terça-feira, 19 de outubro de 2010

Ligações estreitas com Dilma

DEU EM O GLOBO

Diretor da Eletrobras acompanha candidata desde os anos 90

Gustavo Paul e Fabio Fabrini

BRASÍLIA. Homem de confiança da ex-ministra Dilma Rousseff desde o final dos anos 90, Valter Luiz Cardeal foi o responsável por executar boa parte da estratégia de retomada do poder estatal no setor elétrico. A relação entre os dois é tão estreita que, de janeiro de 2007 a março de 2008, a então chefe da Casa Civil o manteve na direção interina da Eletrobras, mesmo contrariando a pressão do PMDB, que reivindicava o cargo. Só com a pressão do senador José Sarney (PDMB-AP), o cargo foi finalmente entregue a seu conterrâneo e protegido José Antonio Muniz Lopes, ex-presidente da Eletronorte no governo de Fernando Henrique.

Na ocasião, além de querer manter Cardeal no comando da estatal, Dilma aceitou os argumentos contra a indicação do PMDB, feitos por Erenice Guerra, então sua secretária-executiva.

Ex-funcionária da Eletronorte, Erenice resistia à indicação de um ex-dirigente da gestão tucana.

Sarney venceu, mas Muniz Lopes só pôde assumir após dois meses de disputa política, e depois de ser sido absolvido, por unanimidade, pelo Tribunal de Contas da União (TCU) da acusação de superfaturamento numa obra da Eletronorte.

Ele ainda é o presidente da estatal.

Dilma também condicionou a saída de Cardeal da presidência à sua indicação como diretor da estatal. Ela admitiu que o PMDB indicasse os presidentes das empresas do setor, mas as diretorias estratégicas não entraram no rateio político. Foi a fórmula que o Palácio do Planalto encontrou para dar ao PMDB a pasta de Minas e Energia, sem perder o controle.

Fontes do setor de energia dizem que projetos estratégicos levados por empresários à Casa Civil sempre foram levados a Cardeal.

— Na área de mineração, há um termo chamado paragênese: onde há a presença de um mineral, há a de outro. É assim com Dilma e Cardeal — diz um consultor do setor energético.

Na presidência da estatal, e depois como titular da poderosa Diretoria de Planejamento e Engenharia, Cardeal tocou o fortalecimento da empresa, como desejava Dilma. No início de 2008, coube a ele comandar a tramitação de uma medida provisória que transformava a Eletrobras numa superestatal do setor elétrico.

Relatada na Câmara pelo deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) — que tem ligações políticas com empresas do setor, inclusive Furnas —, o texto permitia à Eletrobras e a suas subsidiárias atuarem no exterior. Também autorizava que a Eletrobras controlasse empresas em sociedade com empreendedores privados. A estatal passou a ter as mesmas prerrogativas da Petrobras.

Como diretor da estatal, Cardeal assumiu a condução de projetos estratégicos, como a formatação do leilão da usina de Belo Monte. A ligação entre Cardeal e Dilma vem dos tempos em que ela era secretária de Energia do Rio Grande do Sul, no governo Alceu Collares (19911995). Cardeal era diretor da Companhia Estadual de Energia Elétrica do Rio Grande do Sul (CEEE). Os dois romperam com o PDT para integrar o governo do petista Olívio Dutra (19982002). Em 2001, foram para o PT e, em 2003, para o governo Lula. Quem os acompanha desde os tempos de Collares é Giles Carriconde de Azevedo, que ocupou a Secretaria de Minas e Metalurgia do Ministério das Minas e Energia; depois foi assessor de Dilma na Casa Civil, e hoje é um dos principais aliados na campanha.

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