recuperou-se do baque e conseguiu levar sua campanha a uma vitória vigorosa, ainda mais que o candidato tucano Geraldo Alckmin acabou tendo menos votos no segundo que no primeiro turno.

Agora, quando o marasmo da campanha eleitoral parecia levar a uma vitória tranquila no primeiro turno de Dilma Rousseff, dois novos escândalos trouxeram os debates políticos para um campo menos amorfo, fazendo com que setores da sociedade acordassem para o debate político. O presidente Lula escolheu a maneira errada de tentar desqualificar as denúncias contra Erenice Guerra, que pegam diretamente em Dilma Rousseff, sua protetora.

Ao levar para os palanques críticas aos meios de comunicação e garantir à população que as acusações eram mentirosas, Lula incentivou seus "aloprados" a desferir uma guerra contra a imprensa dita tradicional, e uma resposta imediata a favor da liberdade de expressão e da democracia foi articulada por representantes da sociedade civil do calibre de D. Paulo Evaristo Arns e Hélio Bicudo.

O manifesto, que protesta contra diversos indícios de autoritarismo do governo, inclusive a quebra de sigilos fiscais de pessoas ligadas ao candidato oposicionista José Serra, teve uma aceitação alta da sociedade e já tem mais de 50 mil assinaturas pela internet.

A confirmação, ontem, de que também o sigilo bancário do vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge Caldas, foi quebrado no Banco do Brasil remete a métodos utilizados anteriormente por membros do governo contra o caseiro Francenildo Pereira, que teve seu sigilo bancário na Caixa Econômica violado a mando do presidente da instituição na ocasião, Jorge Matoso, para conseguir dados que, supunha, poderiam ajudar na defesa do então ministro da Fazenda Antonio Palocci.

O conjunto da obra é nada edificante para o PT e demonstra publicamente como o aparelhamento da máquina estatal por sindicalistas e filiados ao PT e a partidos aliados ao governo significa, na prática, muito mais que a simples ineficiência do Estado, uma ameaça para os cidadãos. É esse quadro que está mexendo com os votos do eleitorado, em todas as regiões do país e em todas as estruturas sociais.

A candidata oficial, Dilma Rousseff, ainda vence, mas está vendo sua vantagem sobre a soma dos dois outros concorrentes ser reduzida a cada dia nas últimas duas semanas.

Já está caracterizada uma tendência de queda de sua candidatura, ao mesmo tempo em que a candidata do Partido Verde, Marina Silva, tem uma ascensão na mesma proporção, começando a ganhar a simpatia dos indecisos e partindo para ganhar fatias do eleitorado que hoje está com Dilma.

Marina acredita que a onda verde seja forte o suficiente para levá-la para o segundo turno, superando o candidato tucano José Serra.

Para tanto, porém, terá que arrancar do eleitorado de Dilma os pontos necessários, o que a levará a atacar mais fortemente a candidata oficial no último debate, amanhã, na TV Globo.

A reta final de uma eleição que até agora é a mais modorrenta dos últimos tempos tem ingredientes para ser muito excitante.

A diferença de Dilma para Serra ainda é muito grande, mas a subida de Marina pode levar o tucano ao segundo turno, frustrando o eleitorado que a escolheu.

Parte desse grupo é de petistas desgostosos que podem, porém, retornar ao seio governista, como aconteceu em 2006. Se realmente conseguir ir para o segundo turno nessas condições, Serra terá que fazer um amplo acordo com o Partido Verde para viabilizar a vitória.

Terá ainda a seu favor uma mudança de situação nos dois maiores colégios eleitorais, São Paulo e Minas.

Se, como tudo indica, a eleição para governador se resolver no primeiro turno a favor dos tucanos nos dois estados, a máquina governamental dos estados não terá constrangimentos para ajudar o candidato do PSDB, ao contrário do que acontece neste momento.

Que lição tirar? :: Zuenir Ventura

DEU EM O GLOBO

Se Dilma Rousseff for eleita presidente da República, como as pesquisas ainda indicam, muitas crenças sobre comportamento e tomada de decisão dos eleitores terão que ser reavaliadas. A primeira é se é possível saber o que leva alguém a escolher um candidato e de que é feita essa fidelidade - se é um processo exclusivamente emocional ou se a racionalidade tem também um peso na escolha.

