sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Serra: 'Isso não é política, é sujeira'

DEU EM O GLOBO

Em seu programa eleitoral na TV, candidato tucano reage com indignação à quebra de sigilo fiscal de sua filha

Paulo Marqueiro, Maiá Menezes e Silvia Amorim

SÃO PAULO e RIO. O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, falou ontem pela primeira vez em seu programa de TV sobre a quebra de sigilo fiscal de sua filha, Verônica Serra. Em tom indignado, classificou o episódio de baixaria:

- Como todo o Brasil, fiquei sabendo que espionaram minha filha, uma mulher honrada que trabalha para sustentar os três filhos. Estou indignado. Quiseram prejudicá-la para me atingir. Isso não é política, é sujeira. Jamais aceitaria ser presidente a qualquer preço, fazendo baixarias.

Serra disse ainda que ele e a mulher sofreram com duas ditaduras (no Brasil e no Chile):

- Apontaram armas para as crianças - afirmou Serra, lembrando que ele lutou pela restauração da democracia.

Serra relacionou a quebra de sigilo de sua filha ao episódio do caseiro Francenildo Costa:

- Lembra o Francenildo? Se continuarmos assim, todos nós seremos Francenildos.

Antes da fala de Serra, o programa fez um relato dos últimos acontecimentos. Um apresentador contextualizou os fatos:

- Mais uma vez, os adversários tentam fazer uma armação para prejudicá-lo. Primeiro, violaram o Imposto de Renda de pessoas ligadas a Serra. Agora, violaram o Imposto de Renda até da filha dele. É como se alguém usasse sua senha de banco, vasculhasse sua conta, invadisse sua casa, revirasse suas gavetas, só para te prejudicar.

O programa procurou mostrar que não é de hoje que fatos semelhantes acontecem antes das eleições e lembrou o que ocorreu em 1989, quando Fernando Collor, que disputava a Presidência com Lula, levou para a TV a história da filha de Lula, o que o programa de Serra chamou de baixaria.

- Hoje Collor está com Dilma - disse o apresentador, enquanto eram exibidas imagens de Collor apoiando a candidatura de Dilma Rousseff (PT).

O programa lembrou o episódio dos aloprados, em 2006, quando a polícia apreendeu R$1,7 milhão que seria usado para comprar dossiês contra tucanos.

Em entrevista à rádio Jovem Pan, Serra afirmou:

- Esses blogs sujos de internet que o PT aluga, tantos jornalistas de aluguel que eles têm há tanto tempo. Eles vinham atacando minha filha. A tropa do PT. Aquele Lanzetta foi contratado e vários outros estavam todos na folha de pagamento do PT da campanha da Dilma.

Mais cedo, em São Paulo, em resposta à declaração de Lula de que a Receita Federal é séria e confiável, Serra disse que a instituição está sendo prejudicada e desprestigiada por "arapongas do PT". O tucano acusou o comando da Receita de montar uma operação "abafa-abafa" para atrasar a apuração da violação dos sigilos fiscais.

- A Receita, na verdade, está sendo prejudicada pela ação de arapongas do PT que procuram instrumentalizar órgãos do governo com vistas a suas propostas político-eleitorais - afirmou Serra, após reunião com o presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, em São Paulo.

Para Serra, a Receita tenta postergar as investigações. Anteontem, o secretário do órgão, Otacílio Cartaxo, informou que a Corregedoria da Receita estava delegando a apuração do caso ao Ministério Público Federal e à Polícia Federal, em Brasília. Eles são os responsáveis agora por descobrir quem falsificou a procuração apresentada à Receita em nome de Verônica, ano passado, e que possibilitou o acesso ilegal aos seus dados fiscais.

- A estratégia da Receita é postergar, e tem sido assim desde o começo. Agora, inclusive, levam para Brasília, quando o lugar (da investigação) deveria ser São Paulo. Há toda uma estratégia de abafa-abafa.

Serra concordou com Lula ao considerar a Receita um órgão sério. Mas explicou:

- A Receita como instituição é séria e responsável. O problema que está acontecendo não é por causa da Receita. O problema é a ação do PT junto à Receita, aproveitando que está no governo. O PT está conseguindo desprestigiar a Receita Federal.

Diante das novas declarações de Dilma de que o tucano é leviano ao acusar sem provas sua campanha, Serra reagiu:

- Quem tem que provar o contrário é ela - disse ele.

O presidenciável citou Dilma ao dar exemplos que ele considerou de interferência do governo na rotina da Receita.

- Houve problemas da própria Dilma com aquela secretária da Receita. Uma coisa que sempre coloca em dúvida a questão da interferência do governo no trabalho da Receita. A Receita, assim como a Polícia Federal, o Itamaraty, é uma instituição de Estado e não do governo.

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