De um lado, os dirigentes do DEM, acima das divergências existentes entre as duas principais correntes, sinalizam o propósito de recuperar o espaço de centro-direita do antigo PFL, em torno de uma proposta de candidatura presidencial própria em 2014 e até lá de firme postura oposicionista diante do governo Dilma Rousseff, bem como em resposta a nova e maior queda das representações na Câmara e no Senado no recente pleito nacional (atribuída, também, à perda de identidade com a repetição de apoio a peesedebistas). De outro lado, a única figura do partido com desempenho de função política importante no Sudeste – o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab – anuncia que até o início de 2011 deve trocá-lo pelo PMDB, levando à prática entendimentos que mantém com o vice-presidente eleito e líder governista Michel Temer. Que já está desdobrando na preparação de um bloco de partidos de esquerda (da base lulista-dilmista no Congresso, entre os quais o PC do B), na perspectiva de ter apoio deles, como candidato do PMDB a governador em 2014, por uma terceira via antirreeleição de Geraldo Alckmin e distinta da alternativa do PT. O que, obviamente, poderá inviabilizar-se já em 2012 com o insucesso de um candidato que indique para sua sucessão como prefeito. Mas que, antes disso e até lá, aponta para um entrosamento político e administrativo da prefeitura paulistana com o Palácio do Planalto.
O Valor, de anteontem, no editorial “Um prefeito em busca de um partido”, avalia as razões e os objetivos do complicado projeto pessoal de Kassab. A matéria começa assinalando que a derrota da candidatura presidencial de José Serra “desarrumou o quadro político mais do que já estava”, sobretudo o que ele montara em São Paulo para eleger (ou reeleger) Kassab, do DEM, em aliança com o PMDB estadual de Orestes Quércia, “passando por cima dos interesses dos tucanos paulistas”. Agora, sem mandato Serra perdeu o poder de mediar as relações entre o prefeito e o governador Alckmin. Mais à frente: “Para Kassab, seria confortável se o seu partido rumasse para uma solução coletiva de se incorporar ao PMDB”, o que os dirigentes do DEM, por consenso, já rejeitaram. “Resta a ele uma solitária decisão de mudar de partido. Como sua vice, Alda Marco Antônio, é do PMDB, dificilmente o DEM pediria seu mandato de volta. Seria tirar o mandato do recém-peedemebista Kassab para entregá-lo à também peemedebista Alda. Os parlamentares que ele conseguiu eleger pelo DEM (seis federais e oito estaduais) correm o risco de perda de mandato, caso resolvam acompanhá-lo”. Conclusão do editorial – “O PMDB paulista elegeu apenas um deputado federal. O prefeito tem conversado com Michel Temer e tem o seu apoio para embarcar no partido, que hoje divide o poder nacional com o PT. Kassab se prepara para uma nova disputa com Alckmin daqui a quatro anos, e sem contar com uma divisão do PSDB que parece se reunir naturalmente em torno de Alckmin no estado. O destino do prefeito está traçado – é o PMDB. Só não se sabe se levará junto à bancada que elegeu este ano”.
Reportagem do Estado de S. Paulo, também de ontem – “Com PDT, PC do B e PSB, Kassab tenta criar a 3ª via” – cobriu um encontro que o prefeito teve na segunda-feira com os deputados Aldo Rebelo, do PC do B, Márcio França, do PSB, e Paulo Pereira da Silva, do PDT. Trechos: “Ele deve reformular o governo a partir de janeiro para acomodar os novos aliados. O argumento para a transformação política do prefeito bem-vindo no chamado bloquinho, é acabar com a polarização entre PT e PSDB e abrir caminho para um movimento de ‘centro-esquerda’, a partir de sua chegada ao PMDB. Na avaliação de dirigentes das siglas, o movimento garante força política suficiente para retirar dos tucanos o domínio do governo de São Paulo, que completará 20 anos ao fim da gestão de Geraldo Alckmin (PSDB)”.
Jarbas de Holanda é jornalista
Política e cultura, segundo uma opção democrática, constitucionalista, reformista, plural.
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