terça-feira, 5 de outubro de 2010

Influência de verde no segundo turno será relativa, afirmam especialistas

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Claudia Antunes

DO RIO - A análise das eleições presidenciais desde 2002 indica que Marina Silva (PV) herdou votos de dissidentes tucanos e petistas e que a ascendência da candidata sobre esse eleitorado no segundo turno deve ser relativa, afirma o cientista político Cesar Romero Jacob, da PUC-RJ.

A influência do PV, que não conseguiu aumentar sua bancada federal (de 14 deputados) apesar da votação de Marina, tende a ser menor ainda, diz Jacob, autor de "A Geografia do Voto nas Eleições Presidenciais: 1989-2006".

"Tirando 1989, quando Leonel Brizola transferiu os votos maciçamente para Lula no segundo turno, não existe outro caso parecido. Em 2002, Ciro Gomes e Anthony Garotinho tiveram juntos cerca de 30% dos votos no primeiro turno e recomendaram voto em Lula, mas metade foi para o Serra", afirma.

Ao analisar as séries históricas, Jacob aponta que Dilma (PT), com 46,9% dos votos, ficou no patamar que Lula teve no primeiro turno em 2002 (46,4%) e também em 2006 (48,6%).

Marina, com 19,3%, atingiu pouco mais do que a soma dos votos dos ex-petistas Heloísa Helena (PSOL) e Cristóvam Buarque (PDT) no primeiro turno de 2006 -9,5%-, com os 9 pontos que separaram a votação de José Serra (PSDB) agora, 32,61%, da do tucano Geraldo Alckmin naquele ano (41,62%).

Isso não significa, pondera o cientista político, que houve uma migração exata desses eleitores. Mas, uma vez que o voto propriamente ambientalista é reduzido, a comparação mostra que o apoio de tucanos e petistas insatisfeitos foi importante para o desempenho da candidata do PV -o presidenciável do PSOL, Plínio de Arruda Sampaio, teve só 0,87%.

OUTROS FATORES

Além dessa confluência, ele aponta mais três possíveis fatores que pesaram na votação de Marina:

1) Os dons pessoais e oratórios da candidata, que é "boa de fala" e livre do "engessamento" imposto a Dilma e Serra pelo marketing político;

2) A ação de oligarquias regionais, nos Estados do Norte e Nordeste onde a verde teve mais votos do que o previsto, interessadas em aumentar o poder de barganha, sobretudo com Dilma;

3) As manifestações nas últimas semanas de bispos católicos e pastores evangélicos contra a petista.

"A Marina não é dona dos seus votos. Um segundo turno foi do interesse de muita gente", diz Jacob.

Alberto Almeida, do instituto Análise, afirma que não há evidência de que fatores morais ou religiosos tenham favorecido Marina em detrimento de Dilma. "É como o boato de que Serra ia acabar com o Bolsa Família."

Ele acredita que as denúncias que derrubaram a ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra tiraram votos da petista em favor de Marina, em especial entre eleitores com renda de 5 a 10 mínimos e que têm de 18 a 30 anos. "Há forte correlação entre essa faixa de idade e o aumento do nível educacional da população", afirma.

Mas Almeida também acha difícil antecipar para onde vão os votos da verde: "Carisma não migra".

Embora acredite que o tucano será o maior beneficiário, ele calcula que, para chegar a mais da metade dos votos válidos, Dilma só teria que ganhar 15% dos votos da verde. "Serra tem que ter 85% e ainda tirar votos de pessoas que votaram em Dilma. Não é trivial", afirma.

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