sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Ato contra mídia sem PT e CUT

DEU EM O GLOBO

Sem a presença dos presidentes de centrais sindicais e de partidos políticos - com exceção de Renato Rabelo (PCdoB) -, o "Ato contra a mídia golpista", realizado ontem em São Paulo, também não teve representantes de PT e UNE.

PT e UNE deixam de ir a ato contra mídia

Presidentes de centrais sindicais mandam representantes à manifestação, que teve ataques à imprensa e apoios a Dilma

O ATO contra a mídia organizado por centrais sindicais, MST e PT na sede do sindicato dos jornalistas de São Paulo: ataques à imprensa

SÃO PAULO e RIO. O "Ato contra a mídia golpista", convocado por centrais sindicais e dirigentes petistas após o presidente Lula atacar a imprensa, reuniu cerca de 400 pessoas no Sindicato dos Jornalistas de São Paulo ontem e se tornou um misto de plenária social com comício pró-candidatura da petista Dilma Rousseff. À exceção do presidente do PCdoB, Renato Rabelo, o evento não atraiu nenhum presidente de centrais sindicais - que mandaram representantes - ou de partidos políticos.

Rabelo acusou grandes veículos de comunicação brasileiros de organizarem uma "conspiração" contra Dilma Rousseff. A grande imprensa foi atacada e acusada de ter "saudade" da ditadura.

- Eles achavam que o candidato deles, José Serra, é que ia a ganhar a eleição porque começou disparado. Quando perceberam que o povo votava contra tucanos e José Serra, começaram então a produzir factoides contra a candidata Dilma Rousseff - disse Rabelo.

O PCdoB, de Rabelo, é um dos partidos da coligação que apoia a candidatura de Dilma.

- O que eles querem mesmo não é simplesmente uma tentativa golpista de impedir o favoritismo de Dilma Rousseff. Eles vão além. É conspiração! É golpismo e conspiração! - disse Rabelo.

Representante do PT teve um "contratempo" e não foi

Representando o PSB, a deputada Luiza Erundina (SP) afirmou que a imprensa tem uma reação "irada" e "macartista", em referência à perseguição contra comunistas realizada pelo senador norteamericano McArthur nos anos 50.

- Sabem o por quê dessa reação nervosa, macarthista? É porque não têm mais o controle dos meios de comunicação como tinham antes. Sabe por que a reação irada deles? Porque deu certo o governo do primeiro operário deste país! Porque vamos eleger a primeira mulher! Vamos permanecer vigilantes porque eles vão tentar tudo! - disse Erundina, interrompida por um manifestante que gritava: "golpe militar".

O principal documento do ato, lido pelo blogueiro Altamiro Borges, pedia ainda que a subprocuradora eleitoral, Sandra Cureau, realizasse uma devassa nos contratos publicitários, "a abertura dos contratos de publicidade de outras empresas de comunicação, Editora Abril, grupo Folha, Estadão e Organizações Globo, a exemplo do que fez recentemente com a revista Carta Capital". Altamiro Borges é presidente do Centro de Estudos de Mídia Alternativa Barão de Itararé, que organizou o ato.

- É urgente uma operação Ficha Limpa na mídia brasileira! - disse o blogueiro.

Outros trechos do documento lido também continham fortes ataques aos jornais, associando os grupos empresariais à ditadura e o desejo de seu retorno.

Também discursaram no ato um secretário do PDT e representantes da CUT, CTB, CGTB e MST. A Nova Central não quis usar a palavra. A Força Sindical chegou a ser anunciada, mas nenhum representante se apresentou para falar. A mesa organizadora do evento também pediu desculpas pelas ausências de João Felício, que representaria o PT, alegando um "contratempo", e de um dirigente da UNE.

No Rio, diretor da Abert critica tentativas de restrição

O Clube Militar, no Centro do Rio, foi sede na tarde ontem de um encontro para discutir ameaças à liberdade de imprensa. O diretor de assuntos legais da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), Rodolfo Machado Moura, fez em seu discurso uma lista do que considera, desde o início do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2003, tentativas de restrição à expressão. Ele citou as propostas de criação do Conselho Federal de Jornalismo, da Agência Nacional do Audiovisual (Ancinav) e o Plano Nacional de Direitos Humanos.

- (O plano) pretendia criar uma comissão que ficaria responsável por avaliar a programação das emissoras no tocante ao respeito aos direitos humanos. E essa comissão poderia, inclusive, promover a cassação das outorgas das emissoras de radiodifusão. Isso é um absurdo por si só, além de ser inconstitucional. Uma comissão sabe-se lá composta por quem - criticou Moura, no painel mediado por Paulo Uebel, diretor-executivo do Instituto Milennium.

Do evento - que teve protesto de estudantes do lado de fora, com críticas aos meios de comunicação - participaram os jornalistas Merval Pereira, do GLOBO, e Reinaldo Azevedo, da "Veja".

- No fundo, a insistência quanto ao diploma de jornalista traduz simplesmente o viés corporativista e oficialista do governo brasileiro. É um governo que acha que o Estado tem que controlar tudo - disse Merval.

Reinaldo Azevedo comentou declaração recente do presidente Lula afirmando que a imprensa é o verdadeiro partido de oposição.

- À sua maneira, ele tem razão. Porque a oposição nesse tempo foi tão mixuruca, tão despolitizada, tão vagabunda, que sobrou a imprensa. Não (para) fazer oposição. A questão é defender o artigo dos direitos individuais e da imprensa.

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