segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Caso Erenice tirou de Dilma mais votos do que as igrejas

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

As acusações que derrubaram Erenice Guerra da Casa Civil e a quebra de sigilo de tucanos tiveram o triplo do peso das questões religiosas na perda de votos que Dilma Rousseff, candidata do PT à Presidência, sofreu no primeiro turno. O dado consta da mais recente pesquisa Datafolha. A petista perdeu quatro pontos (4 milhões de votos), 75% deles devido aos escândalos.

Caso Erenice mudou mais votos que temas religiosos

Escândalos pesaram 3 vezes mais entre eleitores de Dilma que mudaram de ideia

Segundo Datafolha, só 25% dos que iriam votar na petista mas alteraram a escolha o fizeram por questões religiosas

Fernando Canzian

DE SÃO PAULO - Os fatos que levaram à queda da ex-ministra Erenice Guerra da Casa Civil e a quebra de sigilo de tucanos tiveram peso quase três vezes maior na perda de votos de Dilma Rousseff (PT) no primeiro turno do que questões relacionadas à religião.

Segundo pesquisa Datafolha realizada na última sexta, cerca de 6% dos eleitores mudaram seu voto, considerando tanto Dilma quanto José Serra (PSDB), por conta dos casos que marcaram a reta final do primeiro turno.

Desse total, Dilma perdeu cerca de quatro pontos percentuais entre o total de eleitores. Aproximadamente 75% das perdas ocorreram por conta dos escândalos recentes no governo.

O restante, por questões relacionadas à religião- não exclusivamente envolvendo a posição da candidata sobre o aborto.

Já Serra perdeu dois pontos percentuais. Tanto pelo caso de quebra de sigilo de tucanos quanto pelo caso Erenice.

Os dois casos podem ter levantado suspeitas sobre irregularidades fiscais dos citados ou envolvimento de tucanos nas denúncias, por exemplo.

A perda de eleitores de Dilma, que conquistou 47% dos votos válidos no primeiro turno, foi de aproximadamente 4 milhões de eleitores. A de Serra, que teve 33% dos votos válidos, de 2 milhões.

Como a margem de erro do levantamento (feito com base em 3.265 entrevistas em todo o país) é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos, o total de votos perdidos pode ter sido maior ou menor na mesma proporção da margem de erro.

O percentual de eleitores no país que tomou conhecimento dos casos Erenice Guerra e da quebra de sigilo de tucanos é expressivamente maior do que o do total que recebeu alguma orientação de sua igreja para que deixasse de votar em determinado candidato.

Os resultados da pesquisa, portanto, não confirmam a tese de que foi o voto relacionado a questões religiosas que levou a eleição presidencial ao segundo turno.

Tomaram conhecimento do caso Erenice 48% dos eleitores. No caso da quebra de sigilos, foram 56%.

Já o total que recebeu alguma orientação na igreja que frequenta para que deixasse de voltar em algum candidato a presidente atingiu 3%.

Os dois casos que mais pesaram na mudança de votos dos eleitores na reta final do primeiro turno tiveram influência direta de reportagens publicadas pela Folha.

O primeiro (quebra de sigilo) foi revelado pelo jornal em junho, muito antes do primeiro turno.

Em relação à queda de Erenice, o caso foi levantado inicialmente pela revista "Veja". Mas foi uma reportagem da Folha que levou à queda da ex-ministra no dia 16 de setembro, a duas semanas do primeiro turno.

As denúncias de tráfico de influência na Casa Civil foram determinantes para mudanças de voto principalmente entre os eleitores mais escolarizados e de maior renda, mostra o Datafolha.

Entre os que votaram em Marina (que teve 19% dos votos válidos), 7% dizem ter deixado de votar em Dilma por conta do caso Erenice.

Chega a 1% do total do eleitorado o percentual dos que dizem ter deixado de votar em Dilma Rousseff para votar em Marina por causa da queda de Erenice Guerra.

A taxa dos que fizeram o mesmo por recomendação da igreja não alcança 1% do eleitorado.

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