O que faz a nossa cabeça: imprensa, família, amigos ou um pouco de tudo? Ou, em vez disso, é o bolso, ou seja, o acesso ao consumo? Em matéria de entretenimento cultural - filmes, peças, livros, shows - parece que o boca-a-boca funciona mais do que a crítica impressa. Mas em meio às paixões de uma campanha eleitoral não é fácil entender a situação, mesmo quando se pretenda ser mais testemunha do que juiz e se persiga uma posição de equilíbrio e equidistância.

Aparentemente, a principal formadora de opinião de um país é a chamada mídia: jornais, revistas, TV, rádio, internet. Mas se é assim, como é que a candidata do PT mantém seu favoritismo, ainda que em queda, quando a maioria dos veículos está contra ela? E se não é assim, se a imprensa não tem todo esse poder de influenciar, por que Lula se revoltou tanto, desqualificando o seu papel? Quais são as razões pelas quais um líder esperto como ele, no auge da popularidade, capaz de transferir votos e eleger a sucessora, desnorteou-se na reta de chegada e iniciou uma desenfreada escalada de ataques? Por desconhecimento é que não foi. Uma das melhores explicações para a relação poder x imprensa, é dele: "Notícia é o que o governo quer esconder; o resto é propaganda."

Pode-se alegar que é da natureza de todos os governantes maldizer a mídia e tentar controlá-la quando são contrariados. Inclusive os mais liberais. Até o tolerante JK, que aboliu a censura logo após chegar à presidência ("Quero a imprensa desatada, mesmo para ser injusta comigo"), proibiu Carlos Lacerda de falar no rádio. O próprio FHC, também um democrata, saiu do governo queixando-se e insinuando que um ou outro jornal queria o seu impeachment. Lula talvez tenha sido o que mais xingou e foi xingado pelos jornais e revistas (é impressionante o ódio que desperta em algumas pessoas). O presidente cometeu a besteira de acusar a imprensa de golpista e recebeu a classificação, também injusta, de fascista, quando na verdade falou mais bobagem do que fez - até porque nessa matéria, quando pensou fazer, com o "controle social", a sociedade reagiu.

Não se sabe se alguma lição vai ser tirada dessas eleições. Especialistas em pesquisa disseram que o eleitor não gosta de tiroteio, de troca de acusações. Se isso é verdade, há o que aprender com essa campanha.

De Severino a Tiririca:: Dora Kramer

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Ditos políticos não são necessariamente sábios nem confiáveis. Na maioria são apenas frases bem sacadas que, por traduzirem bem uma determinada situação, acabam tidas como verdades absolutas sem que haja uma preocupação de cotejá-las com a realidade e principalmente com a evolução dos tempos.

Há exceções. Aquelas que começam a circular com jeito de piada, mas terminam por se revelarem legítimas profecias.

Uma delas adapta o velho lema segundo o qual o Congresso seguinte é sempre pior que o anterior e tornou-se bordão do deputado Luís Eduardo Magalhães - promessa política interrompida por um enfarte fatal em 1998.

"Não há a menor chance de melhorar", repetia Luís Eduardo, mal entrado nos 40 anos (morreu aos 43), com uma sagacidade de Matusalém.

De fato, em 2011 pelo que se vê nas projeções das eleições parlamentares, sobretudo para a Câmara dos Deputados, não há a menor chance de melhorar a atuação do Poder Legislativo, cuja desmoralização gradativa ganhou especial velocidade nos últimos anos.

Mais exatamente na última década, a primeira do século 21.

Não que antes o Congresso fosse composto apenas de flores que se cheirassem. O último bom momento mesmo foi há mais de 20 anos, na Assembleia Nacional Constituinte.

Na CPI do PC e depois no processo de impeachment de Fernando Collor houve muito de oportunismo em jogo. Com aquelas acusações (graves), o então presidente poderia muito bem ter se sustentado no poder caso não fosse um analfabeto político e tivesse metade das habilidades do governo atual para enfrentar acusações (gravíssimas).

Até na Constituinte houve a notória instituição oficial do fisiologismo ("é dando que se recebe") deslavado como instrumento fiador da "governabilidade".

