terça-feira, 14 de setembro de 2010

Lula mantém Erenice no cargo e exonera assessor

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

O governo lançou operação para tentar impedir que as acusações de lobby envolvendo o filho da ministra da Casa Civil, Erenice Guerra, atinjam a campanha de Dilma Rousseff e contaminem o final da gestão Lula. Vinícius Castro, servidor da Casa Civil subordinado à ministra e suspeito de envolvimento, foi exonerado. Erenice foi braço direito de Dilma até ela deixar a Casa Civil para ser candidata.

Governo tenta debelar crise e demite assessor da Casa Civil acusado de lobby

Sucessora de Dilma no governo afirma que vai abrir seu sigilo e pede a comissão de ética que seja investigada

Presidente se reúne com Erenice e pede que dê respostas para acusação envolvendo o filho dela "o mais rápido possível"


Simone Iglesias, Fábio Amato e Valdo Cruz

DE BRASÍLIA - O governo lançou uma operação para tentar impedir que a acusação de lobby envolvendo o filho da ministra Erenice Guerra (Casa Civil) atinja em cheio a campanha de Dilma Rousseff (PT) à Presidência e contamine os últimos meses do governo de Luiz Inácio Lula da Silva.

Um servidor da Casa Civil subordinado à ministra foi exonerado e Erenice disse estar disposta a abrir seus sigilos bancário e fiscal e também de familiares.

Lula determinou que ela apresente respostas "o mais rápido possível". Por enquanto, segundo a Folha apurou, o presidente vai mantê-la no cargo.

Erenice foi braço direito de Dilma na Casa Civil até a ministra deixar o cargo para ser candidata e assumiu a pasta após a sua saída.

Em troca de uma "taxa de sucesso", seu filho, Israel Guerra, teria ajudado a empresa MTA Linhas Aéreas a obter a renovação de uma concessão da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil).

O relato sobre o lobby foi feito à revista "Veja" por um empresário ligado à MTA e confirmado à Folha pelo mesmo empresário e por um diretor dos Correios.

Com a autorização para voar, a empresa conseguiu um contrato privilegiado de transporte de carga dos Correios, com dispensa de licitação e permissão para carga compartilhada.

Segundo a "Veja", o filho de Erenice foi ajudado por dois funcionários da Presidência: Vinícius de Oliveira Castro, exonerado ontem, e Stevan Knezevic.

A revista diz que foi Erenice quem viabilizou o sucesso da atuação do filho e que a ministra teria dito que o dinheiro pago na intermediação era necessário para "compromissos políticos".

OPERAÇÃO ABAFA

Ontem, Erenice começou a cumprir o que foi determinado por Lula. Pela manhã, entregou à Comissão de Ética Pública da Presidência pedido para ser investigada.

O órgão abriu procedimento padrão, que é de analisar em prazo de dez dias se aceitará ou arquivará o processo.

No pedido enviado à comissão, Erenice informou "disposição" de abrir, "se necessário", os seus sigilos bancário, telefônico e fiscal, assim como os de seu filho.

Em seguida, anunciou a demissão de Castro. Em nota, o servidor declarou que "repudia todas as acusações".

Castro, que trabalhava na Casa Civil desde junho de 2009, disse ter pedido demissão para se defender.

Erenice contratou o escritório Tojal, Teixeira Ferreira, Serrano & Renault Advogados Associados por sugestão do ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos. E Anunciou processo por calúnia contra a "Veja".

A Folha não conseguiu contato com a direção da revista ontem.

A Comissão de Ética da Presidência não tem poder de demitir servidores, apenas de fazer recomendações.

Os últimos processos envolvendo ministros ou foram extintos ou geraram apenas um alerta -como no caso em que Dilma se reuniu com o advogado Roberto Teixeira, compadre de Lula, para tratar da venda da Varig sem registrar o fato na agenda.

Erenice ficou sabendo da reportagem sexta-feira, quando estava em São Paulo.Sábado, telefonou para o chefe-de-gabinete de Lula, Gilberto Carvalho, para se explicar. Disse que a reportagem quer atingi-la por ser próxima de Dilma e negou ter feito tráfico de influência.

Domingo, Erenice foi ao Palácio da Alvorada conversar com Lula, que lhe cobrou explicações e recomendou que ela deveria apresentar respostas e provas "o mais rápido possível".

A "Veja" afirma também que Erenice e Israel convidaram Fábio Baracat, procurador da MTA, para conversar em sua casa em abril do ano passado. A Casa Civil não confirmou nem negou o relato até ontem à noite.
O diretor-geral da PF, Luiz Fernando Corrêa, determinou ontem à Corregedoria do órgão que analise a denúncia da revista "Veja" e avalie se é o caso de abrir um inquérito para apurar se houve tráfico de influência no caso

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