DEU EM O GLOBO
Para especialistas, rede precisa de mais 510 leitos para acabar com déficit
Um relatório obtido pelo Globo mostra que, nos últimos três meses, 776 pacientes morreram à espera de um leito de CTI no Estado do Rio, o que dá 258 por mês ou 8,6 por dia. A média é de 32,3% maior que a dos últimos dois anos, evidenciando uma piora da crise da rede pública de saúde, informa Daniel Brunet. O estudo foi feito pela Central de Regulação de Leitos, órgão que administra as vagas nos hospitais. "Damos vaga aos que estão em estado mais crítico, mais ainda não é possível atender a todos", diz superintendente da central, Carlos Alberto Chaves. Segundo especialistas e representantes do governo, o déficit na rede é de 510 leitos. Setembro registrou um recorde: no dia 30, havia 200 doentes aguardando transferência para um CTI. O estudo mostra ainda que, nos últimos três meses, 428 pacientes - ou 11% dos 3.893 que esperavam uma vaga - ficaram mais de cinco dias na fila.
CTI público: o corredor da morte
Média de óbitos do último trimestre chega a 8,6 por dia e é 32,3% maior que a dos últimos 2 anos
Daniel Brunet
Quando a costureira Naíde Souza de Farias, de 76 anos, voltou a passar mal, no dia 7 de junho, ela procurou a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Engenho Novo, onde tinha sido liberada após receber atendimento dias antes. Diagnosticado um infarto, ela foi internada e, no dia seguinte, sofreu uma parada cardíaca, entrando na fila de espera por vaga no CTI. Foi o início de uma via-crúcis, que terminou com a morte da costureira. Dramas parecidos têm sido cada vez mais comuns: nos últimos três meses, 776 pessoas perderam a vida na fila de espera dos Centros de Tratamento Intensivo (CTIs) no estado. A média de óbitos do último trimestre - 258 por mês ou 8,6 por dia - é 32,3% maior que a dos últimos dois anos e mostra o aumento da crise na rede pública de saúde no Rio, que será mostrada por um série de reportagens do GLOBO a partir de hoje.
Os dados são parte de um levantamento inédito da Central de Regulação de Leitos do Estado, que foi enviado aos ministérios públicos federal e estadual e ao qual O GLOBO teve acesso. Para dar fim à fila, é preciso acabar com o déficit de vagas, estimado em 510 leitos por médicos, especialistas e representantes do governo ouvidos pelo GLOBO. A maior necessidade é de vagas para adultos.
Por causa dessa carência, a cada dez pacientes que precisam de tratamento intensivo, seis vão imediatamente para a fila de espera, segundo o estudo da Central de Regulação do Estado. Dos 26.980 pedidos de internação em CTI feitos ao órgão entre 4 de novembro de 2008 e 15 de outubro de 2010, apenas 9.603 - ou 36% - foram atendidos. Nesse aspecto, todos os dias, as três esferas do poder público no Rio infringem o artigo 196 da Constituição federal, que define o acesso à saúde como direito de todos e dever do Estado.
A portaria 1.559/08 do Ministério da Saúde define que a Central de Regulação de Leitos, sob a gerência da Secretaria estadual de Saúde e Defesa Civil (Sesdec), deve intermediar as internações nos hospitais estaduais e municipais. Por entender que uma central única de regulação é a forma mais eficiente para gerir os pedidos de internação, o Ministério da Saúde já deu ao estado o controle de 64 dos 164 leitos da rede federal. O restante e as 699 vagas em hospitais municipais no estado - informadas no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES) - continuam geridas pelos respectivos gestores.
Estado alega não controlar todas as vagas
Sem ter o controle sobre todas as vagas do sistema público no Rio, o governo do estado alega ter dificuldades para administrar os cerca de 38 pedidos de internação por dia.
- Bom seria se todas as vagas estivessem sob a nossa gerência. Estamos conversando, mas temos que respeitar a autonomia do municípios. Eles não cedem vaga para a regulação, mas pedem os leitos do Estado. E isso sobrecarrega a nossa rede - comenta a chefe de assessoria parlamentar da secretaria, Fabiane Gil.
