A oposição no Brasil tem de aprender a fazer oposição. PSDB, DEM e PPS são partidos que não honraram a sua condição oposicionista ao longo dos oito anos do governo Lula. A prova mais contundente foi a desastrada estratégia de “deixar sangrar” o governo, em 2005, por conta do mensalão, esperando vencê-lo facilmente nas eleições de 2006. Pois é, diante daquela série evidente de fatos contrários ao bom ordenamento da nossa República, a oposição deveria ter insistido, veementemente, pelo impeachment de Lula. Collor e PC Farias eram meninos de calça curta em comparação com o que aconteceu no Brasil naquele período.
Neste sentido, o PT tem sorte de ter contra si uma oposição envergonhada, até mesmo desajustada. O PT tem sorte de não tê-lo como oposição. Digo em termos de força, de discurso, de contundência de discurso. É justamente este papel oposicionista que foi desempenhado magistralmente pelo PT, ao longo de toda a sua história até 2003, e que a oposição de hoje deve desempenhar.
Mas existem os pruridos. Tucanos, democratas e ex-comunistas do PPS não se cansam de afirmar que fazem oposição, mas “responsavelmente”, pelo “bem do Brasil”. Pela falta de força com que exercem o seu papel dá até para acreditar nisso. Não vão chegar a lugar nenhum deste jeito. O PT chegou aonde chegou justamente por sua oposição irresponsável. Dou alguns notórios exemplos de tal irresponsabilidade: o PT foi contra a candidatura de Tancredo Neves em 1985; o PT não assinou a Constituição Federal de 1988; o PT foi contra o Plano Real em 1993/4, só para ficar mesmo nos exemplos das irresponsabilidades mais evidentes.
A oposição tem de aprender com o PT que fazer oposição é, portanto, um exercício de pura irresponsabilidade. Mas não somente isso e aqui é que reside o essencial. Não basta a oposição ter um discurso contrário ao do governo: ela precisa ter também um discurso alternativo. Ela precisa ter a sua própria visão de mundo. Neste sentido, o PT também tem muito a ensinar. Ele tinha uma visão de mundo facilmente identificável. Seu discurso era “popular”, socialista em alguns aspectos, ligado os movimentos sociais, anti-sistema, contra as elites etc. Chegou a todos os governos com esta retórica.
Fez ainda mais. O PT “vampirizou” o discurso do governo Fernando Henrique Cardoso. O que isto significa? Significa que o governo Lula usou e abusou do aprendizado e das conquistas do governo que o antecedeu, trocou rótulos de avanços alheios e atribuiu a si como suas conquistas. Fez os brasileiros esquecerem as vitórias do governo tucano e hegemonizou discursivamente o que deveria ser visto como a “herança maldita de FHC”. O PT, magistralmente, reescreveu a história do Brasil de Fernando Henrique a partir da sua própria pena. O PT conseguiu ser governo e oposição ao mesmo tempo durante todo o governo Lula. Fantástico.
O PT deixou a oposição sem discurso. Por quê? Porque ele tomou para si aquilo que era a marca do PSDB, ou seja, o seu modelo econômico. Descaradamente, o governo atual fez com que os brasileiros entendessem que o “modelo econômico” de Lula era melhor do que o de FHC. Diferenças entre modelos econômicos que, de fato, nunca existiram, foram fabricadas. Desde FHC, vivemos tão-somente sob a égide de um único modelo econômico. No entanto, numa cuidadosa manobra político-discursiva, o PT tomou para si a marca da oposição e, com isso, assassinou o seu discurso.
O PT sabe o que faz. Faz política dentro da lógica política. Certamente os petistas são os melhores leitores de Maquiavel. Tenho inclusive dúvidas se o filósofo florentino teria pensado em algo mais genial. E se Nicolau fosse nosso contemporâneo, junto aos exemplos de Alexandre, de Cesar Bórgia, de Agátocles e de tantos outros, Lula e o PT seriam também imprescindíveis fontes de inspiração para os seus ensinamentos políticos.
Daniel de Mendonça, professor do Instituto de Sociologia e Política Universidade Federal de Pelotas/RS.
