sábado, 2 de outubro de 2010

Diretor de estatal pede votos para Dilma

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Dirigente da Imprensa Nacional distribui carta durante expediente, mas alega que a enviou apenas a seus amigos

Fernando Tolentino pede que funcionários votem no candidato do PT a governador; lei proíbe essas práticas

Simone Iglesias
DE BRASÍLIA - O diretor-geral da Imprensa Nacional, Fernando Tolentino, distribuiu a funcionários, na sede da estatal e em horário de expediente, uma carta pedindo votos aos candidatos do PT à Presidência, Dilma Rousseff, ao governo do DF, Agnelo Queiroz.

A Imprensa Nacional, órgão da Presidência ligado diretamente à Casa Civil, é responsável pela publicação do "Diário Oficial" da União.

A legislação veda esse tipo de atitude e a tipifica como abuso de poder. A lei 8.112, que dispõe sobre servidores públicos federais, diz no art. 117 que é proibido promover manifestação de apreço ou desapreço no trabalho; valer-se do cargo para ter proveito pessoal ou para outros; e exercer quaisquer atividades que sejam incompatíveis com o exercício do cargo e com o horário de trabalho.

A Lei Eleitoral proíbe ainda a conduta do diretor-geral, vedando a atuação de servidor por partidos ou coligações durante horário de expediente, a não ser que esteja de férias ou licenciado, o que não é o caso do dirigente.

Na carta, Tolentino, que é filiado ao PT, elogia o presidente Lula e critica a oposição "raivosa" e "inconformada". O dirigente confirma a autoria da carta e que a distribuiu na sede da estatal, mas somente "para amigos". Ele nega que o texto tenha sido entregue indiscriminadamente a todos os servidores.

Ao elencar o que considera avanços do governo Lula, diz se sentir recompensado "porque, ao dar um basta na política do Estado mínimo, o governo estancou o processo de desmonte da Imprensa Nacional." Em seguida, Tolentino afirma ter ajudado no processo de fortalecimento do órgão e que eleger Dilma é a garantia de "dar continuidade a esse processo".

"Para aprofundar as mudanças em nível nacional, é preciso eleger Dilma Rousseff, a principal auxiliar de Lula e nossa ex-ministra chefe da Casa Civil", afirma em um trecho da carta.

Além de pedir votos para a candidata petista, Tolentino sugere que os funcionários votem em Agnelo e dá dicas para votar em candidatos a deputado federal e distrital da coligação do PT.

"Para deputado distrital [dá para confiar] somente nos que começam com 13 (PT), 10 (PRB), 12 (PDT), 40 (PSB), 44 (PRP) e 65 (PC do B). Cuidado porque há outros partidos que apoiam Agnelo, mas alguns de seus candidatos bandearam-se para a turma de [Joaquim] Roriz: 14 (PTB), 15 (PMDB) e 36 (PTC)", explica o diretor-geral.

Um funcionário que pediu para não ser identificado disse que recebeu a carta quinta à tarde de uma funcionária ligada diretamente a Tolentino. Segundo ele, a servidora chegou ao seu departamento com uma pilha considerável de cartas e as distribuiu para todos. Tolentino disse que não pediu a ninguém para que distribuísse as cartas.

O servidor da estatal disse que não se julga amigo do diretor, mas que mesmo assim a carta lhe foi entregue.

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