Enquanto as esferas do poder discutem a eficiência de uma central única de regulação, a população segue sofrendo com a falta de leitos. Segundo dados da central, nos últimos dois anos morreram 4.680 pessoas que pediram internação em CTI: 17,3% do total de solicitações.
- Esse número é a nossa grande infelicidade. Trabalhamos com a meta de zerar a fila. Às vezes a imprensa mostra as pessoas nos corredores e em macas, nos hospitais cheios. Mas prefiro ver o paciente sendo atendido do que totalmente desassistido - argumenta a coordenadora de Unidades de Cuidados Intensivos (UCIs) da Secretaria estadual de Saúde, a médica intensivista e professora da UFRJ Rosane Goldwasser.
Segundo a Sociedade Internacional de Medicina Intensiva (Simi), a taxa esperada de óbitos nos CTIs gira em torno de 15% a 20% do total de internações. Mas, entre agosto e outubro deste ano, somente na fila morreram 776 das 3.893 pessoas que tinham solicitado um leito. O número de óbitos representa 20% do total de pacientes que precisavam de tratamento intensivo. Para essas famílias, o último fio de esperança acabou muito longe de um leito público ou das mãos de um médico.
Para atender melhor a população, o governo ampliou leitos de CTI - em 2007, eram 269; hoje são 607 -, tem modernizado equipamentos e capacitado seus profissionais:
- Hoje temos uma população mais envelhecida, que recorre mais aos CTIs. Temos feito investimentos, mas ainda é preciso melhorar - observa Rosane.
Para especialistas, rede precisa de mais 510 leitos para acabar com déficit
Um relatório obtido pelo Globo mostra que, nos últimos três meses, 776 pacientes morreram à espera de um leito de CTI no Estado do Rio, o que dá 258 por mês ou 8,6 por dia. A média é de 32,3% maior que a dos últimos dois anos, evidenciando uma piora da crise da rede pública de saúde, informa Daniel Brunet. O estudo foi feito pela Central de Regulação de Leitos, órgão que administra as vagas nos hospitais. "Damos vaga aos que estão em estado mais crítico, mais ainda não é possível atender a todos", diz superintendente da central, Carlos Alberto Chaves. Segundo especialistas e representantes do governo, o déficit na rede é de 510 leitos. Setembro registrou um recorde: no dia 30, havia 200 doentes aguardando transferência para um CTI. O estudo mostra ainda que, nos últimos três meses, 428 pacientes - ou 11% dos 3.893 que esperavam uma vaga - ficaram mais de cinco dias na fila.
CTI público: o corredor da morte
Média de óbitos do último trimestre chega a 8,6 por dia e é 32,3% maior que a dos últimos 2 anos
Daniel Brunet
Quando a costureira Naíde Souza de Farias, de 76 anos, voltou a passar mal, no dia 7 de junho, ela procurou a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Engenho Novo, onde tinha sido liberada após receber atendimento dias antes. Diagnosticado um infarto, ela foi internada e, no dia seguinte, sofreu uma parada cardíaca, entrando na fila de espera por vaga no CTI. Foi o início de uma via-crúcis, que terminou com a morte da costureira. Dramas parecidos têm sido cada vez mais comuns: nos últimos três meses, 776 pessoas perderam a vida na fila de espera dos Centros de Tratamento Intensivo (CTIs) no estado. A média de óbitos do último trimestre - 258 por mês ou 8,6 por dia - é 32,3% maior que a dos últimos dois anos e mostra o aumento da crise na rede pública de saúde no Rio, que será mostrada por um série de reportagens do GLOBO a partir de hoje.
Os dados são parte de um levantamento inédito da Central de Regulação de Leitos do Estado, que foi enviado aos ministérios públicos federal e estadual e ao qual O GLOBO teve acesso. Para dar fim à fila, é preciso acabar com o déficit de vagas, estimado em 510 leitos por médicos, especialistas e representantes do governo ouvidos pelo GLOBO. A maior necessidade é de vagas para adultos.