Mas a derrocada mesmo, a perda total do respeito, uma espécie queima de vestes em praça pública começou no Senado em 2000, quando Jader Barbalho e Antônio Carlos Magalhães (pai de Luís Eduardo) pela primeira vez disseram umas verdades um ao outro da tribuna e com transmissão direta pela TV Senado.

Os dois trocaram desaforos nunca vistos naquele ambiente tido por Darcy Ribeiro como o paraíso na Terra.

Foi um choque. Depois disso, nunca mais um senador eleito passou incólume sem escândalos - salvo os eleitos temporariamente, escolhidos exatamente por causa dos escândalos - o mandato inteiro.

A começar por Jader, que, eleito depois da briga com ACM (também presidente), precisou renunciar por causa de denúncias de corrupção.

Na Câmara é difícil estabelecer um marco, tantos são os casos, mas a eleição de Severino Cavalcanti no início de 2005 para a presidência da Casa é o mais impressionante.

Assinala o início do império do baixo clero, da era dos líderes de bancada desconhecidos, da cessão de destaque e postos importantes a deputados mais conhecidos pelas atividades extracurriculares, da transformação do Legislativo num ambiente de quinta em que perderam espaço os que têm vocação política.

Sim, há uma diferença entre aqueles cujo negócio é a política e os que transformam a política num bom negócio. Estes é que passaram a dar as cartas.

Muitos voltarão. A eles vão se juntar os arrivistas, os oportunistas, os famosos e mais a estrela de todos com a expectativa de se eleger com 1 milhão de votos: o rapaz chamado Tiririca, que aluga sua ignorância para espertalhões que se valem da estupidez de milhares que, se achando espertos, são feitos de bobos.

Manobra decorrente de um sistema eleitoral falido, único no mundo e que a nenhum dos partidos, grandes ou pequenos, nunca interessou genuinamente mudar, bem como não parece realmente interessar ao eleitorado renovar os ares que ficarão ainda mais irrespiráveis.

É uma mistura nefasta: de um lado a patifaria e de outro a alienação. A receita perfeita para formação de um Congresso pronto a confirmar o velho lema da piora gradativa do Parlamento e a acrescentar que a sociedade, conivente, anda muito sem moral para reclamar.

Por que os escândalos não tiram Dilma do topo :: José Nêumanne

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Causa perplexidade geral ter a chefe da Casa Civil da Presidência da República sido demitida na reta final da campanha eleitoral sem que isso haja produzido a consequência natural de um escândalo dessas proporções na popularidade do presidente, que a nomeou, nem feito cair do topo da preferência eleitoral sua candidata, que a patrocinou. A falta de proporção de causa e efeito em episódio dessa relevância não se deve apenas à credulidade popular, capaz de aceitar que Lula não assuma a responsabilidade dos atos de sua principal assessora e que Dilma Rousseff se exima de culpa pela ascensão de uma funcionária incapaz de subir na vida por méritos próprios, que ninguém imagina quais possam ser.

É o caso de buscar outras razões para a baixa interferência na preferência do eleitor de notícias de recebimento de propinas ("taxas de sucesso") pelo filho de Erenice Guerra em gabinete a poucos metros do de Dilma, no Palácio do Planalto, onde o chefão dá expediente. Será o caso de admitir que o pleito de 2010 esteja decidido há muito tempo e que será quase impossível mudar tais desígnios? Afinal, a gravidade das acusações que emergiram contra o clã Guerra, que não teriam como não macular a imagem da favorita, supera, com larga vantagem, a das que derrubaram Richard Nixon nos Estados Unidos e Fernando Collor no Brasil e levaram à prisão José Roberto Arruda, que ainda provocou o naufrágio de seu partido, o DEM, da aliança de oposição.

