sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Agnelli: Vale é alvo de 'jogo político'

DEU EM O GLOBO

Em meio a rumor de que sairia, presidente de mineradora diz: "turma do PT está procurando cadeira"

Danielle Nogueira*

Em meio a um tiroteio de palpites sobre seu futuro na Vale num eventual novo governo do PT, o presidente da empresa, Roger Agnelli, se diz tranquilo e confiante de que terá o apoio dos acionistas para permanecer à frente da companhia. Na Zâmbia, onde viajou para inaugurar um projeto de cobre da Vale, Agnelli afirmou ontem que os rumores sobre sua substituição fazem parte do "jogo político, jogo de eleição". Segundo o presidente da maior empresa privada do país, o que está por trás do "disse me disse" é que tem muita gente do PT "procurando cadeira". O executivo aproveitou para defender a privatização da Vale e de outras ex-estatais, tema que ganhou destaque nas campanhas eleitorais.

- Eu me sinto à vontade, tranquilo (em relação a seu destino na Vale). Tem muita gente procurando cadeira, essa é a realidade. E normalmente é a turma do PT. Toda eleição acontece isso. Agora, a empresa, quem decide são os acionistas - disse Agnelli ontem na inauguração do primeiro projeto de cobre da empresa no país africano.

Os acionistas da Valepar, holding que controla a Vale, são o Bradesco (21,21%), a japonesa Mitsui (18,24%), a BNDESpar (11,51%) e a Littel (49%), que reúne fundos de pensão como Previ (Banco do Brasil) e Petros (Petrobras).

Executivo defende privatizações

Foi a primeira vez que Agnelli falou em público sobre os recentes rumores sobre seu futuro na Vale. Comenta-se nos bastidores que, caso a candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, ganhe as eleições, a permanência do executivo na empresa estará vinculada à continuidade dos investimentos em siderurgia, alinhando a companhia com os projetos do governo. O próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva já cobrou publicamente da empresa investimentos no setor mais de uma vez.

Agnelli afirmou ontem que seu relacionamento com Lula é "aberto e transparente" e disse que a Vale "está fazendo a parte dela" nos investimentos em siderurgia. Segundo o presidente da Vale, os rumores sobre sua possível saída têm fundo ideológico:

- Tem gente no PT e mesmo no PSDB que é contra a privatização. Não há como argumentar, como discutir com ideologia, ideologia não é racional. Agora, ninguém pode questionar que uma das privatizações mais bem-sucedidas do mundo foi a da Vale. A privatização da siderurgia, das telecomunicações, da Embraer também foram benéficas para o país. Não tem como discutir com fatos.

O executivo afirmou também ter uma boa relação com Dilma, de quem se aproximou na época em que fazia parte do Conselho de Administração da Petrobras. Dilma presidia o Conselho como então ministra de Minas e Energia.

- Nunca tivemos uma aresta sequer em anos de convivência - disse Agnelli, referindo-se à Dilma.
- O governo pode fazer pressão na Vale, como pode pressionar outras empresas para investir mais ou menos, para que mude a estratégia. Quando o presidente Lula fala "vamos investir em siderurgia", eu o entendo perfeitamente. O país vai precisar de mais aço, e o setor siderúrgico investe pouco. Então, o presidente tem uma certa angústia para que os investimentos aconteçam. E a Vale está fazendo a parte dela.

A Vale tem quatro projetos de siderurgia em andamento - em Rio, Pará, Ceará e Espírito Santo - que somam US$21 bilhões em investimentos, incluindo recursos de sócios.

Sobre os rumores de sua saída da Vale, Agnelli disse não se abalar.

- A minha situação na Vale quem decide são os acionistas e qualquer decisão estará sempre fundamentada em resultados. O resto é jogo de bastidor, jogo de eleição, jogo politico, jogo de sindicato.

Agnelli está na presidência da Vale desde 2001 e seu mandato expira em meados do ano que vem. A permanência ou não do executivo depende de um acordo entre acionistas da Valepar, holding que controla a Vale, com 53,5% das ações ordinárias (com direito a voto) da mineradora. O acordo, firmado na época da privatização da Vale, em 1997, exige um mínimo de 67% dos votos dos controladores para destituir o presidente da companhia. Somando as participações de Litel (que reúne fundos de pensão de funcionários de estatais) e BNDESPar, o governo teria indiretamente 61,51% dos votos, insuficientes, portanto, para definir, sozinho, o futuro de Agnelli.
O desgaste na relação entre o presidente da Vale e o Planalto se acirrou no fim de 2008, quando a empresa, no auge da crise econômica global, anunciou a demissão de 1.300 trabalhadores, o que teria irritado Lula. No ano passado, a tensão aumentou com a demissão de Demian Fiocca, ex-braço direito do ministro da Fazenda, Guido Mantega, da diretoria da Vale.

(*) A repórter viajou a convite da Vale

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