quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Inflexão :: Eliane Cantanhêde

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

BRASÍLIA - A agressividade, ops!, a "assertividade" de Dilma Rousseff no debate da Band marcou uma nítida inflexão na sua campanha e veio para ficar. Os programas do PT estão mais pesados, forçando a comparação entre o governo de Lula e o de FHC e insistindo que os tucanos privatizam até a mãe. A Dilma boazinha já era.

Já o Serrinha reforça o gênero paz e amor, apesar dos rompantes. Surpreendido pela reviravolta da adversária, parece no segundo turno um padre pregando a união entre todos os irmãos.

Se Dilma é objetiva, Serra está subjetivo. Ela fala em Bolsa Família e Luz Para Todos, programas que atingem diretamente a "vida das pessoas" -expressão que sempre repete para engatilhar os 28 milhões que saíram da miséria. Ele responde com conceitos abstratos: "caráter", "verdade", "coerência", "honestidade". Além disso, se Dilma se esforça para falar e para mostrar gente, Serra insiste em falar de empresas e de investimentos.

Num movimento pendular, Lula some da propaganda de Dilma, e Fernando Henrique aparece na de Serra, como se um já tivesse dado tudo o que tinha de dar à campanha e o outro estivesse sendo redescoberto oito anos depois.

Dilma vinha perdendo votos devagar e sempre desde o fim do primeiro turno.

Evidentemente, acendeu uma luz amarela na sua candidatura, que deu uma chacoalhada no jeitão e joga com o confronto.

Serra, que foi favorecido pela queda de Dilma e principalmente pela ascensão de Marina Silva, não chacoalhou nada, optando pelo personagem sereno e confiável. Devem ter bons motivos -ela para jogar o personagem boa moça fora, e ele para manter o bom moço no ar.

Com a distância encurtando, mas ainda bem favorável a Dilma, ela precisa segurar a sangria, ele tem de ousar. O problema dos dois é que, com o tempo apertado, não dá mais para improvisar nem para testar. É acertar ou acertar a mão.

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