quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Dificuldades extremas a superar até janeiro:: Rosângela Bittar

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Especialista em negociar divisões de poder e nomeações, além de exímio na arte de ficar com a melhor parte, o deputado Michel Temer, vice-presidente eleito, presidente do PMDB e presidente da Câmara, dono da voz do partido como integrante da equipe de transição de governo, está em campanha para ficar também, de forma cumulativa, com o Ministério da Defesa.

Essa informação tem saído da cúpula do partido, desde o fim de semana passado, para a imprensa e interlocutores da presidente eleita, Dilma Rousseff. Temer não a desautorizou. O PMDB não gosta muito da solução. Por sinal, o partido queria tirar o Ministério da Defesa de Nelson Jobim. Não para dar o posto a alguém, mas para retirá-lo da relação de seus representantes.

Segundo a argumentação dos amigos de Temer, ao revelar seus propósitos, a Vice-Presidência é tediosa e tem poucos instrumentos de ação política direta. Acham que ele desempenharia satisfeito o conjunto de atribuições de Ulysses Guimaraes e José Alencar somados. Ulysses foi presidente do PMDB, da Câmara e da Constituinte ao mesmo tempo, e Alencar foi, num período do governo Lula, vice-presidente e ministro da Defesa.

Foi um desastre, o vice de Lula não foi bem na Defesa e não conseguiu construir um projeto de Vice-Presidência para si. As forças militares não se adaptaram ao modelo de ter alguém indemissível a chefiá-los. O vice-presidente é politicamente muito demandado por deputados e senadores que não conseguem chegar ao presidente. Alencar passava rápido no Ministério da Defesa, assinava uns papéis e ia para a Vice-Presidência atender políticos. Os militares reclamavam, os ministérios que têm interfaces, como Ciência e Tecnologia e Relações Exteriores, queixavam-se da ausência do ministro da Defesa, e a insatisfação era generalizada.Embora discordando porque teme ver o Ministério da Defesa incluído na sua cota, o partido vocaliza o desejo de Temer. Coincidem essas manifestações do PMDB com a divulgação insistente, no Congresso e nas proximidades da equipe de transição, da iminente mudança de posto de Nelson Jobim. Estaria de saída da Defesa para o Itamaraty não apenas pelo lobby contra ele das empresas que se engalfinham pela licitação dos caças, um longevo litígio. Jobim seria cota do presidente Lula e não do partido, Jobim seria ligado aos adversários de Dilma e ficaria no posto mesmo se o PT perdesse a eleição, o governo não precisa mais dele como equilíbrio dos votos no Supremo Tribunal Federal porque já tem a maioria dos ministros que alí atuam, enfim, uma infinidade de razões para defenestrar o ministro e abrir a vaga para Temer.

É um serviço que os líderes prestam ao seu presidente. Mas o que o PMDB gostaria mesmo é trocar a Defesa por um ministério de maior densidade política para dar a um deputado ou senador com mandato. Jobim está na mesma situação de Henrique Meirelles, com quem o PMDB fez um acordo para ele desistir de brigar pela Vice-Presidência na chapa de Dilma. Prometeram incluí-lo em primeiro lugar na indicação para um ministério de grande visibilidade política para ser candidato a presidente, como gostaria. Agora, o partido o renega e sugere que não é seu representante, que o governo deve deportá-lo para ser embaixador do Brasil em Washington.

O partido quer os seus ministérios e os cargos em estatais para deputados e senadores. É a ditadura das bancadas.

Nem bem refeita do aprendizado intensivo da campanha eleitoral, a presidente eleita, Dilma Rousseff, terá, neste mês e meio que a separa da posse, a dificuldade extrema da montagem do seu esquema tático de governo com esta aliança de tantos partidos na qual se destacam, em matéria de criar problemas, dois deles. Além do PMDB, as demandas do PSB, que cresceu muito nas eleições e quer correspondente consideração da chefe do governo.

O partido presidido e liderado por Eduardo Campos, governador de Pernambuco, que elegeu cinco governadores e uma grande bancada, quer ampliar sua força no Executivo, hoje restrita ao Ministério da Ciência e Tecnologia. O ministro Sergio Rezende não quer ficar mais, é um cientista que deseja voltar às suas tarefas acadêmicas, e o partido pretende trocar esta área por outras de maior significado político. Tanto para o PMDB como para o PSB, os ministérios dos Transportes, com seus milhões do Dnit para tapar buracos, e das Cidades, com suas incríveis emendas para saneamento e habitação, seriam adequados aos novos projetos. Mas a coordenação política do governo não vê como tirar esses paraísos das mãos do PR e do PP, respectivamente.

Gabriel Chalita, eleito deputado, ensaia ser um problema para o PSB, já reivindica o Ministério da Educação. Mas, a rigor, isto ainda não se constituiu em problema real tal o absurdo do pleito para quem acabou de ingressar na legenda. Ciro Gomes, porém, é outra história. Acusa Lula de ter prejudicado sua carreira com a transferência de domicílio eleitoral para São Paulo. Não é liderado de Eduardo Campos nem seu líder, tem força suficiente para ser ou não ser ministro, se quiser. Inclusive para Dilma evitar que fique solto e descompromissado com o governo, que faça alianças e acordos com Aécio Neves, promova projetos independentes com os governadores Cid Gomes (CE) e Renato Casagrande (ES), enfim, use e abuse de seu poder de fogo verbal. Deve receber um apelo irrecusável.

Se for convidado, como parece que será, não dá para não imputar a escolha a uma das vagas do PSB, embora o comandante do partido, Eduardo Campos, assim não considere. Então teria que haver outra vaga para o presidente do partido realmente indicar alguém que o representante.

Nesses dois partidos que adquiriram força com a eleição de 2010 estão as maiores dificuldades da presidente eleita. O agravante é que estão divididos internamente.

Com o PT, até o momento, não surgiu dificuldade maior, fora a campanha do ex-deputado José Dirceu contra a nomeação de Antonio Palocci para um cargo na Presidência da República. Mas o partido não está livre disso, há tempo. Por enquanto contenta-se em ser o partido da presidente, ter a imensa maioria dos melhores cargos e a certeza de que todas as correntes serão contempladas. Como ocorreu no governo Lula.


Rosângela Bittar é chefe da Redação, em Brasília. Escreve às quartas-feiras

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