quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Cresce desigualdade entre homens e mulheres no país

DEU EM O GLOBO

Estudo do Fórum Econômico Mundial mostra que, pelo segundo ano seguido, o Brasil caiu no ranking internacional de desigualdade entre homens e mulheres. Passou do 81º lugar, em 2009, para a 85ª posição este ano. A pior situação é a diferença de renda entre os sexos, que coloca o país na 123ª colocação em uma lista de 134 países. Outro problema é a baixa participação política das mulheres, com apenas 9% de presença no Congresso.

Desigualdade entre os sexos

Fernanda Godoy*

NOVA YORK e BRASÍLIA - Boa notícia para as mulheres do mundo, mas não para as brasileiras. Enquanto a igualdade entre os sexos está aumentando na grande maioria dos países, a situação no Brasil está piorando.

De um conjunto de 134 países, o Brasil caiu do 81olugar, em 2009, para a 85aposição, este ano. É a segunda queda consecutiva. E o país está entre os piores do ranking global quando o assunto é diferença salarial.

Comparando a remuneração entre homens e mulheres, o Brasil despenca para a 123ª posição, o pior resultado em cinco anos.

Desde que o estudo Gender Gap, do Fórum Econômico Mundial, começou a ser feito, em 2006, 86% dos países aproximaram as condições de vida e de renda entre mulheres e homens. O Brasil, porém, ficou no mesmo lugar, com uma melhora insignificante, de apenas 1%.

O Gender Gap compara 14 indicadores, que vão da educação à expectativa de vida, passando pela participação no mercado de trabalho, remuneração e participação política (número de mulheres no Congresso e nos altos escalões do governo). São dois os indicadores que colocam o Brasil em posição de desvantagem: a desigualdade na remuneração — o estudo aponta que a mulher brasileira ganha pouco mais da metade do salário do homem para fazer o mesmo trabalho — e a baixa participação política das mulheres, com apenas 9% de presença no Congresso.

Para a economista Saadia Zahiri, uma das coordenadoras do estudo e diretora do Programa de Liderança para Mulheres do Fórum Econômico Mundial, os resultados internacionais são animadores e revelam o acerto de algumas políticas públicas.

— O que mais nos amima é que há avanços tanto no topo do ranking quanto na parte de baixo, nos países que já estavam bem e em outros que conseguiram resultados importantes nos últimos anos. Não apenas na Noruega ou na Finlândia, mas também entre os Emirados Árabes — disse Saadia.

A pesquisadora nota que o Brasil melhorou, em termos de igualdade, na esfera da educação fundamental e básica, nos níveis de alfabetização, e que, no que diz respeito ao ensino universitário, as mulheres já ocupam mais vagas que os homens.

— Isso é extremamente importante nesse momento em que o país está mudando de perfil, passando a ser uma economia mais voltada à inovação e ao conhecimento. É preciso assegurar que todo esse talento será integrado à economia, mas quando você olha os níveis de participação na economia, as mulheres têm 64%, contra 85% dos homens — analisa Saadia.

O grande problema do Brasil, continua, é que a integração de grandes contingentes de mulheres às escolas e ao mercado de trabalho não está se traduzindo em maior igualdade de renda. Em termos salariais, a mulher ganha 60% da remuneração masculina para fazer o mesmo trabalho: US$ 7.190 anuais, em média, para mulheres, contra US$ 12 mil pagos aos homens

Brasil perde para Argentina e Chile

As mulheres brasileiras já são maioria nas ocupações com formação técnica ou universitária (52%), mas apenas 36% delas chegam aos postos de comando, o que é apontado pelo estudo como um dos índices de maior desigualdade de gênero no país.

O Brasil vai mal também na comparação com os vizinhos: a Argentina aparece na 28ª posição no ranking, e o Chile, fica em 48º lugar.

Assessora da Secretaria de Política para as Mulheres do governo federal, a economista Hildete Pereira acredita que a persistência das desigualdades entre gêneros no Brasil é um rescaldo da formação histórico-social do país.

Ela concorda que é exígua a participação das mulheres na política e que a diferença salarial entre os sexos continua em quase 30%, mas sustenta que as mulheres estão estudando mais do que os homens: — A estrada que está sendo trilhada no país demonstra que houve um crescimento na área do trabalho, porém ainda estamos longe. Mas na política é uma pedreira e nem mesmo as eleições de 2010 conseguiram mudar esta realidade.

Quatro países nórdicos se mantiveram no topo da lista: Islândia, Noruega, Finlândia e Suécia.
Estes países chegaram a reduzir a desigualdade entre gêneros em mais de 80%. Na Suécia, a licença pelo nascimento de um filho é em média de um ano, podendo ser estendida com redução proporcional de salário, mas tem que ser exercida ao menos em parte pelo pai. São cada vez mais frequentes os casos de famílias em que marido e mulher dividem em proporções mais equilibradas, ou até iguais, o tempo de licença.

— É claro que os países nórdicos têm níveis de impostos muito altos, e que suas políticas são difíceis de reproduzir. Mas é possível replicar algumas experiências, como a igualdade na distribuição de cargos nos conselhos e a substituição do conceito da licença-maternidade pelo de uma licença para os pais — afirmou Saadia.

Em escala global, a presença de mulheres em cargos políticos, que era de 14% em 2006, subiu para 18% ano.

Os Estados Unidos subiram no ranking chegando à 19ª colocação, devido à nomeação de um grande número de mulheres para cargos importantes no governo do presidente Barack Obama. O principal exemplo é o da secretária de Estado, Hillary Clinton.

Na Ásia, o melhor desempenho foi o das Filipinas, um dos únicos oito países do mundo a já ter eliminado as diferenças entre os sexos nos indicadores de saúde e educação.


Colaborou Mônica Tavares
(*) Correspondente


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