Se assim for, isso se deverá à percepção de Luiz Inácio Lula da Silva sobre a realidade social e o panorama eleitoral no Brasil real, que domina. Ele mesmo foi a primeira vítima de uma avalanche que, em 1989, se identificou nos dois eles de Collor em verde e amarelo e inverteu as ancestrais relações de hierarquia da política nacional, ao promover aquilo que o último coronel mineiro, Chichico Cambraia, definiu como "estouro da boiada": ao votar no "caçador de marajás", o rebanho pulou cerca e porteira do curral e, para não perdê-lo de vista, os "pastores" saíram correndo atrás. Nesta e em mais duas eleições seguidas perdidas depois, Lula aprendeu que é quase impossível ser eleito presidente da República brasileira sem alianças de peso. E, se extraordinariamente isso ocorrer, nunca será possível governar sem a adesão de grupos poderosos que mandam desde antanho e para sempre nos hoje repovoados currais de votos. Prova-o a defenestração de um dos raros que realizaram a proeza: Collor tentou presidir sem o Congresso, que logo reagiu depondo-o.

Tendo participado da derrubada do adversário que o derrotara, o presidente foi aprendendo ao longo dos anos que ganhar e governar um país deste tamanho exige partilha do butim. Tentou, antes, sem sair da própria esquerda, ao atrair Leonel Brizola para sua chapa, mas deu com os burros n"água. Aceitou, em 2002, por sugestão de José Dirceu, aliar-se a gatos gulosos do PMDB que traíram Serra, cuja vice, Rita Camata, era do partido. Depois, em nome da "governabilidade", loteou o governo para não ser mais um a ganhar e não levar. Como o Fausto da lenda, vendeu a alma aos diabos que antes exorcizava e se deu muito bem. Foi aí que aprendeu a vencer a disputa eleitoral de baixo para cima: abrigou no ninho do poder lideranças locais, prefeitos municipais, deputados estaduais e federais, senadores e governadores. Aí, quando resolveu lançar o "poste" Dilma por achar mais fácil manipulá-la do que se desgastar na luta pelo terceiro mandato, já tinha as bases todas sob controle.

Muita gente boa percebeu a jogada genial do uso eleitoral da Bolsa-Família. Mas nem todos enxergaram o simultâneo fechamento de cofres que irrigam as campanhas políticas com os recursos necessários, favorecendo de banqueiros a empreiteiros de obras públicas, que passaram a ter nele o novo Messias. E ninguém observou que ele tirou do caminho para o palanque adversários que incomodavam. Foram os casos de Cássio Cunha Lima, o tucano da Paraíba, e Jackson Lago, o pedetista do Maranhão, que perderam seu mandato, condenados por crime similar ao de que foi acusado o petista Marcelo Déda, governador de Sergipe, que, no poder, é favorito na disputa por sua sucessão.

Ao contrário de Lula, seu principal adversário, José Serra, não deu sinais de ter aprendido as lições da derrota de 2002. Ao se negar a disputar a indicação em prévias, como pretendia o ex-governador mineiro Aécio Neves, deu-lhe a justificativa de que este precisava para ficar fora da ingrata rinha presidencial. A não insistir com o partido e o próprio Aécio para formar chapa com este, deu outra mostra de que pretendia alcançar o inalcançável: ganhar a disputa pela Presidência sem dever favores. Ao manter fora da campanha um tucano que vencera duas vezes a eleição federal sem disputar segundo turno, Fernando Henrique, emitiu, a quem fosse capaz de entender, o sinal de que não se dispunha a buscar ajuda nem mesmo do próprio passado, e o renegou.

Dilma, cujo currículo desautorizava a aventura de disputar contra um político bafejado pela vitória nas urnas nos maiores município e Estado do País, contou com a ajuda esperada, embora absurda, do adversário. Onze entre dez interlocutores alertaram Serra de que a chave para sua vitória seria manter o presidente popular fora da campanha. Mas ele expôs o retrato de Lula em seu primeiro programa de propaganda na TV e apelidou-se de Zé chamando-o de Silva (de quem terá sido a ideia tola?) no primeiro jingle para rádio. Fez ainda aos adversários o favor de deixar que o atrapalhado presidente nacional de seu partido, Sérgio Guerra (PE), pedisse a impugnação da adversária porque a Receita havia quebrado o sigilo fiscal da filha Verônica.

A possibilidade, aventada pelo Datafolha, do segundo turno pode abalar a empáfia palaciana, mas em nada alterará os fundamentos das evidências citadas. A experiência de 2006 deve ter ensinado aos tucanos que provocar o segundo turno é uma coisa. Mas vencê-lo é outra!

Jornalista e escritor, é editorialista do "Jornal da Tarde