Por causa dessa carência, a cada dez pacientes que precisam de tratamento intensivo, seis vão imediatamente para a fila de espera, segundo o estudo da Central de Regulação do Estado. Dos 26.980 pedidos de internação em CTI feitos ao órgão entre 4 de novembro de 2008 e 15 de outubro de 2010, apenas 9.603 - ou 36% - foram atendidos. Nesse aspecto, todos os dias, as três esferas do poder público no Rio infringem o artigo 196 da Constituição federal, que define o acesso à saúde como direito de todos e dever do Estado.
A portaria 1.559/08 do Ministério da Saúde define que a Central de Regulação de Leitos, sob a gerência da Secretaria estadual de Saúde e Defesa Civil (Sesdec), deve intermediar as internações nos hospitais estaduais e municipais. Por entender que uma central única de regulação é a forma mais eficiente para gerir os pedidos de internação, o Ministério da Saúde já deu ao estado o controle de 64 dos 164 leitos da rede federal. O restante e as 699 vagas em hospitais municipais no estado - informadas no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES) - continuam geridas pelos respectivos gestores.
Estado alega não controlar todas as vagas
Sem ter o controle sobre todas as vagas do sistema público no Rio, o governo do estado alega ter dificuldades para administrar os cerca de 38 pedidos de internação por dia.
- Bom seria se todas as vagas estivessem sob a nossa gerência. Estamos conversando, mas temos que respeitar a autonomia do municípios. Eles não cedem vaga para a regulação, mas pedem os leitos do Estado. E isso sobrecarrega a nossa rede - comenta a chefe de assessoria parlamentar da secretaria, Fabiane Gil.
Enquanto as esferas do poder discutem a eficiência de uma central única de regulação, a população segue sofrendo com a falta de leitos. Segundo dados da central, nos últimos dois anos morreram 4.680 pessoas que pediram internação em CTI: 17,3% do total de solicitações.
- Esse número é a nossa grande infelicidade. Trabalhamos com a meta de zerar a fila. Às vezes a imprensa mostra as pessoas nos corredores e em macas, nos hospitais cheios. Mas prefiro ver o paciente sendo atendido do que totalmente desassistido - argumenta a coordenadora de Unidades de Cuidados Intensivos (UCIs) da Secretaria estadual de Saúde, a médica intensivista e professora da UFRJ Rosane Goldwasser.
Segundo a Sociedade Internacional de Medicina Intensiva (Simi), a taxa esperada de óbitos nos CTIs gira em torno de 15% a 20% do total de internações. Mas, entre agosto e outubro deste ano, somente na fila morreram 776 das 3.893 pessoas que tinham solicitado um leito. O número de óbitos representa 20% do total de pacientes que precisavam de tratamento intensivo. Para essas famílias, o último fio de esperança acabou muito longe de um leito público ou das mãos de um médico.
Para atender melhor a população, o governo ampliou leitos de CTI - em 2007, eram 269; hoje são 607 -, tem modernizado equipamentos e capacitado seus profissionais:
- Hoje temos uma população mais envelhecida, que recorre mais aos CTIs. Temos feito investimentos, mas ainda é preciso melhorar - observa Rosane.
E uma vergonha ... E um descaso total principalmente com o idoso... Essas porcarias chamadas de UPAS é mais uma forma de enganar o povo... Deviam ser todas fechadas... La eles contratam medicos sem experiencias que usam nossos parentes como cobaias...E ainda contam como auxilio dos bombeiros que nada fazem alem de debochar e naltratar a população .. Eu mesma sofri na pele isso... Quando minha Mamãe precisou...ela infelizmente acabou falecendo devido a falta de atendimento...foram só 4 horas aguardando uma vaga porque na UPA nao havia um respirador...
ResponderExcluirmeu sentimento é de revolta!!!