terça-feira, 30 de novembro de 2010

Exército pode ficar 7 meses no Alemão, até a nova UPP

DEU EM O GLOBO

Militares vão usar a experiência de Paz no Haiti para manter cerco e patrulhamento

Um dia após a ocupação do Complexo do Alemão, o governador Sérgio Cabral anunciou que já conseguiu do Ministério da Defesa a garantia de que o Exército poderá permanecer por sete meses no conjunto de favelas até que o Alemão e a Vila Cruzeiro ganhem Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). Enquanto cerca de sete mil PMs forem treinados, militares do Exército serão responsáveis pelas operações de cerco, buscas e patrulhamento das favelas. Os soldados que estão nas duas comunidades passaram pelo Haiti e têm experiência em ocupações. Denúncias de saques nas casas de moradores durante as operações policiais levaram à criação de uma ouvidoria em caráter emergencial. A polícia estima que o prejuízo total do tráfico no Complexo do Alemão foi de R$ 50 milhões - entre 42 toneladas de maconha, cerca de 300 quilos de cocaína, armas, dinheiro em espécie, veículos e imóveis.

Exército no Alemão por 7 meses

Cabral diz que Defesa aceitou que militares permaneçam até instalação de UPPs

Renata Leite

O governador Sergio Cabral anunciou ontem, um dia após a ocupação do Complexo do Alemão e da Vila Cruzeiro (que faz parte do Complexo da Penha), que no prazo de sete meses as duas comunidades ganharão Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). Até lá, enquanto cerca de sete mil PMs estiverem sendo treinados e formados para o projeto de pacificação, militares do Exército vão assumir as operações de cerco, buscas e patrulhamento na região. Segundo Cabral, a ajuda já está acertada com o Ministério da Defesa. De acordo com o governador, a integração entre as polícias Militar, Civil e Federal e o Exército vai permitir que o cronograma de instalação de UPPs planejado pelo governo do estado seja mantido, mesmo com a antecipação da ocupação do Alemão e da Vila Cruzeiro.

- As reconquistas do território, tanto da Vila Cruzeiro quanto do Complexo do Alemão, já foram efetivadas. Agora são os próximos passos. Nós não vamos dormir nos louros da conquista de ontem. Nós acordamos desde cedo com os desafios de hoje e dos próximos dias, semanas e meses, que é a reconquista efetiva dos territórios ainda ocupados pelo poder paralelo - disse Cabral ontem no Fórum Rio Cidade Sede, que debateu a infraestrutura urbana para os Jogos de 2016.

Os oficiais do Exército auxiliam as forças policiais não só no policiamento ostensivo das comunidades recém-ocupadas, como também revistando pessoas e vasculhando residências. Além do trabalho dos serviços de inteligência, Cabral agradeceu à ajuda da população, que vem colaborando significativamente com informações sobre o paradeiro de armas, drogas e bandidos escondidos dentro e fora dessas comunidades.

- Estamos na fase das tratativas técnicas, que não passam por mim, mas pelo secretário Mariano (José Mariano Beltrame, de Segurança) e pelos oficiais militares do Ministério. Isso está sendo feito desde domingo, para que se dê a garantia dessa transição no modelo UPP - acrescentou Cabral. - Tenho certeza de que as forças federais aceitarão a nossa solicitação de apoio, de suporte, porque conquistamos credibilidade.

O vice-governador Luiz Fernando Pezão acrescentou que há planos para ampliar as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) no Alemão. Deve haver novos investimentos em moradias, urbanização e saneamento do complexo.

- Já enviamos projetos (para aprovação) para a Vila Cruzeiro e para o Complexo do Alemão.

Favelas e militares: combinação de risco

Embora não seja a primeira vez que os militares deem apoio a uma ação de segurança na cidade, a experiência mostra que a participação dos soldados têm tido mais sucesso fora das favelas. Nas operações em que ficaram responsáveis pelo patrulhamento das principais vias, como na Rio-92 e durante a Cimeira dos chefes de estado em 1999, a cidade teve uma melhora na sensação de segurança. O mesmo não se repetiu quando o Exército entrou em favelas. Em 2008, três jovens moradores do Morro da Providência foram presos pelos militares e depois entregues a traficantes do Morro da Mineira, controlado por uma facção rival. Os três foram mortos pelos bandidos. Em março de 2006, a Providência também foi ocupada pelo Exército. Eles estavam em busca de dez fuzis e uma pistola roubados de uma unidade. Na missão, houve confronto com traficantes e um jovem de 16 anos foi morto. Em 2003, após uma onda de violência na cidade, os Exército foi chamado para participar de operações com objetivo de redução da criminalidade. Na operação, um professor de inglês foi morto ao passar por uma barreira militar. Na Operação Rio 1, em 1994, soldados foram acusados de torturar moradores no Morro do Borel.

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