sábado, 27 de novembro de 2010

FHC critica expurgo de índice de inflação

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

"Aí, fica a suspeita de que há manipulação", diz ex-presidente; Mantega reage e diz que governo FHC errou ao indexar contratos ao IGP-M

Adriana Fernandes / BRASÍLIA e Gustavo Uribe / SÃO PAULO

A proposta do governo de criação de um novo índice de inflação, que exclua preços que oscilam muito, como alimentos e combustíveis, provocou trocas de acusações entre o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o ministro da Fazenda, Guido Mantega.

Em entrevista em São Paulo, o ex-presidente criticou a proposta em estudo ao afirmar que modificação cria a suspeita de que o indicador de inflação não a mede, de fato. "Eu acho que aí começa a complicar as coisas", disse. "Aí, fica a suspeita de que o índice de inflação não mede inflação, que há manipulação, que o governo vai interferir. Isso eu não acho positivo."

Ao ver as declarações de FHC na Broadcast, agência de notícias em tempo real do Grupo Estado, o ministro não gostou do que leu e reagiu rebatendo o ex-presidente: "Ele não entendeu o que falei. Não estamos propondo um novo índice oficial de inflação do País", disse Mantega, por meio de sua assessoria de imprensa.

O índice de preços oficial do governo, que baliza o sistema de metas de inflação, é o IPCA. Pela proposta em discussão, antecipada esta semana pelo ministro, o governo poderá criar um índice adicional ao IPCA, expurgando variações de preços de alimentos e combustíveis, para ser utilizado como indexador dos contratos hoje atrelados ao IGP-M.

Meta de inflação. O novo índice coloca em discussão uma mudança na meta de inflação, fixada em 4,5% para 2011 e 2012. Se, no futuro, o governo resolver definir a meta com base no novo índice, isso pode significar menor carga de juros para conter a inflação.

Ao criticar Mantega, Fernando Henrique argumentou que, quanto mais simples é um indicador, melhor para a economia. Mas em nenhum momento, o ex-presidente chegou a comentar que o governo iria acabar com o IPCA, como sugeriu Mantega nas críticas. O ministro, por sua vez, também em nenhum momento, ao falar da proposta, disse que iria acabar com o IPCA.

A ideia em estudo na equipe econômica, segundo a assessoria do ministro, é que os contratos corrigidos pelo IGP-M sejam substituídos gradualmente por um novo índice - que não sofra tanta influência de fatores externos, como os preços de commodities, choques externos e variações climáticas que afetem o preço dos alimentos.

Para Mantega, há fatores que afetam os índices de inflação que não estão "ligados à economia brasileira". De acordo com o ministro, o IPCA continuará como o índice oficial do País. A discussão não tem o objetivo de mudar a correção dos contratos existentes, assegurou o ministro.

Na troca de acusações com FHC, o ministro destacou que foi no governo do ex-presidente que o IGP-M foi usado como índice de correção dos contratos, como de energia elétrica. Para Mantega, essa decisão foi um equívoco porque o uso do IGP-M traz a "inflação de commodities internacionais" para dentro do País. "Quando assumimos a indexação foi mudada nos novos contratos", disse Mantega. Ele lembrou ainda que, depois da privatização, o governo FHC adotou o IGP-M para corrigir os contratos de concessão de serviços públicos.

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