terça-feira, 19 de outubro de 2010

Minas decide:: Merval Pereira

DEU EM O GLOBO

Tanto o governo quanto a oposição estão convencidos de que a eleição no segundo turno será decidida em São Paulo e Minas, os dois maiores colégios eleitorais do país. Desde a redemocratização, nenhum presidente foi eleito sem vencer em Minas. Mais uma vez o resultado do primeiro turno da eleição para presidente em Minas Gerais coincidiu com o resultado oficial geral.

A candidata Dilma Rousseff teve em Minas 46,9% dos votos, o mesmo percentual que obteve no Brasil, e o tucano José Serra teve 30,7%, contra 32,6% no país. Também a candidata verde Marina Silva recebeu em Minas 21,2% dos votos, contra 19,6% no plano nacional.

Não se trata de mera coincidência, mas de uma representação das diversas regiões do país que já havia sido detectada por um mineiro ilustre, Afonso Arinos de Mello Franco, e foi confirmada pelo presidente do Ibope, Carlos Augusto Montenegro, que constatou em muitos anos de pesquisa eleitoral que os resultados em Minas refletem cada vez mais a média nacional.

Isso porque Minas tem sua parte Nordeste na região do Vale do Jequitinhonha, e por isso faz parte da Sudene; ao mesmo tempo, é a segunda economia do país (disputando com o Rio) com uma região fortemente industrializada, grande influência paulista na divisa com São Paulo; Juiz de Fora é muito ligada ao Rio de Janeiro; e o estado tem no agronegócio uma parte influente de sua economia.

Em alguns casos, o resultado local foi praticamente igual ao nacional. E quando isso não acontece, é certo que a tendência fica definida nas urnas mineiras: Lula teve 50,80% (48,6% no país), contra 40,6% (41,6% no país) de Alckmin.

Em 1989, Collor teve 36,1% em Minas (30,5% no país) contra 23,1% (17,2%) de Lula; em 1994, Fernando Henrique teve 64,8% em Minas (54,3% nacional) contra 21,9% de Lula (27%); em 1998, FH teve 55,7% em Minas (53,1% nacional) contra 28,1% de Lula (31,7% nacional).

Em 2002, Lula venceu com 53% (46,4% nacional) e Serra teve 22,9% (23,2%).

O ex-governador Aécio Neves, a grande liderança política mineira em cujo empenho o PSDB deposita a esperança de reverter o quadro do primeiro turno, gosta de citar Afonso Arinos para explicar a centralidade de Minas no processo político nacional: “Minas é o centro, e o centro não quer dizer imobilidade, porém peso, densidade, nucleação, vigilância atenta, ação refletida, mas fatal e decisiva”.

Afonso Arinos explica em linguagem poética o que os números frios das urnas definem: “As suas terras tocam os climas do norte. Participa dos climas úmidos e florescentes da orla litorânea. A oeste, da civilização do couro. Ao sul, confina com a riqueza paulista. Daí a sua posição histórica, que é um imperativo geográfico, econômico, étnico”.

No primeiro turno, repetindo o que aconteceu com Lula em 2002 e 2006, a candidata do PT Dilma Rousseff teve 5.067.399 votos e venceu Serra por uma diferença de 1.750 mil votos.

O fato é que a situação em Minas já está mudando em favor de Serra. Na capital Belo Horizonte, onde Marina teve a maior votação no primeiro turno (39,8% dos votos), Dilma teve 30,9% e Serra, 27,7%, segundo o Instituto Vox Populi, que faz pesquisas para o governo do PSDB no estado, a eleição já virou: Serra estaria com 45%, contra 35% de Dilma.

Pelas contas do PSDB, o candidato tucano tem um potencial de agregar cerca de 3 milhões de votos, que foi a diferença da votação de Serra para a de Anastasia para governador.

Além do voto Dilmasia, provavelmente grande parte dos votos de Marina nesse primeiro turno foram também para o candidato oficial ao governo do Estado, já que o candidato do PV ao governo, José Fernando, teve apenas 234.125 votos.

Em São Paulo, Serra teve cerca de 2 milhões de votos a menos do que Geraldo Alckmin recebeu para governador, eleitorado que pretende recuperar neste segundo turno.

Além do mais, Marina Silva teve nada menos que 4.865.828 votos para presidente.

A diferença a favor de Serra em São Paulo foi de meros 700 mil votos, longe da vantagem histórica que os tucanos sempre tiram na eleição presidencial, mesmo quando perdem em nível nacional.

Geraldo Alckmin, em 2006, venceu Lula em São Paulo por 3,8 milhões de votos, e Fernando Henrique chegou a colocar 5 milhões de votos na frente na eleição de 1998.

Quando Serra estava na frente das pesquisas, os estrategistas do PSDB consideravam que seria possível garantir a eleição com uma vitória em Minas, o que representaria uma virada no voto de quase dois milhões de pessoas em relação às votações petistas dos últimos anos.

E que poderiam chegar à marca de 5 milhões de votos de diferença em São Paulo, pois o PSDB estava mantendo sua hegemonia paulista com o favoritismo de Geraldo Alckmin.

Os tucanos estão otimistas, achando que pode acontecer no segundo turno o cenário idealizado por eles para vencer no primeiro turno.

É por isso que o presidente Lula ficará dedicado nos últimos 10 dias de campanha a comícios em São Paulo e Minas, para garantir a vantagem de Dilma Rousseff.

Ao contrário do que escrevi, em 2006 a Record realizou debate presidencial, no segundo turno, no dia 23 de outubro.

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