sábado, 6 de novembro de 2010

Pós-eleições:: Arnaldo Jardim

DEU NO PORTAL DO PPS

Momento eleitoral é a consagração da democracia, quando a cidadania escolhe o futuro, determina caminhos, estabelece prioridades e escolhe os governantes! Todavia, é frustrante a constatação de que os temas de interesse nacional, que deveriam fazer parte deste debate substantivo para construção de um projeto nacional de desenvolvimento, foram relegados a um segundo plano nesta eleição.

A vitoriosa candidatura governista foi construída a partir de uma conjuntura internacional extremamente favorável para a nossa economia (período pré-crise global), medidas para aumentar o consumo e o crédito internos, reduções pontuais de impostos sobre alimentos e bens de consumo, além de um bem sucedido programa de transferência de renda.

Com maior poder de compra, empregos formais em alta, a maioria dos eleitores votou pela continuidade, tendo ainda o Presidente como “maior cabo eleitoral”, buscando sempre uma campanha com tom plebiscitário, na qual o olhar para trás acabou por inibir as discussões do futuro!

Por outro lado, faltou à oposição esclarecer que o bom momento atual não é fruto de milagre nem magia, mas o resultado de processos que têm uma história, iniciada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, há 16 anos, com o Plano Real, a Lei de Responsabilidade Fiscal, etc.. Além de cobrar que estes fundamentos bem sucedidos fossem mantidos e aprimorados.

Apesar de contarmos com um candidato reconhecidamente com mais experiência administrativa, caímos na “armadilha plebicitária” governista, em provocações e deixamos que temas religiosos e de colunas policiais tomassem conta do período eleitoral e assim não apresentamos nossa pauta, fomos simplesmente reativos!

Todavia, é importante destacar que a oposição eleitoralmente reagiu, sai da eleição sem a Presidência, mas governando dez Estados, que reúnem mais de 50% da população brasileira.

Na Câmara dos Deputados o bloco governista contará, a princípio com 372 dos 513 deputados, enquanto no Senado, terá 58 senadores e 22 da oposição. Mesmo definidos como “governistas”, sabemos que a formação de uma base aliada não se dará por decreto e dependerá muito de como o novo governo enfrentará os desafios que virão e a oposição deverá ter sabedoria para lidar com as contradições deste bloco, estabelecer avanços, “fazer política”.

Por isso, mais do que chorar uma derrota, acredito que o momento deve servir para os partidos de oposição demonstrem os compromissos assumidos com o Brasil, restabeleçam seus vínculos sociais, reafirmem seu perfil e apresentem claramente suas bandeiras. Propus isto ao PPS e aos demais partidos da oposição.

Afinal, pairam muitas dúvidas sobre como a nova presidente vai enfrentar o desaquecimento da economia global pós-crise, o aumento recorde dos gastos públicos, a inflação que superou as metas do Banco Central, a valorização excessiva do real que ameaça as exportações, indústrias e empregos. Isso só para ficar na área econômica, sem mencionar outros gargalos históricos.

Cabe-nos fiscalizar o novo governo, denunciar o mau uso do erário público, punir os seus responsáveis, além de termos sabedoria em lidar com as contradições do poder para estarmos abertos a alianças momentâneas em torno de projetos de interesse da nação.

Mais do que isto, definir nosso espaço ideológico e não tenho dúvidas de que uma real e clara opção de ´política social democrata necessita ser apresentada à sociedade. Para isto devemos contribuir!

Particularmente, o Congresso Nacional tem uma grande dívida com a sociedade, principalmente em virtude das reformas estruturais e estruturantes que foram deixadas de lado pelo Governo Lula, tais como: as reformas Política, Previdenciária, Tributária e do próprio Estado.

Também precisamos ser propositivos no sentido de oferecer uma porta de saída para a população que sobrevive dos programas assistencialistas federais, assim como, reafirmamos a defesa do meio ambiente, a qualidade dos serviços públicos oferecidos à população, a política de defesa/segurança e o tipo de liderança que o Brasil deve desempenhar no mundo.

Portanto, a próxima presidente terá sérios desafios econômicos de curto prazo, para conduzir políticas que contribuam para a sustentabilidade do atual ciclo de crescimento, e outros desafios sociais, como educação, saúde e segurança pública, de médio e longo prazos, que exigirão da candidata eleita uma visão mais de estadista do que de chefe político ou de uma facção partidária.
Arnaldo Jardim é deputado federal (PPS/SP)

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