terça-feira, 12 de outubro de 2010

Privatização da Vale e aparelhamento de fundos confrontam Dilma e Serra

DEU EM O GLOBO

Empresa cresceu, está em mais de 40 países e fatura quase R$ 50 bi

Chico Otavio

A privatização da Vale, ocorrida há mais de 13 anos, também opôs, na noite de domingo, José Serra e Dilma Rousseff no debate da Band. A candidata do PT, para associar o candidato à venda de empresas públicas, disse que Serra foi um dos tucanos que mais lutaram pela desnacionalização da Vale. Serra, em resposta, disse que a empresa de mineração continua em poder do setor público, representado pelos fundos de pensão das estatais, e que o PT “está tirando casquinha” da situação.

Hoje, a Vale é um conglomerado atuando em mais de 40 países. De 2002 a 2009, seu faturamento saltou de R$ 15,2 bilhões para quase R$ 49,8 bilhões — mas o número do ano passado ainda foi afetado pela crise, pois em 2008 ela teve receita de R$ 72,7 bilhões.

Vendida em maio de 1997, no governo do tucano Fernando Henrique Cardoso, a Vale é hoje controlada pela Valepar, holding que detém 53,5% das ações ordinárias da empresa (com direito a voto). Com 21,21% da Valepar, a Bradespar é a responsável pela indicação do presidente, Roger Agnelli, que ocupa o cargo desde 2001.

Os outros acionistas são a japonesa Mitsui (18,24%), a BNDESpar (11,51%) e a Litel Participações (49%), um fundo de investimentos que reúne as fundações Previ (Banco do Brasil), Petros (Petrobras), Funcef (Caixa Econômica Federal) e Fundação Cesp.

Opositores acusam o governo, como fez Serra no debate, de aparelhamento político dos fundos de pensão. No escândalo do mensalão, por exemplo, um dos alvos das investigações foi Luiz Gushiken, então ministro da Secretaria de Comunicação, que seria sócio oculto de uma empresa de assessoria de fundos de pensão, a Globalprev.

No ano passado, em meio à crise econômica, os fundos de pensão voltaram ao centro da polêmica. Supostamente disposto a remover Agnelli do cargo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva teria pressionado os fundos a construir um cenário para a substituição do presidente, que fica até 2011.

Na ocasião, Lula ficou sabendo da demissão de dois mil trabalhadores da Vale pela imprensa. Se irritou ainda mais com a demissão de Demian Fiocca, ex-braço direito do ministro Guido Mantega, da diretoria da empresa. O Planalto também se incomodou com a presença de tucanos em cargos de comando.

Mas a soma da participação do BNDESpar com a Litel (62%) não é suficiente para garantir uma mudança. O Bradesco quer manter Agnelli.

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