sexta-feira, 12 de novembro de 2010

'Sanguessuga' deixa equipe de transição

DEU EM O GLOBO

Ré em duas ações da máfia dos sanguessugas, a advogada Christiane Araújo de Oliveira pediu demissão ontem da equipe de transição de Dilma Rousseff. Ela deixa o cargo sem que seja esclarecido quem a indicou.

Ré no caso dos sanguessugas nomeada para transição de Dilma pede demissão

Checagem da Abin não havia apontado problemas na ficha de Christiane de Oliveira

BRASÍLIA e MACEIÓ. Após ter seu envolvimento na máfia dos sanguessugas divulgado pela imprensa, a advogada Christiane Araújo de Oliveira pediu demissão ontem do governo de transição da presidente eleita, Dilma Rousseff. Ela deixou o cargo um dia depois de nomeada, sem que fossem esclarecidas as razões de sua contratação nem o responsável por sua escolha. A advogada é ré em duas ações de improbidade na Justiça Federal de Alagoas.

A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) analisou o histórico da advogada, mas não informa se encontrou ou não algum tipo de irregularidade, alegando que esse dado só é repassado ao interessado. A Abin esclareceu que essa análise não libera nem proíbe a contratação de nenhum servidor público.

A agência alegou que os bancos de dados não são interligados e, por isso, um processo nos estados pode não ser detectado. Mas, neste caso, o envolvimento da advogada com os sanguessugas é facilmente encontrado em sites de busca na internet.

Mesmo assim, a assessoria do governo de transição disse que a checagem da Abin não apontou problemas na ficha de Christiane e, por isso, ela foi contratada. A advogada, que trabalharia como secretária, recebendo um salário de R$2.600, telefonou ontem de manhã para o governo de transição e pediu demissão. A exoneração será publicada hoje no Diário Oficial da União.

"É "asnático"", diz secretário de Comunicação do PT

No PT, o episódio foi considerado um grave erro, principalmente pela ausência de uma checagem eficiente nos antecedentes dos indicados. Petistas disseram que o episódio causou um desgaste desnecessário.

- Uma coisa é certa: deveria ter mais cuidado antes da nomeação - disse o líder do governo, deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP).

Também no Congresso ninguém assumiu ser padrinho da indicação de Christiane. O secretário de Comunicação do PT, deputado André Vargas (PR), disse desconhecer a indicação e afirmou que foi um erro:

- Não faço a menor ideia de quem colocou essa moça lá. Mas isso é algo "asnático".

Como não se avaliou antes o currículo dela?

Até ontem, 25 pessoas já tinham sido nomeadas para o governo de transição, com salários entre R$2.115 e R$11.341. Podem ser nomeados até 50 funcionários, mas o presidente nacional do PT, José Eduardo Dutra, disse que serão 30 pessoas. Há previsão orçamentária de R$2,8 milhões para as despesas com o governo de transição.

Entre os contratados está a também advogada Márcia Westphalen, que teria trabalhado como cabeleireira em Porto Alegre e mantinha um blog sobre cabelos, tendências e dicas de visual. Segundo a assessoria do governo de transição, Márcia é advogada, formada pela PUC-RS, com registro na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), e foi contratada para coordenar as secretárias porque fala inglês, espanhol e italiano.

Márcia já exercia essa função na campanha e, segundo a assessoria, não trabalha diretamente com a presidente eleita e nem trabalhará. O governo de transição disse ainda que a advogada tem experiência nas áreas de cerimonial e organização de eventos, já tendo exercido essas funções no Brasil, na Argentina e na Inglaterra. Ela receberá R$6.843.

Os responsáveis pela equipe de transição de governo não informaram quem é o responsável pela análise do currículo dos contratados nem quem envia as indicações para serem homologadas pela Casa Civil. A Casa Civil também não informou quem encaminhou as pessoas a serem contratadas pelo governo de transição. O responsável pela nomeação de Christiane não apareceu.

Alguns dos nomeados até agora trabalhavam no Palácio do Planalto, como Clara Ant, Giles Azevedo, Cleonice Dorneles, Sinval Alan Silva e Anderson Dorneles - os últimos quatro auxiliares diretos de Dilma Rousseff. Outros estavam na campanha petista, como Christiane e Márcia.

Além dos coordenadores como Antonio Palocci, José Eduardo Dutra e José Eduardo Cardozo, a equipe de transição da presidente eleita já contratou a assessora de imprensa Helena Chagas e o fotógrafo Roberto Stuckert Filho - ambos também já trabalhavam na campanha da petista.

Pai de Christiane é pastor e faria "curas" em AL

Christiane é filha de Elói Correia de Oliveira, pastor da Igreja do Tabernáculo do Deus Vivo (chamada também de Igreja Nova), uma segmentação dos evangélicos. Entre evangélicos de Alagoas, o pastor não é bem visto, e alguns o consideram como uma espécie de curandeiro. Ele tem um templo no bairro de Cruz das Almas. Lá, faria "curas". O pastor não tem influência em Brasília, mas é bem conhecido entre políticos alagoanos.

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