quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Vitamina eleitoral anti-Chávez

DEU EM O GLOBO

Com mais votos que presidente pela 1ª vez em 11 anos, oposição ganha força para 2012

Janaína Figueiredo

Apesar de o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, ter modificado estrategicamente a lei eleitoral do país em 2009 para favorecer o Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) nas eleições legislativas de domingo passado, a oposição obteve, pela primeira vez em 11 anos, mais votos do que os candidatos chavistas. Segundo explicaram analistas locais ao GLOBO, a oposição venezuelana melhorou a quantidade e a qualidade de seus votos, já que cresceu em regiões antes dominadas pelo chavismo, como os estados de Táchira e Monagas, entre outros. Com este cenário, a possibilidade de derrotar o líder bolivariano nas presidenciais de 2012 com um candidato único, que surgiria de futuras eleições primárias, ganhou força.

De acordo com dados divulgados ontem em Caracas, a oposição unida (Mesa de Unidade Democrática e Pátria Para Todos) alcançou 5.642.553 milhões de votos (51% do total), e o PSUV obteve 5.399.574 (49%). Perguntado sobre a contradição entre a quantidade de votos e cadeiras no Parlamento, o presidente se irritou com os jornalistas e reforçou sua leitura vitoriosa dos resultados eleitorais. Longe de adotar um discurso conciliador, Chávez desafiou a oposição a convocar um referendo antes de 2012 para tentar derrubá-lo.

- Como dizem que são maioria, que convoquem um referendo. Por que esperar dois anos para se livrar de Chávez? - provocou.

"Foi um duelo entre Davi e Golias"

Para Nicolás Toledo, da Consultores XXI, o presidente venezuelano está vivendo uma nova etapa de seu governo, na qual representa uma minoria que, para recuperar a maioria perdida, deve manipular as normas eleitorais do país.

- O governo só obteve uma maior representação na assembleia porque modificou a lei eleitoral - assegurou Toledo.

Segundo ele, "em 2012 a mesma manobra não será possível, porque será uma eleição nacional, e Chávez não tem como alterar essas regras".

- Se a oposição consolidar sua união, tem chances de vencer. Há líderes opositores, como Henrique Capriles Radonski (governador de Miranda), com mais popularidade hoje do que Chávez - disse.

Na visão da jornalista Gloria Bastidas, do "El Nacional", a vitória da oposição foi contundente, sobretudo porque "este foi um duelo entre Davi e Golias. Um Estado todo-poderoso e uma oposição que não tem tantos recursos".

- Apesar de Chávez ter cometido abusos terríveis, a oposição conseguiu mais votos - destacou Bastidas.

De acordo com a jornalista, "a deterioração da situação social e econômica do país explica a perda de votos por parte do governo e o crescimento da oposição".

- Já não se trata de defender a liberdade, um conceito abstrato; os venezuelanos estão sofrendo consequências em sua vida cotidiana e buscaram um culpado de carne e osso, que é Chávez - afirmou Bastidas.

Para ela, "o resultado de domingo passado ameaça a popularidade do presidente e deveria ser a semente de uma vitória da oposição em 2012".

Cientes dos desafios que deverão enfrentar a partir de agora, governo e oposição já começaram a trabalhar para as presidenciais. Uma das hipóteses que circulavam ontem entre analistas locais era a de que Chávez poderia apelar para a mesma estratégia utilizada em 2004 e 2005, quando sua popularidade começou a recuar. Na época, o presidente lançou as chamadas missões bolivarianas - programas sociais de educação, saúde e alimentação, entre outros. Para os opositores, a principal preocupação é como manter a unidade conquistada e atuar de forma articulada na Assembleia Nacional a partir de janeiro de 2011 e, sobretudo, construir um processo capaz de eleger um candidato único nas próximas presidenciais.

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