Twitter do autor: @ddmendonca
Blog: http://politicacomovocacao.blogspot.com/
Neste sentido, o PT tem sorte de ter contra si uma oposição envergonhada, até mesmo desajustada. O PT tem sorte de não tê-lo como oposição. Digo em termos de força, de discurso, de contundência de discurso. É justamente este papel oposicionista que foi desempenhado magistralmente pelo PT, ao longo de toda a sua história até 2003, e que a oposição de hoje deve desempenhar.
Mas existem os pruridos. Tucanos, democratas e ex-comunistas do PPS não se cansam de afirmar que fazem oposição, mas “responsavelmente”, pelo “bem do Brasil”. Pela falta de força com que exercem o seu papel dá até para acreditar nisso. Não vão chegar a lugar nenhum deste jeito. O PT chegou aonde chegou justamente por sua oposição irresponsável. Dou alguns notórios exemplos de tal irresponsabilidade: o PT foi contra a candidatura de Tancredo Neves em 1985; o PT não assinou a Constituição Federal de 1988; o PT foi contra o Plano Real em 1993/4, só para ficar mesmo nos exemplos das irresponsabilidades mais evidentes.
A oposição tem de aprender com o PT que fazer oposição é, portanto, um exercício de pura irresponsabilidade. Mas não somente isso e aqui é que reside o essencial. Não basta a oposição ter um discurso contrário ao do governo: ela precisa ter também um discurso alternativo. Ela precisa ter a sua própria visão de mundo. Neste sentido, o PT também tem muito a ensinar. Ele tinha uma visão de mundo facilmente identificável. Seu discurso era “popular”, socialista em alguns aspectos, ligado os movimentos sociais, anti-sistema, contra as elites etc. Chegou a todos os governos com esta retórica.
Fez ainda mais. O PT “vampirizou” o discurso do governo Fernando Henrique Cardoso. O que isto significa? Significa que o governo Lula usou e abusou do aprendizado e das conquistas do governo que o antecedeu, trocou rótulos de avanços alheios e atribuiu a si como suas conquistas. Fez os brasileiros esquecerem as vitórias do governo tucano e hegemonizou discursivamente o que deveria ser visto como a “herança maldita de FHC”. O PT, magistralmente, reescreveu a história do Brasil de Fernando Henrique a partir da sua própria pena. O PT conseguiu ser governo e oposição ao mesmo tempo durante todo o governo Lula. Fantástico.
O PT deixou a oposição sem discurso. Por quê? Porque ele tomou para si aquilo que era a marca do PSDB, ou seja, o seu modelo econômico. Descaradamente, o governo atual fez com que os brasileiros entendessem que o “modelo econômico” de Lula era melhor do que o de FHC. Diferenças entre modelos econômicos que, de fato, nunca existiram, foram fabricadas. Desde FHC, vivemos tão-somente sob a égide de um único modelo econômico. No entanto, numa cuidadosa manobra político-discursiva, o PT tomou para si a marca da oposição e, com isso, assassinou o seu discurso.
O PT sabe o que faz. Faz política dentro da lógica política. Certamente os petistas são os melhores leitores de Maquiavel. Tenho inclusive dúvidas se o filósofo florentino teria pensado em algo mais genial. E se Nicolau fosse nosso contemporâneo, junto aos exemplos de Alexandre, de Cesar Bórgia, de Agátocles e de tantos outros, Lula e o PT seriam também imprescindíveis fontes de inspiração para os seus ensinamentos políticos.
Daniel de Mendonça, professor do Instituto de Sociologia e Política Universidade Federal de Pelotas/RS.
Twitter do autor: @ddmendonca
Blog: http://politicacomovocacao.blogspot.com/
No Brasil apenas o Lula sabe fazer política. Além de toda essa genial oposição, que toma as conquistas e vitórias do partido adversário como sendo suas, e faz com que o povo acredite nisso, o governo Lula soube lidar com as oposições, tanto partidárias quanto nas que se referem aos movimentos sociais, trazendo-os para dentro do Estado, estando subjugada a todo seu aparato burocrático, limitanto sua voz e seus espaços. Volto a afirmar. Lula é o único que faz política no Brasil.
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