quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Declaração de Dirceu pode atrapalhar Dilma

DEU EM O GLOBO

As afirmações do ex-chefe da Casa Civil José Dirceu prevendo que o PT terá mais poder num eventual governo Dilma provocaram irritação na cúpula petista e no Planalto. Para o PT, o discurso pode atrapalhar Dilma, pois explicita que ela corre risco de ficar refém da máquina partidária. No Palácio, o comentário foi que Dirceu, personagem central do mensalão, tem que ficar quieto. "O Dirceu falou num contexto para mobilizar a militância. Mas acabou se empolgando sem medir as palavras", minimizou o líder do governo, Cândido Vaccarezza (PT -SP).

Discurso de Dirceu desagrada a petistas

Para integrantes do partido e do governo, afirmação de que PT terá mais poder com Dilma enfraquece candidata

Gerson Camarotti


BRASÍLIA. As afirmações feitas pelo ex-ministro da Casa Civil e deputado cassado José Dirceu, de que o PT terá mais poder num eventual governo Dilma Rousseff do que no governo Lula, foram recebidas com irritação por petistas e palacianos, que consideraram que esse tipo de discurso enfraquece a candidata.

O discurso de Dirceu, avaliam, explicitou que ela poderia ficar refém da máquina petista, um receio do mercado e das classes sociais mais altas.

Um ministro dizia ontem que Dirceu tenta agora resgatar sua estratégia de usar o partido para tentar recuperar poder. Petistas reconhecem que Dirceu tem liderança no PT e admitem que ele é usado com certa frequência por Lula e Dilma para cumprir algumas missões políticas, nos estados, por exemplo.

Desgaste com Dirceu seria semelhante ao com Collor Mas a campanha de Dilma prefere que ele fique em silêncio, até porque ele tem imagem negativa. Pesquisas qualitativas internas indicam que a propaganda tucana resgatando os laços de Dilma com Dirceu prejudicam a candidata.

O desgaste é semelhante ao provocado pelo senador alagoano Fernando Collor pedindo votos para Dilma.

Ao explicitar que Dilma não tinha liderança ou grande expressão popular, Dirceu atropelou o marketing da campanha que tenta mostrar a candidata como uma líder política influente. De forma reservada, os próprios petistas reconhecem que Dilma está longe de ter a dimensão política do presidente Lula, mas que isso não deve ser verbalizado por aliados.

A orientação no Planalto é que os governistas evitem inflar as declarações de Dirceu.

Para o Palácio, o que ele falou deve ser tratado como um comentário de um militante petista, e não com o peso de um dirigente.

A uma plateia de petroleiros, em Salvador, na segundafeira à noite, Dirceu afirmou que, para o PT, a eventual eleição de Dilma será mais importante do que a de Lula. Para ele, Dilma representa o projeto petista, enquanto Lula é duas vezes maior que o PT.

No evento, Dirceu disse ainda que a oposição tem o apoio da mídia para tentar influenciar a opinião pública. E criticou o que chamou de abuso do poder de informar.

Achei estranha a afirmação de José Dirceu. Isso porque funciona como material para a oposição querer reduzir o papel de Dilma. Até porque a oposição pode explorar Dirceu para estigmatizar a campanha. Mas Dirceu não é a expressão do partido. E imaginar que Dilma vai ser instrumentalizada pelo Dirceu é subestimá-la disse o líder do PT, deputado Fernando Ferro (PE).

O Dirceu falou num contexto para mobilizar a militância.

Mas acabou se empolgando sem medir as palavras minimizou o líder do governo, deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP).

O que se ouviu em um dos gabinetes do Planalto foi mais duro: Dirceu tem que ficar quieto. Tem que sumir. Ele morre pela boca. Não tem que ficar falando. É quase uma compulsão

Ex-ministro telefonou a integrantes do governo Diante da repercussão, Dirceu telefonou para integrantes do PT e do governo para argumentar que estava dando opinião para um grupo fechado. Pessoalmente, ele teria gostado da repercussão, segundo amigos.

Mas, no seu blog, num texto intitulado O vale-tudo, afir-mou que suas declarações foram completamente deturpadas e tiradas de contexto.

No texto, Dirceu acrescentou: Fiz uma crítica ao papel que a mídia vem desempenhando nestas eleições, com cobertura claramente orientada a prejudicar a campanha de Dilma Rousseff. Na sequência, reforçou suas críticas à imprensa: O que não podemos admitir é que um punhado de empresas monopolistas passe a funcionar como linha auxiliar dos partidos conservadores, manipulando descaradamente as informações e os fatos

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