terça-feira, 16 de novembro de 2010

Bancada de Kassab prepara mudança

DEU NO VALOR ECONÔMICO

A investida do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), pela incorporação de seu partido ao PMDB é escudada pela leal bancada que elegeu à Câmara dos Deputados. Presidente da legenda no Estado, Kassab conseguiu aumentar a bancada de cinco para seis deputados federais em um partido em retração nas últimas duas legislaturas.

Foi um feito inédito no partido. Na Bahia, ACM Neto foi reeleito ao lado de cinco nomes, mas essa bancada formou-se mais por rescaldo do antigo carlismo do que pela perspectiva de poder. No Rio, onde o DEM elegeu dois deputados federais, o presidente nacional da legenda, Rodrigo Maia, foi reeleito no Rio com menos da metade dos votos que recebeu em 2006 e seu pai, o ex-prefeito César Maia, perdeu a disputa pelo Senado.

Com votação bem distribuída pelo Estado, o que pode facilitar pretensões de seu mentor nas eleições estaduais de 2014, a bancada kassabista não se aferra a bandeiras que tornem irreconciliável sua adesão à base da presidente eleita, Dilma Rousseff. A rejeição à reedição da CPMF, por exemplo, não é maior do que é encontrada no PMDB.

Dois da bancada foram reeleitos. O primeiro deles é Guilherme Campos, empresário do ramo de varejo que foi vice-prefeito de Campinas entre 2005 e 2007 na primeira gestão de Hélio Santos (PDT), mais conhecido por "dr.Hélio".

Ex-presidente da Associação Comercial de Campinas, é porta-voz de interesses do pequeno e médio empresário. É autor, na Câmara dos Deputados, de projeto que permite o desconto em compras pagas em dinheiro se comparado ao pagamento em cartão de crédito. Também é de sua autoria outro projeto que obriga a especificação no cupom fiscal dos impostos pagos.

Grato a Kassab, Campos atribuiu ambas as sua eleições ao prefeito. É contra a instituição da jornada semanal de 40 horas, projeto de interesse dos sindicatos que tramita no Congresso. "Isso deve ser negociado entre os setores empresariais e os sindicatos, caso a caso", disse. O parlamentar é ainda contrário à volta da CPMF. "Continuarei contra, assim como votei quando a contribuição foi extinta."

Sobre a possibilidade do DEM se fundir com o PMDB, como defende Kassab, Campos diz que as conversas vão além. A solução para o DEM se reerguer pode ser uma fusão com o PP ou a formação de um bloco com outros partidos "A única certeza que tenho é que como está não fica. A distribuição partidária que vai tomar posse em fevereiro não será a mesma da bancada eleita em 3 de outubro", disse Campos, abertamente favorável a uma "alternativa à dicotomia PSDB-PT".

Outro reeleito é Jorge Tadeu Mudalen, que saiu do PMDB em 2002. No sexto mandato, foi secretário especial de Articulação Metropolitana na gestão Kassab de abril de 2009 a março. De Guarulhos (SP), cuidava de obras e projetos diversos com políticos dos municípios da Grande São Paulo. Próximo ao vice-presidente eleito, Michel Temer, avalia positivamente a eventual fusão com o PMDB, partido que elegeu apenas um deputado federal no Estado.

"O partido não pode ficar sangrando como está, não pode ficar enfraquecido para as eleições de 2012, o resultado pode ser pior", disse. O parlamentar vê necessidade de cautela. "É hora de baixar a poeira para ver qual caminho o partido vai tomar. Se houver fusão, acabou a oposição", argumentou.

No Congresso, Mudalen é favorável ao reajuste do salário mínimo para R$ 600, como propôs Paulo Bornhausen (DEM-SC) e contrário à CPMF. Defende ainda a aprovação da Emenda 29, que fixa percentuais mínimos das receitas estaduais, municipais e da União para a saúde. "Há recursos para cumprir a Emenda 29, a arrecadação aumentou", diz

Braço-direito de Kassab, Rodrigo Garcia estreia na Câmara Federal depois de três mandatos seguidos na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), que presidiu entre 2005 e 2007. Secretário especial de Desburocratização de Kassab de janeiro de 2008 a março deste ano, é favorável a uma nova oposição, detentora de uma "agenda de consenso" com o governo, o que abrangeria as reformas política, tributária e trabalhista. Com 226 mil votos, Garcia foi o mais votado do DEM em São Paulo e obteve a sétima maior votação para deputado federal, com base na zona leste paulistana.

Outro novato na Câmara é Eli Correa Filho. Egresso da Alesp, é radialista e faz participação diária no programa do pai, Eli Correa, na Rádio Capital, onde tem um programa sobre direitos do consumidor. A maior parte de seus votos veio de áreas populares de São Paulo, a periferia da zona sul e a Região Metropolitana. A favor do mínimo de R$ 600 e contra a volta da CPMF, Correa Filho diz que qualquer que seja o futuro do DEM, vai "cumprir com o papel de fiscalizar o governo Dilma". "Você tem que ser sua posição independentemente de ser oposição ou governo", afirmou.

Ex-prefeito de Mogi das Cruzes e empresário rural ligado às cooperativas agrícolas, Junji Abe representa a região do Alto Tietê e do Vale do Paraíba. Defensor de uma reforma política que reduza até cinco o número de partidos, diz que o sistema político eleitoral está "esgotado". Crítico da elevada carga tributária, organiza para sábado o lançamento do Movimento "CPMF Não" em conjunto com associações de classe, como Fiesp e Sinduscon.

Caçula da bancada, Alexandre Leite chega â Câmara aos 21 anos em sua primeira disputa eleitoral. Filho do vereador Milton Leite (DEM), herdou os votos do pai na zona sul de São Paulo. Também ganhou amplo apoio de empresas. Dos seis eleitos, recebeu o maior volume de recursos, R$ 2,9 milhões. Alexandre só aceitou ser entrevistado por e-mail. Disse que o salário mínimo deve ter "o maior valor possível, desde que não comprometam outros recursos de prioridade para o povo, como saúde e educação". Sobre a CPMF, afirmou ser contra mais impostos, mas que o tema "merece maiores debates".

Nenhum comentário:

Postar um comentário