terça-feira, 5 de outubro de 2010

Quem ganhou e quem perdeu mesmo?

DEU EM O GLOBO

Semblante dos candidatos não correspondeu à sua posição no primeiro turno

José Casado

As imagens são reveladoras. Ao triunfo de domingo nas urnas (46,9% dos votos válidos), a candidata Dilma Rousseff (PT) e seu vice, Michel Temer (PMDB), responderam com um misto de tensão e desencanto. A surpresa com o segundo turno refletiu-se em um discurso protocolar e quase burocrático de agradecimento pelos 47 milhões de votos recebidos na voz de uma candidata visivelmente cansada.

Lula, seu principal cabo eleitoral, recolheu-se ao silêncio. Ele completou ontem 24 horas longe das câmeras e 72 horas sem fazer um único discurso situação incomum para quem há 21 anos participa ativamente de campanhas presidenciais e, volúvel à sedução dos microfones, habituou-se falar em público pelo menos duas vezes por dia.

Em contraste, os derrotados José Serra (PSDB), com 32,6% dos votos, e Marina Silva (PV), com 19,3%, mostraram-se em estado de pura alegria desde o fim da apuração.

Por trás do choque de realidade a que Dilma, Temer e Lula foram submetidos na noite de domingo, estão quase os mesmos fatores que ajudam a entender o motivo do riso franco e permanente com que Serra e Marina atravessaram a segunda-feira.

Um deles é o limite imposto pelo eleitorado na transfusão de prestígio de Lula para Dilma, sob a forma de votos. Pela terceira vez, desde 2002, ele é obrigado a enfrentar um segundo turno.

Outro é que, nesta nova etapa, Dilma será obrigada a expor ideias de forma menos genérica e adotar uma postura conciliatória com valores e convicções de setores conservadores e religiosos em parte responsáveis pelo feito de Marina nas urnas (ela avançou mais no eleitorado com a pregação de valores e convicções pessoais do que com o projeto econômico ecológico do Partido Verde.) Em tese, Dilma precisaria apenas manter os votos que conquistou e adicionar 20% do eleitorado de Marina para chegar ao poder. Nessa conta, Serra dependeria de 85% dos votos dados ao PV.

O problema da matemática com a política é que ambas nunca combinam.

No domingo, isso ficou claro com as pesquisas eleitorais elas estão na raiz do desencanto da nação petista, que apresentou um triunfo com perfume de derrota.

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