sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Versões conflitantes

DEU EM O GLOBO

Office-boy nega versão de Atella sobre procuração falsa e polícia planeja acareação

Sérgio Roxo

SÃO PAULO - O office-boy Ademir Estevam Cabral negou ontem, em depoimento à Polícia Civil de São Paulo, que tenha participado da falsificação da procuração apresentada pelo suposto contador Antonio Carlos Atella Ferreira para obter os dados fiscais de Verônica Serra, filha do candidato do PSDB à Presidência, José Serra. A divergência deverá levar a uma acareação entre os dois. Ontem, a polícia pediu à Justiça a quebra do sigilo telefônico tanto de Atella quanto de Ademir. O objetivo é saber para quem eles ligavam na época em que foram acessados os dados de Verônica.

Protegidos por sigilo, os dados fiscais da filha de Serra foram parar num suposto dossiê que estava em poder de integrantes da campanha da candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff. Além de Verônica e do marido dela, outras quatro pessoas ligadas a Serra também tiveram os dados vasculhados na Receita.

No último dia 2, em entrevista ao Jornal Nacional, da TV Globo, Atella, filiado ao PT de Mauá (SP), disse que recebera a procuração de Ademir, filiado ao PV de Francisco Morato (SP). Afirmou ainda que Ademir o contratara para ir à Receita levantar informações sobre a filha de Serra: Ele tem contato com advogados e tem a reputação profissional de ser uma pessoa que agiliza os documentos dos órgãos disse Atella sobre Ademir.

Se Atella mantiver a afirmação, em seu depoimento previsto para hoje, a polícia deverá confrontar as versões.

Em depoimento prestado ontem de manhã na Delegacia Seccional de Santo André, na Região Metropolitana de São Paulo, ao qual O GLOBO teve acesso, Ademir disse conhecer Atella há cerca de cinco anos. Contou que não tem ocupação fixa e trabalha de forma autônoma, como despachante: dá entrada em documentos em órgãos como a Junta Comercial e a própria Receita Federal. Também declarou não conhecer Verônica e políticos de destaque no cenário nacional.

Em entrevista ao Jornal Nacional, Ademir explicou ontem por que ficou uma semana longe de sua casa, em Francisco Morato, e do escritório no Centro de São Paulo: Sou caipira. Não gosto de aparecer.

Estou sendo chamado de bandido, mas não sou bandido.

Sou pai de família e trabalhador.

Ademir também forneceu material para exame grafotécnico. O objetivo é verificar de quem é a letra na falsa procuração.

Atella e Ademir dividiam escritório

O delegado José Emílio Pescarmona, que ouviu Ademir, disse que ele deu uma versão oposta à de Atella: Alega o Ademir que ele nunca passou serviço ao Antonio Carlos (Atella). Ao contrário, o Antonio Carlos é que se prestava a dar serviço ao Ademir. Alega também que não conhece Verônica Serra e desconhece o documento (a procuração).

Ademir contou à polícia que, por um mês em 2009, dividiu com Atella o escritório localizado no Centro da capital paulista. Segundo ele, essa sociedade foi anterior ao período em que houve a quebra do sigilo fiscal de Verônica.

Contou que, por motivos pessoais, o suposto contador teria deixado de atender no local.

Ainda no depoimento, o officeboy contou que teve contato com Atella, pela última vez, uma semana antes de o nome do suposto contador aparecer como responsável pela falsa procuração.

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