domingo, 26 de setembro de 2010

Lula, notícia e propaganda :: Clóvis Rossi

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

CARACAS - Há uma frase de Lula, ainda do início de seu primeiro mandato, que sempre me pareceu a mais acabada definição do que é notícia, quando vista dos palácios de governo: "Notícia é o que a gente [o governo] quer esconder; o resto é propaganda".

Até achei que a frase fora cunhada por Ricardo Kotscho, então assessor de imprensa do presidente, que conhece bem os dois lados do balcão. Mas, como ele nega, aceito que seja mesmo de Lula. Pena que ele a tenha esquecido.

Por isso mesmo, reclama quando a mídia mostra o que o governo gostaria de esconder, como aconteceu no caso Erenice Guerra, para ficar no exemplo mais recente.

Por isso, reclama também da falta de propaganda das ações governamentais, embora nada do que o governo fez ou diz ter feito deixasse de ser anunciado. Nem sempre foi a manchete principal, como todo governante gostaria que fosse, mas estava lá.

O que mudou entre a frase do início do governo e a choradeira de hoje? Lula encharcou-se de popularidade e, por isso, exige que todo o noticiário seja propaganda.

Aliás, qualquer governante gostaria de que os meios de comunicação não passassem de apêndices do Ministério de Comunicação Social ou de seu marketing. Só não tem, nas democracias, poder para tanto. E muitos, a maioria, tem pudor de confessar esse desejo.

Usam, então, o que o jargão britânico/americano chama de "spin doctors", os especialistas em torcer um fato de forma a apresentá-lo sob a luz mais favorável possível ao chefe de turno.

Não perco um segundo de sono nem com a incontinência verbal de Lula nem com os anões fascistóides, como Fernando Barros e Silva chamou, adequadamente, os hidrófobos do lulo-petismo.

Durmo ainda mais tranquilo depois de ver na Venezuela o que é de fato atacar a mídia.

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