sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Amiga, braço-direito de Dilma e ministra por apenas 170 dias

DEU EM O GLOBO

Enquanto esteve no governo, emprego para o filho, irmãos e até ex-cunhada

Chico de Gois e Luiza Damé

BRASÍLIA. Amiga, braço-direito, principal assessora e indicada por Dilma Rousseff (PT) para sucedê-la na função que deixara para entrar na disputa pela Presidência, Erenice Guerra, que ontem oficialmente pediu demissão da Casa Civil depois de seis dias de sangramento sob o teto do Palácio do Planalto, teve longa parceria com a presidenciável, mas curta permanência no cargo de ministra. Cargo, aliás, para o qual já era dada como certa na possível vitória da candidata do PT. A demissionária ficou ministra 170 dias.

Dilma foi a fiadora de sua auxiliar.

Para demonstrar força política, a mãe do PAC bancou Erenice, contrariando, numa das raras vezes, o desejo de seu chefe, o presidente Lula, que preferia ver Miriam Belchior, hoje coordenadora do PAC, na Casa Civil. Lula é amigo de longa data de Miriam, cujo apartamento em Santo André frequentava na época em que ela era Miriam Daniel, casada com o prefeito Celso Daniel, assassinado em 2002.

Erenice é filiada ao PT desde 81

Na posse de Erenice, e de demais ministros, em 31 de março, Lula fez questão de dar seu recado. Ao se dirigir a Dilma, afirmou: (...) Eu, se pudesse colocar duas ministras em uma só, eu colocaria a Erenice e a Míriam Belchior no... não cabe... Mas a Erenice é a parte que ajudou a Dilma a tocar a Casa Civil, e a Míriam Belchior ajudou a tocar o nosso PAC. Portanto, uma vai continuar cuidando do PAC.

Erenice é brasiliense, mas sua família saiu do Ceará em 1957 e levou dois meses viajando até chegar ao Distrito Federal.

O pai foi pedreiro em Brasília e, segundo Erenice, trabalhou na construção do Palácio do Planalto, mas morreu sem entrar no prédio. No discurso de transmissão do cargo, Erenice contou que, quando já estava na Casa Civil, trouxe a mãe para conhecer o Palácio e tirar fotos com o presidente. Ela disse que chorou ao perceber que a mãe estava emocionada.

Erenice é filiada ao PT desde 1981 e trabalhou no governo de Cristovam Buarque (hoje PDT, mas na época no PT) no Distrito Federal e na assessoria da bancada do partido na Câmara. No final de 2002, na equipe de transição, passou a atuar na área de infraestrutura, onde conheceu Dilma.

As duas também atuaram juntas no Ministério de Minas e Energia, onde a agora candidata foi ministra, antes de assumir a Casa Civil. Erenice era consultora jurídica da pasta.

Nomeada secretária-executiva da Casa Civil em junho de 2005, na época da crise do mensalão, Erenice se mostrou mão para toda obra e era uma das responsáveis por tocar a menina dos olhos de Lula e Dilma: o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Para quem, até então, fazia questão de atuar com discrição, avessa a entrevistas e badalações, Erenice teve passagem constante pelo noticiário político, sempre a vinculando a ações pouco ortodoxas. No início de 2008 seu nome foi parar no meio do escândalo dos cartões corporativos, onde foi apontada como principal suspeita de ter elaborado um dossiê a respeito de despesas de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) quando presidente (1995-2002).

Essa discrição externa não a inibiu de atuar com desenvoltura em áreas internas. Com o poder que mantinha, deu jeito de arrumar emprego para vários parentes: o irmão Antônio Eudacy Alves Carvalho foi para a Infraero e depois na Controladoria Geral da União (CGU); o filho Israel na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), a irmã Maria Euriza Alves de Carvalho no Ministério do Planejamento; a ex-cunhada Gabriela Pazzini na Secretaria do Patrimônio da União; o outro irmão, José Euricélio, no Ministério das Cidades; e o amigo de seu filho, Vinícius Castro, na Casa Civil.

Durante a posse, elogios a Dilma

Além da Secretaria Executiva da Casa Civil, Erenice participava do conselho fiscal da Petrobras e do conselho da Chesf. Desde 2005, integrava o Conselho de Administração do BNDES. Foi justamente a acusação de que seu filho havia pedido R$ 5 milhões para intermediar um empréstimo do banco à empresa EDRB do Brasil a pá de cal na incipiente carreira de ministra de Erenice.

Na sua posse, diante de sua madrinha, Erenice foi toda elogios a Dilma e disse, no discurso, que não a decepcionaria: Tenho muito orgulho de estar substituindo a ministra Dilma na Casa Civil. E a única coisa que posso dizer é que farei tudo o que estiver ao meu alcance para não decepcionála, para honrar sua confiança em mim e para continuar esse trabalho que acho que é uma missão.

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