sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Rumo ao segundo turno :: Roberto Freire

DEU NO BRASIL ECONÔMICO

Neste domingo, 3 de outubro, a sociedade brasileira comparecerá mais uma vez às urnas para escolher o próximo presidente da República, depois de uma campanha em que o atual presidente travestiu-se de garoto-propaganda e, ao arrepio da lei, buscou de todas as maneiras fazer Dilma Rousseff sua sucessora.

Escolhida à revelia de seu partido, de maneira a ressaltar seu personalismo, Lula impôs sua agenda e candidata ao país, e há quase dois anos vem fazendo campanha, buscando dois objetivos claros: o primeiro, midiático.

De palanque em palanque, o presidente inventou uma forma de governar "nunca antes vista na história deste país", baseado tão somente em inaugurações de obras, muitas das quais não passaram da "pedra fundamental".

Em segundo, tendo a tiracolo sua candidata, nominada "mãe do PAC" - um conjunto de intenções de obras, a maioria das quais desenhadas desde o período Fernando Henrique Cardoso -, torná-la conhecida das populações mais pobres, como a "gerente do governo", fundamentalmente junto aos beneficiários do Bolsa Família, nas regiões Norte e Nordeste, visando imantá-la com sua popularidade.

Isso depois de mobilizar todos os instrumentos disponíveis de manipulação de massas, por conta de uma estratégia de propaganda, tendo a Petrobras como carro-chefe, vendendo o sonho de uma riqueza ao alcance da mão, com a descoberta do pré-sal.

Aliada a uma ampla partidarização e instrumentalização da estrutura do Estado, tendo como consequência a subordinação das outras esferas do poder (Legislativo e Judiciário) e níveis de governo (estados e municípios) - sem falar da consolidação da cooptação de importantes movimentos sociais (sindicais, estudantis, de gênero etc.) - o governo, ao se ver envolvido por denúncias de corrupção na Casa Civil, envolvendo diretamente pessoas ligadas à sua candidata, passa a atacar abertamente a imprensa com uma virulência só vista antes no tempo da ditadura militar.

Todo o esforço do governo Lula tinha como estratégia central vencer as eleições presidenciais no primeiro turno, e fazer uma maioria folgada na Câmara e no Senado que permitisse ao PT mudar aspectos essenciais da atual constituição, o primeiro dos quais seu antigo e acalentado desejo de controlar a imprensa e a liberdade de expressão.

Agora, quando fica evidente a possibilidade do segundo turno para as eleições presidências, com a ampliação de parcelas das camadas médias urbanas dirigindo seu voto aos candidatos da oposição, é fundamental que possamos, finalmente, discutir os projetos de nação que cada candidatura defenderá junto à cidadania do país.

Que país teremos - e seremos - daqui a 20 anos? Que futuro aguarda nossa juventude, com a irrupção da "Sociedade do Conhecimento"? Como estará nossa indústria, ante a necessidade de operar com base em energia renovável e limpa?

E, mais importante, que democracia teremos se não realizarmos, nos próximos anos, as reformas estruturais do Estado brasileiro, tornando-o contemporâneo da sociedade do futuro? A necessidade do segundo turno se impõe, entre outras coisas, para que possamos saber que resposta nos dará o futuro presidente a tais questões.


Roberto Freire é presidente do PPS

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